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quarta-feira, 31 de julho de 2013

Quem se importa com o Índice de Impacto?



De uns tempos para cá, virou moda usar o chamado Índice de Impacto (Impact Factor, IF) como medida de qualidade em publicação científica1,2. Não só isso. Publicação em revistas com elevado IF virou critério para financiamento em pesquisa, contratação em grande universidades e até mesmo para concessão de bônus salariais! Todo mundo fala, todo mundo usa, mas será que todo mundo realmente sabe do que está falando?

O que é o Índice de Impacto?

A atual métrica que você vê anunciada como Impact Factor é uma medida calculada por uma empresa privada, a ThomsonScientific (anteriormente chamada Institute of Scientific Information, ISI)3. Ela compila informação disponível nos bancos de dados públicos e nas próprias publicações científicas, e baseada nisso, calcula uma série medidas. A mais famosa, o IF, é calculado como a média do número de vezes que um artigo publicado nos dois anos anteriores foi citado no ano em questão. Por exemplo, se o IF é calculado em 2012, a medida leva em consideração as citações feitas entre 2010 e 2011. Como qualquer empresa privada, A Thomson vende os resultados às partes interessadas (editores, empresas, universidades, centros de pesquisa, etc).

De onde surgiu o Índice de Impacto?

O IF foi idealizado como uma medida útil em biblioteconomia. A ideia era ajudar as bibliotecas, com um orçamento limitado, a selecionar que revistas elas iriam assinar no próximo ano. Isso nos anos 70, quando (pasme) ainda não havia pubmed ou internet e as pessoas ainda iam a bibliotecas3.

Como se calcula o Índice de Impacto na prática?

Aha. Prepare-se. O numerador é um somatório de todas as “citações detectáveis a uma determinada revista” nos dois anos anteriores. O denominador é o somatório de todas as citações a “artigos primários e revisões” nos dois anos anteriores. Simples, não – você pode pensar. Na verdade é um pouco mais complicado. Talvez você já tenha observado que algumas revistas publicam somente artigos contendo novos dados (os chamados artigos primários) e revisões. Outras, publicam além destes, os chamados front matter – comentários, editoriais, news & views, notícias científicas, até obituários (dentre outros). Tudo isso é contado como citação no cálculo do numerador do índice de impacto, mas não há correspondência do denominador. Isso significa, que revistas que publicam um grande número de artigos do tipo front matter, naturalmente sairão na vantagem na hora do cálculo do IF e terão seus IF inflacionados por razões outras que a qualidade e número de citações de seus artigos primários. É interessante notar também que a definição de artigo primário, revisão ou front matter é feita à mão, pelos funcionários da Thomson.

Dá para confiar nos resultados?

Tudo que tenho a dizer é que em 2007, A Rockefeller University Press (RUP), que publica dentre outros, o Journal of Experimental Medicine, decidiu comprar os dados primários, os quais segundo relato da Thomson, foram usados para calcular os IF para aquele ano. A RUP não conseguiu reproduzir os resultados divulgados pela Thomson4,5.

Okay, considerando que o IF é confiável, o quê aquele número realmente significa?

Veja só. O problema é querer associar o índice de impacto de uma revista com a qualidade dos artigos que ela publica. Alguns exemplos. Em 2005, a Nature publicou um editorial mostrando que 89% de todas as citações recebidas em 2003 e 2004 (usadas para calcular o IF 2005) vieram de apenas 25% dos artigos publicados naquele período6. Em 2009, a Nature Protocols publicou um artigo, que sozinho, foi citado mais de 3000 vezes somente naquele ano. Não surpreendentemente, o IF da revista foi às alturas nos dois anos seguintes7. Em 2007, um estudo publicado na PLoS One, comparou o número real de citações de artigos sobre evolução publicados em revistas especializadas em evolução, versus revistas com escopo mais amplo (como Science ou Nature)8. Resultado: não há diferença. O resumo da ópera é que o cálculo do Índice de Impacto não leva em considerações distorções na distribuição das citações. Muitos artigos publicados em revistas com alto IF não contribuem em nada para aquele IF – ou seja, não são citados!

Where to go?

Agora vem a melhor parte. Os editores de revistas importantes como Science, Nature, Cell ou Journal of Experimental Medicine, importam-se muito pouco com o Índice de Impacto. Não é que eles não se preocupem com citações1. Mas a preocupação é primariamente com a importância e com qualidade do que é publicado.  É verdade que alguns editores jogam o “jogo do fator de impacto” mais agressivamente que outros, para capitalizar suas publicações. Mas o grande vilão do mau uso do fator de impacto é a própria comunidade científica. Nós cientistas, que estamos na bancada e fazemos escolhas de para onde mandar os nossos artigos baseadas nesse índice. Ou que julgamos o trabalho dos outros baseado nele. Ou que opinamos favoravelmente ou desfavoravelmente num pedido de financiamento, levando em consideração o índice de impacto das publicações no curriculum do proponente – e não o impacto real da pesquisa do fulano no seu campo de estudo.

Em tempos de redes sociais, compartilhamentos, fluxo ultra-veloz de informação, outras medidas vão aparecer. Na realidade, a PLoS e a Cell Press já usam há alguns anos o Altmetrics9, uma forma de medida de impacto que agrega visualizações do conteúdo, compartilhamento em redes sociais e comentários dos usuários. O ponto mais importante é que nenhuma medida objetiva vai substituir uma análise criteriosa da importância de uma contribuição científica.  É nisso que a comunidade científica precisa investir. Propostas como o F1000, onde membros da comunidade comentam  de forma independente a importância do trabalho de seus pares, são um bom caminho. Não há solução única para uma questão tão complexa, mas já passou da hora da comunidade científica se engajar mais ativamente nessa discussão e parar de se importar tanto com um número tão cheio de problemas.


João Monteiro 
______________________

Leia mais:

     1.  Marcus, E. June is the Cruelest Month. Cell. July 2 2013. 154:9
     2.  The PLoS Medicine Editors. The Impact Factor Game. PloS Medicine. June 2006. 3:e291.
     3. Joint Committee on Quantitative Assessment of Research. Citation Statistics. Corrected version  June 12 2008.
     4. Rossner, M. Van Epps, H. Hill, E. Show me the data. JEM. Dec 24 2007. 204:3052.
     5. Rossner, M. Van Epps, H. Hill, E. Irreproducible results: a response to Thomson Scientific. JEM. Feb 18 2008. 205:260.
     6. Editorial. Not-so-deep impact. Research assessment rests too heavily on the inflated status of impact factor. Nature. 435:1003. 2005.
     7.  Surridge, C. IