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BRASILEIRA DE IMUNOLOGIA
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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Hurdles



Eu lembro quando comecei a estudar imunologia tumoral, como fiquei fascinada pelos tumor infiltrating lymphocytes, os TILs. Essas células eram identificadas em todos os tumores mostrando uma interação intima entre a resposta imune e o tumor que crescia. Contudo, todos os patologistas com quem eu conversava sobre isso eram unânimes – o infiltrado tumoral, como eles chamavam, não servia para predizer prognóstico, não tinha nenhuma utilidade prática no acompanhamento dos pacientes de câncer. Um desapontamento, concluíam. Para eles, o imunoediting – o estudo de como os tumores se reinventam para escapar da resposta imune – é uma hipótese. Eu continuava acompanhando a literatura e os imunologistas continuavam estudando o infiltrado, e tentando desenvolver imunoterapia para tumores. Como estavam afastadas, pensei eu, a academia e a vida real.

O acompanhamento dos pacientes usa classificações conhecidas como estadiamentos, I, II, III e IV, do sistema TNM – que considera Tamanho, Número de linfonodos comprometidos, e existência de Metástases. Não se considera o infiltrado. Contudo, em 2006 foi publicado na Science  um artigo por Galon et al, analisando mais de 500 tumores de intestino mostrando que a densidade de células T de memória infiltrando o tumor era o único fator preditivo independente para o prognóstico do paciente, superior ao sistema TNM. Mostraram também que a assinatura TH1 essas células era protetora nos pacientes. Depois disso, o boom do tratamento de tumores com anticorpos monoclonais – como a herceptina e o rituximab, e mais recentemente, o anti-CTLA-4, do Jim Allison, sobre o qual postei antes, não apenas deixou a imunoterapia mais próxima da clinica, mas mostrou que a infiltração de tumores por células T regulatórias era um ponto crucial no tratamento de câncer. Aprendemos ainda sobre os macrófagos M1 e M2, estes últimos que ajudam a semear as metástases, e mas recentemente, os neutrófilos N1 e N2, os “2” sendo produtores de TGF-beta e arginase, inibindo a função de linfócitos T CD8+.  Nós chegamos a publicar uma revisão de mecanismos imunossupressores dos tumores – gente, não acaba nunca! É impossível que tantas estratégias tumorais sejam empregadas, contra um fator que não seja importante na modulação do crescimento tumoral.

Estudos do mesmo Galon, poblicados em 2011 no Journal of Clinical Oncology, faz novamente analise em duas coortes independentes de pacientes de tumor de intestino, considerando agora o infiltrado de células T reg, mostrando a força preditiva dessa analise, que chamam de immune score. Como, eu pergunto, isso não está incorporado ao acompanhamento de pacientes na clinica?

No final de 2011, o Pawelec, que veio no congresso de 2010 e é editor da Cancer Immunology Immunotherapy me colocou em contato com um grupo que estava preparando uma declaração de princípios sobre os principais problemas enfrentados atualmente para traduzir a pesquisa em imunologia tumoral para o dia-a-dia do tratamento de pacientes de câncer. O grupo incluía o próprio Pawelec, o Galon, o Fridman (que esteve em 2009 no congresso da SBI em Salvador, a convite do Kalil), o Jim Allison, o Trinchieri  (o descobridor da IL-12 e hoje diretor do National Cancer Institute), entre outros. Essa declaração era chamada por eles “ the hurdles manuscript”, agora publicado no Journal of Translational Medicine. Hurdle quer dizer obstáculo ou barreira, tipo na corrida com obstáculos. Entre eles, o tempo enorme entre o desenvolvimento de uma terapia e  seu uso efetivo na clinica. A limitação dos modelos animais e sua efetiva similaridade com o que ocorre em humanos. O fato de os critérios convencionais de clinica não levarem em conta os padrões de resposta a tratamento citotóxico versus os observados com imunoterapia. A falta de interação real entre grupos de pesquisa e clinica buscando efetivamente traduzir os marcos obtidos no laboratório, para a vida real. A limitação de recursos para manter esses grupos.

Enfim. Existe uma sociedade internacional de imunoterapia de câncer – a SICT (http://www.sitcancer.org)  – que quer organizar sociedades nacionais desse assunto – num esforço mundial de mudar esse panorama.  Vamos trazer esse pessoal aqui pro Brasil, talvez numa ESCI do congresso, e integrar essa mudança de paradigma. Vamos nos informar mais sobre isso, informar nossos colegas clínicos, chamar a atenção do Ministério da Saúde, contar que isso existe, colocar o INCT do Câncer a participar disso. Eles querem nos conhecer. Nós, que  temos conhecimento do quanto isso pode modificar vidas, temos que ajudar a eliminar esses obstáculos, antes que eles eliminem a gente.

Leituras
Galon J, et al:Science 313:1960-1964, 2006
de Souza AP, Bonorino C. Expert Rev Anticancer Ther. 2009 Sep;9(9):1317-32
Fox et al, Journal of Translational Medicine 2011, 9:214

domingo, 29 de abril de 2012

Journal Club Iba: O Papel Adjuvante dos Anticorpos



                Algumas funções dos anticorpos, tais como neutralização, marcação para ADCC, opsonização e ativação do sistema complemento, são conhecidas há décadas. Essa semana a discussão do nosso Journal Club envolveu uma nova função atribuída aos anticorpos - o papel de adjuvante. Em meados da década de 70, a descoberta e o advento de técnicas que possibilitaram a produção de anticorpos monoclonais (mAbs) revolucionou a ciência e a medicina. Suas aplicações incluem técnicas de imunodiagnóstico, avaliação e identificação de marcadores fenotípicos que, até hoje, é uma das ferramentas mais utilizadas nas pesquisas em imunologia, além do uso terapêutico no tratamento de doenças autoimunes e do câncer. Sua utilização no tratamento de tumores tem gerado uma grande variedade de anticorpos sejam quiméricos, humanizados, ou mesmo humanos contra diversos alvos terapêuticos. Atualmente é possível inibir fatores de crescimento, bloquear receptores envolvidos no desenvolvimento de tais células, gerar anticorpos ligantes de marcadores tumorais específicos associados a drogas ou quimioterápicos, além de muitas outras estratégias relacionadas à essa idéia.

                  Sabendo que a maioria dos microambientes tumorais são imunossupressores, a utilização dos anticorpos monoclonais objetivando receptores de ativação foi uma ferramenta promissora. A ideia inicial era contrabalancear esse ambiente gerando uma resposta efetora. Um desses receptores alvo é o CD40, membro da superfamília dos receptores do fator de necrose tumoral (TNF). Vários estudos então, utilizando anticorpos contra esse receptor, mostraram que era possível gerar uma ativação indireta de células T CD8 funcionais no combate ao tumor. No entanto em março de 2011, o trabalho de Beatty e colaboradores revelou que mesmo utilizando um anticorpo agonista de CD40, nem sempre é gerada uma resposta via linfócitos citolíticos. Os autores, trabalhando com pacientes e modelos experimentais de tumores pancreáticos, provaram que a terapia é efetiva, mas por ativar diretamente macrófagos. Esses leucócitos migram para a região tumoral com um fenótipo diferente dos macrófagos residentes e desenvolvem um mecanismo de citotoxicidade direta sobre as células tumorais. A terapia com o agonista de CD40 para alguns pacientes foi responsável pela eliminação das metástases observadas previamente.

                  Foi então que Li e Ravetch (2011), também utilizando um anticorpo monoclonal agonista de CD40, propuseram o papel adjuvante de uma imunoglobulina. O mais interessante do trabalho é que, para terem essa função, os anticorpos precisavam interagir com o receptor inibidor FcγRIIB. Através de uma estratégia de entrega de antígeno às células dendríticas, associado à função do agonista de CD40, foi possível amplificar uma resposta de células T CD8 antígeno-específicas. Os autores provam que a interação do Fc desse agonista com o receptor inibidor é fundamental para atividade observada. Utilizando vários camundongos transgênicos para a expressão de receptores humanos, e também anticorpos com afinidades alteradas dos seus Fcs aos receptores, os autores de uma maneira elegante comprovam essa teoria. No entanto, o mecanismo pelo qual a sinalização do receptor inibidor FcγRIIB resulta na ativação da célula ainda não foi esclarecido, mas sugere-se que a fosfatase inositol SHIP pode ser o mecanismo responsável por este feito adjuvante do anticorpo, uma vez que ela também é requerida para a maturação de células dendríticas. Sabe-se que a via FcγRIIB requerida para a atividade do anti-CD40 pode ser comum para outros membros da superfamília de receptores do TNF (TNFR).  Sendo assim, o desenvolvimento de mAbs visando otimizar a sua capacidade de interação à essa família de receptores poderia ser a chave para o desenvolvimento de terapias envolvendo anticorpos monoclonais, ainda mais efetivas do que as já disponíveis atualmente. 



Post de Eduardo Crosara, Thais Herrero, Milena Espíndola. 

sábado, 28 de abril de 2012


URGENTE
VAGA: Pós-Doc em Imunologia no Laboratório Integrado de
Imunobiologia, Depto. de Imunologia, IMPG- UFRJ.
Bolsas:
01- PAPDRJ-CAPES/FAPERJ (5 anos) a ser solicitada.
02- CAPES (2 anos) bolsa já concedida, seleção imediata.
Projeto: “Papel dos receptores TLR e da molécula MyD88 na
resposta imune a tripanosomatídeos: controle da resposta
inflamatória e modulação da ativação e diferenciação de
linfócitos T”
Local: Laboratório Integrado de Imunobiologia – CCS Bloco D, Sala
D1-35 -Cidade Universitária, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, RJ Tel:
(21) 2562-6748 ou 25608344 ram.156
Supervisão: Maria Bellio
Início: junho 2012 (CAPES) / julho 2012 PAPDRJ (CAPES/FAPERJ)
Perfil: Doutorado em imunologia (de preferência), ciências biológicas
e afins. Interesse em pesquisa básica e habilidade para trabalhar em
grupo, além de iniciativa, são fundamentais. Capacidade de escrever
projetos, relatórios e artigos científicos e orientar alunos de iniciação
científica. Dedicação exclusiva. Possibilidade de trabalhar
eventualmente em fins de semana e feriados.
Experiência técnica desejada: cultura de células, citometria de
fluxo, PCR, Western blot, ELISA.
Contato: enviar por email para Maria Bellio urgentemente
(mariabellioufrj@gmail.com):
CVLattes, endereço, telefone, carta de recomendação de exorientador
e/ou supervisor, uma lista de técnicas que domina e um
parágrafo sobre seus interesses científicos.
Requisitos para os candidatos à bolsa PAPDRJ (CAPES/FAPERJ):
a) ser brasileiro ou possuir visto permanente no País;
b) estar em dia com as obrigações eleitorais;
c) possuir currículo registrado e atualizado na Plataforma Lattes que
demonstre capacitação suficiente para desenvolver o projeto;
d) dedicar-se integralmente e exclusivamente às atividades do projeto;
e) não ter vínculo empregatício;
f) não ser aposentado;
g) ter obtido o grau de doutor há, no máximo, 5 (cinco) anos, quando do
momento da eventual concessão da bolsa;
h) estar de posse do seu diploma de doutorado ou de cópia de ata que
comprove o grau de doutor; em caso de diploma obtido em instituição
estrangeira, este deverá possuir o reconhecimento de validação, conforme
dispositivo legal; a proposta também poderá ser aceita no caso de o
solicitante
estar com defesa de Tese de Doutorado marcada para, no máximo, 30 de
junho de 2012, desde que seja anexado documento comprobatório dessa
situação, devidamente emitido pelo programa de pós-graduação; neste
último
caso, a bolsa somente poderá ser implementada mediante a apresentação
da
certificação do programa de pós-graduação de que a defesa da Tese foi
efetivamente realizada, com a aprovação do candidato; se a defesa de Tese
ainda não tiver ocorrido até essa data (30 de junho de 2012) o proponente
perderá o direito à bolsa eventualmente concedida;
i) estar apto a iniciar as atividades relativas ao projeto tão logo seja
aprovada a sua candidatura pela CAPES e pela FAPERJ,
não sendo aceitas quaisquer solicitações para postergar esse início.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Anthony Fauci – 30 anos de Aids


Eu ia escrever (aliás, até escrevi) um blog sobre problemas na ciência (falta de reprodução, etc), mas depois achei que estava tudo muito negativo e resolvi comentar sobre algo positivo.

Em abril esteve aqui em Stanford o Anthony Fauci, diretor do National Institute of Allergy and Infectious Diseases, e deu uma palestra sobre o que ele chamou de ‘fim da Aids’, ou melhor, de que, na opinião dele, o fim da epidemia de Aids está à vista. Claro que o papel dele é vender o seu peixe da melhor maneira possível, mas tem sido uma jornada impressionante, e aqueles que como eu estavam na faculdade durante os anos 80 provavelmente não imaginariam que poderíamos escrever hoje sobre este tema. Ainda lembro do clima ‘peste medieval’ quando se falava em Aids, e de ver um anúncio sobre uma palestra na USP, sobre a possibilidade do final de humanidade devido à Aids.

Os primeiros relatos sobre pneumonia em homosexuais apareceram em 1981, e o resto é história. Fauci lembrou que no início da epidemia, os pacientes nao viviam mais do que 6 ou 8 meses após o diagnóstico inicial. Mas hoje, um paciente HIV-positivo de 25 anos pode ser tratado com uma pílula por dia e ter uma expectativa de vida de 50+ anos de vida. Segundo Fauci, há poucas histórias de sucesso como esta (pelo menos recentemente), e representa um sucesso dos investimentos na pesquisa biomédica. Progresso feito tanto na pesquisa básica e também na ‘aplicada’ (não gosto muito desta separação). Claro que com umas brigas homéricas no meio…Fauci acredita que chegaremos a uma geração livre do HIV em um futuro não muito distante.

Hoje em dia, 34 milhões de pessoas estão infectadas com HIV no mundo. Nos EUA, em torno de 1.2 milhões de pessoas são HIV positivas, com 50.000 novos casos por ano – ‘vergonhoso’ segundo Fauci. Os homosexuais masculinos continuam sendo o mais importante grupo de risco.

Segundo Fauci, nos EUA estimam-se que 20% das pessoas infectadas com HIV não sabem que estão doentes, e o desafio é não só tratar os casos novos mas também identificar e tratar estes casos que estão escapando detecção. Ele estima que para cada pessoa que recebeu tratamento antiretroviral em 2010, 2 outras pessoas foram infectadas pelo vírus.

Ele descreveu entusiasmado um estudo que segundo ele pode mudar este quadro, publicado ano passado no New England Journal of Medicine e que mostrou que o tratamento antiretroviral diminuiu a transmissão heterosexual em 96% (Cohen et al, 2011). Este estudo foi selecionado pela Science como o “scientific breakthrough of the year” em 2011.

Outra área de progresso notável é na transmissão do vírus da mãe HIV-positiva para o bêbe. Nos EUA, com tratamento o índice é quase zero. Outras medidas importantes para mulheres podem vir a ser o gel vaginal, ou um anel vaginal, contendo antiretrovirais, mas ainda em desenvolvimento.

Para os homens, a circuncisão, que reduziu o risco de infecção em até 60% em estudos iniciais. Os últimos resultados indicam que em 5 anos houve uma prevenção de até 73% da infecção por HIV.

Claro que ele comentou que na vida real a coisa não é sempre tão simples. O primeiro desafio é o diagnóstico, depois o acesso ao tratamento e a continuidade deste tratamento. E aí, claro, não é só a pesquisa biomédica que está em jogo. Muito da palestra foi sobre a África, onde mesmo em países pobres como Ruanda se encontram histórias positivas.

Tem até mesmo um caso do primeiro paciente ‘curado’ de Aids. Um americano (que agora mora aqui em San Francisco) sofria de Aids e leucemia (desgraça pouca é bobagem…) e recebeu um transplante de medula óssea na Alemanha (Allers et al, 2011). O HIV está sumido até agora. O truque foi um transplante com células CCR5∆32/∆32, que são naturalmente resistentes ao HIV CCR5-trófico. Não é uma estratégia viável de tratamento em massa, mas como demonstração de que o vírus pode vir a ser eliminado. E não vamos esquecer de que a história da Aids no Brasil também tem muitos aspectos positivos.

Ainda não temos uma cura definitiva para Aids, e o alcance do tratamento ainda deixa a desejar, mas considerando onde estavámos 30 anos atrás, o progresso tem sido realmente impressionante, graças, em grande parte, ao trabalho de muita gente nos laboratórios do mundo.


Cohen et al
Prevention of HIV-1 Infection with Early Antiretroviral Therapy. N Engl J Med 365:493.

Allers  et al
Evidence for the cure of HIV infection by CCR5∆32/∆32 stem cell transplantation. Blood 117: 2791-2799.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Restringindo IL-17: Del-1 é o responsável por esta façanha!


O recrutamento de neutrófilos para o sítio inflamatório é um processo bem controlado, que permite um mínimo de patologia e um máximo de proteção. A IL-17  é uma citocina conhecida por sua capacidade em induzir G-CSF e quimiocinas do tipo CXC, mediadoras do recrutamento de neutrófilos para o sitio de infecção e inflamação.. Além disso, a indução de G-CSF mediada por IL-17 também resulta na diferenciação de progenitores CD34+ em progenitores neutrofílicos, mantendo assim o influxo de neutrófilos nos sítios crônicos inflamatórios.
Assim, diferentes fatores têm sido identificados, responsáveis pelo recrutamento destas células nos processos crônicos de inflamação. Mas, quais seriam os fatores responsáveis por regular e restringir o recrutamento de neutrófilos, limitando a inflamação crônica e a doença associada a esta condição?Na  Nature Immunology  de maio de 2012,Chevakis et al., identificaram tal molécula, Del-1 (developmental endothelial locus-1), e mostraram que Del-1 inibe a expressão de IL-17, suprimindo o recrutamento de neutrófilos e a patologia associada à inflamação no modelo da periodontite.
A periodontite é uma condição inflamatória crônica que afeta os tecidos que apóiam os dentes chamado periodontum e causa perda dentária em cerca de 15% dos adultos. Embora a doença seja iniciada pela infecção bacteriana da subgengiva, a resposta inflamatória  resultante , caracterizada em parte pelo recrutamento de neutrófilos, é responsável pela patologia. Interessante, que até agora não existe consenso sobre o papel da IL-17 neste contexto, se ela possui papel protetor ou destrutivo na periodontite. Assim, camundongos knockout  para o receptor da IL-17 possuem um recrutamento menor de neutrófilos em um modelo de periodontite causado por patógeno, levando a uma menor resistência à infecção nestes animais. Por outro lado, a IL-17 pode induzir vários genes que codificam moléculas envolvidas na osteoclastogenesis e podem agir em sinergia com outras citocinas pró-inflamatórias , mediando a destruição do osso durante condições inflamatórias crônicas. Além disso, a expressão de IL-17 é maior durante a periodontite humana, sugerindo um papel patológico para a IL-17. No trabalho publicado na Nature Immunology ( Eskan ET AL, volume 13 , May 2012), os autores mostram que a IL-17 é patológica na periodontite e restringir sua ação contribui para a saúde periodontal.. Os autores utilizam um modelo, no qual camundongos velhos desenvolvem periodontite espontânea caracterizada pela infiltração de neutrófilos e associada com a perda óssea da mandíbula, que lembra a ocorrência natural de periodontite grave em seres humanos idosos. . Neste modelo, os autores observaram que o influxo maior de neutrófilos na gengiva de camundongos velhos está associado com a expressão menor de Del-1. Del-1 regula negativamente o extravasamento de neutrófilos por antagonizar com a adesão dependente da integrina b2  dos neutrófilos no endotélio vascular, Assim, camundongos deficientes em Del-1 mostraram mais perda óssea periodontal associada com maior recrutamento de neutrófilos e uma típica assinatura dos genes induzidos por IL-17 na gengiva, ou seja indução de IL-17A, IL-17F e IL-17C e moléculas responsáveis pela codificação das quimiocinas CXC e seu receptor CXCR2, alem do G-CSF. Eles também detectaram maior expressão do receptor ativador RANKL e maior atividade osteoclástica nos camundongos velhos e deficientes de Del-1. A expressão diminuída de Del-1 e a maior expressão de IL-17 também está associada ao tecido gengival doente, obtido de pacientes humanos , mas não de gengivas saudáveis, obtidas de pacientes com periodontite. Estes dados mostram pela primeira vez que Del-1 pode regular negativamente e restringir a ação da IL-17, limitando o recrutamento de neutrófilos e a perda óssea mediada pela inflamação. Para testar esta hipótese definitivamente, os autores cruzaram camundongos deficientes do receptor de IL-17 (il17ra-/-) com camundongos deficientes de Del-1 (Edil3-/-) e mostraram que estes camundongos duplamente deficientes apresentaram menos recrutamento de neutrófilos e são completamente resistentes ao desenvolvimento da periodontite espontânea que se desenvolve nos camundongos Edil3-/-. Os camundongos apresentam maior expressão do mRNA de Del-1 na gengiva, o que também sugere que IL-17 também é responsável pela regulação da expressão de Del-1. Além disso, os autores geraram quimeras de medula óssea e mostraram que a ausência do receptor de IL-17 nas células não hematopoiéticas, provavelmente células estromais, resultam em maior expressão de Del-1 e impedimento coincidente no recrutamento de neutrófilos. Todos estes dados mostram claramente que Del-1 é o mais recente regulador identificado que restringe a produção de IL-17 e o recrutamento de neutrófilos, e por sua vez a IL-17 regula a expressão de Del-1.
Os autores ainda observaram que os camundongos Edil3-/- possuem um número de bactérias em suas gengivas similares aos camundongos selvagens, mas desenvolvem uma carga bacteriana maior aos animais selvagens quando adquirem o fenótipo inflamatório. Além disso, a composição da microbiota oral é qualitativamente e quantitativamente diferente na ausência de Del-1 e/ou LFA-1 e o receptor IL-17RA, o que colabora com a idéia que a genética do hospedeiro também influencia a microbiota oral. Os autores também mostraram que a periodontite é uma doença induzida por bactéria, pois o tratamento com antibióticos inibe a perda óssea em camundongos velhos Edil3-/-.
No modelo de periodontite espontânea, os autores observaram que células TCD4+ e  células gd co-localizam com IL-17 nas gengivas de camundongos Edil3-/-. Ainda observaram que nos camundongos mais velhos Edil3-/-,  quando o máximo de inflamação e o fenótipo da doença são evidentes , neutrófilos Ly6G+ são as células predominantes que co-localizam com IL-17. Embora os camundongos il17ra-/- tenham menor recrutamento de neutrófilos, eles ainda apresentam alta expressão de mRNA para IL-17 na gengiva, sugerindo que células gd e T CD4+são as principais fontes de IL-17.
Outro ponto importante abordado no trabalho seria o tratamento que poderia ser realizado em doenças inflamatórias crônicas, incluindo a periodontite. Neste sentido, os camundongos com periodontite receberam micro-injeções, na gengiva,de Del-1 na forma solúvel, o que foi capaz de suprimir a inflamação não somente restringindo a produção de IL-17 em camundongos velhos, mas também após a infecção com  o patogeno humano Porphyromonas gengivalis. A administração local ou sistêmica da proteina fusionada Del-1 e o fragmento Fc  (Del-Fc) é mais eficiente na diminuição da perda óssea periodontal quando comparado a outros inibidores que interferem com as interações LFA-1-ICAM-1,
Assim, estes dados sugerem que a maior expressão de Del-1 nos tecidos periodontais de camundongos jovens restringem a produção de IL-17 bem como o tráfico de neutrófilos dentro dos tecidos, em parte por seu efeito antagônico sobre LFA-1. Nos camundongos velhos ou durante a infecção com patógenos, a expressão de Del-1 é inibida e a de IL-17 aumentada. É possível que as células gd sejam as primeiras produtoras de IL-17, uma vez que expressam TLR e respondem a estimulação microbiana. . A apresentação de antígeno derivada da microbiota oral  resulta no acúmulo de células Th 17  específicas que produzem IL-17. Esta citocina age nas células estromais, as quais aumentam a produção de G-CSF e quimiocinas CXC, atraindo neutrófilos para o tecido inflamado. A IL-17 também age nas células endoteliais, via seu receptor IL-17R inibindo a expressão de Del-1, o qual posteriormente promoverá o extravasamento de neutrófilos dentro do tecido inflamado gengival e mais produção de IL-17 pelos neutrófilos. IL-17 e outras citocinas pró-inflamatórias induzem metaloproteinases e RANKL que por sua vez, induzem osteoclastogenesis, que resulta na perda óssea,
Será que Del-1 apresenta este mesmo tipo de ação em outras patologias que envolvem inflamação crônica? Certamente, futuros estudos serão dirigidos para esta molécula e outras envolvidas em sua regulação, que poderão constituir alvos terapêuticos.

Shabaana Khader- Nature Immunology Volume 13, number 5, May 2012 433-435
Eskan, MA ET AL., Nature Immunology 13, 466-473 (2012)

quarta-feira, 25 de abril de 2012

E o vento levou

Correntes de ar na atmosfera da Terra podem ser responsáveis pela disseminação de vírus através dos continentes.

Seasonal winds from central Asia could be bringing Kawasaki disease into Japan.

Em 1981 em Denver (Califórnia, EUA), a Dra. Jane Burns atendeu a uma mãe desesperada que deu entrada no hospital pediátrico da Escola de Medicina do Colorado (UCSD) com seu bebê doente, ambos vindos de Wyoming.

A menina apresentava febre alta e inúmeras erupções na pele. Após vários exames, o Dr. Richard Anderson, infectologista da UCSD, suspeitou que poderia ser um caso da doença de Kawasaki, uma misteriosa e incomum doença inflamatória que atinge principalmente crianças com idade inferior a 5 anos.

A doença é caracterizada por inflamação disseminada dos vasos sanguíneos causando uma série de sintomas drásticos (veja quadro abaixo).


A Dra. Burns ficou estupefata com a suspeita do infectologista, uma vez que a doença era pouco comum, mesmo no Japão onde foi descrita pela primeira vez na década de 60. De fato, a Dra. Burns apenas conhecia a doença devido à coincidência de estar no hospital onde, no ano anterior, foram identificados os dois únicos casos já registrados nos EUA. E agora, tudo indicava que ela havia encontrado o terceiro caso da doença.

Infelizmente, em menos de 12 horas após o diagnóstico da doença o bebê faleceu.

Fascinada pela misteriosa doença, Jane participou da autópsia da pequena menina e viu mais uma vez uma das características marcantes da doença, um aneurisma no coração.

“… I'll never forget opening up her chest and looking at her heart and seeing the aneurysms sitting there...”

Desde aquele dia em 1981, a Dra. Burns tem se dedicado ao estudo da doença de Kawasaki, sempre que consegue financiamento, é claro. Entretanto, ela não é a única. Para o Dr. Ian Lipkin, um epidemiologista do Center for Infection and Immunity da Columbia University em Nova York, a doença de Kawasaki é algo que tem fascinado pesquisadores em doenças infecciosas desde a sua descoberta. Segundo Lipking, é impressionante que ainda não fomos capazes de identificar o agente causador da doença.

No entanto, os epidemiologistas agora têm um novo local para investigar: as correntes de ar vindas da Ásia Central.

Na edição de Novembro de 2011 da revista Scientific Reports, uma equipe de médicos e cientistas climáticos, incluindo a Dra. Burns, mostraram que o suposto agente causador da doença de Kawasaki, não só viaja através das correntes de ar vindas da Ásia como também consegue atravessar o oceano Pacífico e infectar crianças no Havaí e no continente norte-americano.

Se a teoria do “Windbourne spread”, assim como chamada, se mostrar verdadeira, a doença de Kawasaki terá a primeira descrição de um patógeno viável capaz de atravessar milhares de quilômetros de oceanos por vias naturais (ao contrário da disseminação através de viajantes em aviões ou navios). E não pára por ai. Os cientistas estão começando a se perguntar se o vírus influenza (causador de vários tipos de gripe) poderia ser disseminado pela mesma forma.

A mais forte evidência que o grupo possui no momento é a observação de que o número de casos da doença de Kawasaki no Japão têm seu pico na estação em que os ventos mudam de direção, soprando da Ásia para o Japão. Quando o vento sopra na direção oposta, o número de casos cai drasticamente.

Como toda nova descoberta que desafia a convenção atual, o estudo tem sido alvo de questionamentos e críticas. Dentre elas, alguns microbiologistas rebatem que nas altitudes em que as correntes de ar se locomovem, a radiação ultravioleta e as temperaturas congelantes eliminariam quaisquer patógenos microbianos antes que estes tivessem uma chance de atravessar os oceanos e infectar alguém. Frente a esse questionamento, o grupo da Dra. Jane Burns se defendeu de forma descontraída e inteligente.

“…My background is molecular virology. When I preserve my viruses in the lab, what do I do? I desiccate them and freeze them at −80°C. Well, hello!!! Those are the conditions up in the troposphere…”

Além disso, as correntes de ar são carregadas de poeira. Se alguém observar um grão de poeira ao microscópio verá que ele pode conter um inteiro microuniverso. O grão de poeira é repleto de crateras, protuberâncias e reentrâncias que poderiam facilmente abrigar patógenos protegendo-os das radiações ultravioleta.

De fato, é perfeitamente aceitável que o vento possa carrear patógenos. Exemplos incluem a Coccidioidomicose, ou febre do vale, uma doença humana causada por fungo que aparece no sudoeste dos EUA após tempestades de areia ou quando terremotos sacodem a poeira (e esporos) do solo. E em distancias maiores, há evidências de que o fungo Aspergillus sydowii pega uma carona em tempestades de areia que se originam no continente africano e causam doenças em turistas nas ilhas do Caribe(1).

Finalmente, foi demonstrado após cultura de poeira capturada a mais de 18 Km de altitude, na estratosfera, que 10 – 20% de sua constituição é composta por microorganismos patogênicos (2).

No momento, o maior problema enfrentado pelo grupo para provar sua teoria é a ausência de um patógeno conhecido, já que o causador da doença de Kawasaki permanece desconhecido.

Para resolver esta questão, em março de 2011 um engenheiro, utilizando uma roupa protetora para prevenir contaminação, foi "acoplado" a um avião (não me pergunte como) e coletou amostras de ar através da rota Ásia-Japão na estação em que os casos da doença de Kawasaki estão em alta. O grupo agora irá realizar experimentos de metagenômica, que consistem em sequenciar todo o DNA encontrado nessas amostras para identificar quais microrganismos estariam presentes. Haja dinheiro.

Enquanto isso, quem será o agente causador da doença de Kawasaki,

"The answer, my friend...

         ...is blowing in the wind"

terça-feira, 24 de abril de 2012

Como escrever como um cientista

Figura do post original. CREDIT: Hal Mayforth


Por Adam Ruben
23 de março de 2012
Traduzido por Fabiano Oliveira
Eu não sabia se deveria tomar o conselho do meu orientador de Doutorado como um elogio ou não: "Você não escreve como um cientista", disse ele, entregando-me o relatório de progresso para uma bolsa que eu havia escrito. No meu mundo fantasioso, lágrimas vieram aos seus olhos, e ele disse: "Você é um poeta”! Na realidade, porém, ele quis dizer isto como uma crítica. Eu não escrevo como um cientista, e aparentemente isso é ruim.
Eu pedi um exemplo, e ele apontou para uma frase na primeira página. Veja aqui a palavra "Solitária". Isso não é linguagem cientifica. 
A palavra "solitária", como em "PvPlm é uma plasmepsin solitária no vacúolo alimentar do Plasmodium vivax." Era uma palavra proibida. Uma palavra não-científica. Uma palavra rebuscada, uma palavra lírica, uma palavra digna de - ugh - um estudante de letras.
Eu não queria ser poético. Eu tinha acabado de usar a palavra "somente" cinco ou seis vezes, e eu não queria usá-la novamente. Mas em sua mente, "solitária" deve ter conjurado imagens do PvPlm na borda de um penhasco, olhando para o abismo vazio, chorando suavemente para seus companheiros de protease aspártico. Ah, os bons momentos que compartilhávamos. Tardes passadas clivando proteínas. Manhãs preguiçosas decompondo proteínas nos seus aminoácidos constituintes num agradável pH acido. Infelizmente, solitária plasmepsin, esses dias acabaram.
Então eu mudei a palavra "somente". E doeu. Não porque "solitária" foi alguma vez uma frase mais bela, mas por causa da lição que aprendi: Qualquer palavra além do conjunto esperado - até mesmo uma palavra tão inofensiva como "solitária" - aparentemente não pertence à ciência.
Eu ainda sou bastante novo nesta coisa da ciência. Eu terminei o doutorado a menos de quatro anos, após os dias sombrios de pós-graduação e do orientador que não tolerou a palavra “solitária”.  Portanto, perdoe minha ingenuidade quando eu pergunto: Por que diabos não usar "solitária"?
Por que não podemos escrever como as outras pessoas escrevem? Por que não podemos contar a nossa ciência em histórias interessantes, dinâmicas? Por que devemos escrever friamente? (Ou, para reformular a última frase na voz passiva, como parece ser a moda científica, por que friamente deve ser escrito por nós?)
Certa vez, ensinei a duas classes de escrita cientifica em diferentes semestres. A primeira foi escrevendo sobre ciência onde os estudantes tinham se divertido encontrando projetos de pesquisa interessantes e escrevendo sobre eles. Um estudante visitou um laboratório onde os cientistas estavam construindo um mecanismo novo de direção de submarinos, inclusive deixando-a testar a nova direção em torno de um pequeno tanque. Outra submeteu-se a uma ressonância magnética e escreveu sobre a experiência.
Mas o segundo semestre era a escrevendo ciência para cientistas, em que eles aprenderam a escrever artigos para revistas científicas - e foi muito menos divertido. "Mantenha-o interessante!" Eu disse aos meus alunos durante o primeiro semestre. Para o meu segundo semestre, eu disse: "Bem, você não deve realmente mantê-lo interessante."
Nós somos ensinados que os artigos de revistas científicas são simplesmente diferente de todos outros escritos. Eles não estão escritos em Inglês, por si só, eles são escritos em Inglês minimalista destinado apenas para transmitir números e gráficos. Como tal, eles têm suas próprias regras. Por exemplo:
1. Os artigos científicos devem começar com um aceno obrigatório a sua própria relevância, geralmente citando figuras exageradas sobre a prevalência da doença ou outros desastres iminentes. Se sua pesquisa não realmente resolver um destes problemas, você tem que fingir que faz, porque afinal isso não impediu que você solicite verbas. Por exemplo, você pode escrever, "Vinte milhões de crianças morrem de sarna todos os dias. Por este motivo nós construímos um canguru robô! "
2. Usando a primeira pessoa em sua escrita humaniza seu trabalho. Se possível, portanto, você deve evitar usar a primeira pessoa na sua escrita. Ciência consegue avançar, apesar dos seres humanos e não por nossa causa, assim que você tem que fazer parecer que os resultados apareceram magicamente.
3. Algumas revistas, como a “Science”, oficialmente evitam a voz passiva. Outros imprimem apenas na voz passiva. Então, encontre um meio termo saudável, escrevendo na voz semi-passiva.
Exemplos:
Voz Ativa: Nós fizemos este experimento.
VOZ PASSIVA: Este experimento foi feito por nós.
SEMI-voz passiva: Feito por nós, esta experimento foi.
Sim, pois usando a voz semi-passiva, você vai querer imitar o Yoda. O Yoda, você vai querer imitar.
4. Quanto mais referências você incluir, mais erudito o leitor assumirá que você é. Assim, se você escrever uma frase como: "Muito trabalho tem sido feito nesta área", você deve planejar passar as próximas nove horas rastreando documentos, para que o seu artigo em última análise, leia: "Muito trabalho tem sido feito neste campo 1, 3,6-27 ,29-50 ,58,61,62-65 ,78-315 ,952-Avogadro. " Atenção, se você escrever um artigo de revisão, EndNote pode explodir.
5. Livros de gramática contém regras elaboradas sobre quando escrever números literalmente ou quando usar algarismos. Mas os números são realmente a única razão pela qual você está escrevendo o seu manuscrito, e você não quer que os leitores pensem que você está em algo tão pobre como palavras. Então certifique-se cada número é escrito unicamente em sua forma numeral - caso contrário, “1 day, you’ll awake 2 find that you’re 4got10”.
6. A maioria das revistas usar o verbo no passado. Para adicionar estilo à sua escrita, tente escrever o seu artigo inteiro no tempo verbal “condicional futurista interrogativo da terceira pessoa”. Em vez de: "Fizemos este experimento", você escreveria: "Será que estávamos fazendo este experimento?" Isso pode parecer mais complicado do que a escrita simples, mas o seu artigo não será provavelmente nem um pouco menos compreensível do que a maioria dos outros artigos em revistas científicas.
7. Sempre escreva "nós" em vez de "eu", mesmo se você executou a pesquisa você mesmo, o plural garante que nenhum sentimento será ferido quando o crédito é atribuído. Por exemplo, "Nós investigamos estes resultados, mas depois tivemos que usar o banheiro, que é onde nós nos sentamos quando nossos cônjuges sempre reclamam."
8. Lembre-se do seu público. É constituído principalmente por alunos de graduação que, daqui a 10 anos, irão incluir o seu manuscrito na sua própria coleção volumosa de referências sobrescritas. Então lembre-se deles, e faca seu nome fácil de soletrar.
9. Frases que começam com "obviamente" ou "como todo mundo sabe" demonstra a sua superioridade intelectual. Se possível, começar parágrafos com: ", como seres super-inteligentes como eu sabemos", ou "Abrace sua estupidez, aqui é um fato-bomba para você."
10. Seu manuscrito será revisado por pares, portanto inclua descrições lisonjeiras de todos os seus pares. 
11. Se você é co-autor do manuscrito, a sua notoriedade deriva da ordem de autores e não do conteúdo do seu trabalho - por isso certifique-se de ter debates veementes e mesquinhos sobre qual nome vai primeiro. Aqui estão as regras gerais para a autoria:
Primeiro autor: Exausto estudante de doutorado que passou horas fazendo o trabalho.
Segundo Autor: estudante de mestrado ressentido que pensa que ele ou ela passou horas fazendo o trabalho.
Terceiro Autor: Estudante de iniciação e portanto feliz por ser nomeado.
Quarto autor: Colaborador que ninguém jamais viu, cujo nome está incluído apenas por razões políticas.
Quinto autor: Pós-doutorando que uma vez fez uma observação casual sobre o assunto.
Sexto autor: por algum motivo, Vladimir Putin.
Último Autor: investigador principal, cujo laboratório financiou o projeto, mas que não passa por uma bancada de laboratório faz décadas, exceto para aquela sessão de fotos para algum tipo de propaganda, e até então fica óbvio que ele ou ela não sabiam onde encontrar as coisas básicas (luvas) no laboratório.
Muitos cientistas veem a escrita como meios para alcançar um objetivo, o plástico bolha da embalagem necessário para assegurar os dados a serem dispersados no mundo. Eles odeiam frases de estruturadas tanto quanto eles odeiam, digamos, metáforas sobre  embalagens com plástico bolha.
Mas se há uma razão por que artigos de revistas científicas tendem a ser secos, é porque nós os escrevemos dessa forma. Esperamos que os dados constituam uma história interessante por si só, mas todos nós sabemos que normalmente não é assim. Eles precisam de nós, as pessoas que entendem a sua profundidade e charme, para enquadrá-los e explicá-los de maneiras interessantes.
Este é, de fato, um dos aspectos mais atraentes da ciência: Nós somos mais do que apenas as pessoas que pipetam. Somos defensores “solitários”, que construimos e contamos histórias sobre a nossa ciência. Eu não consigo pensar em uma nenhuma carreira “solitária” melhor.

Adam Ruben, Ph.D., is a practicing scientist and the author of Surviving Your Stupid, Stupid Decision to Go to Grad School.
10.1126/science.caredit.a1200033
http://sciencecareers.sciencemag.org/career_magazine/previous_issues/articles/2012_03_23/caredit.a1200033
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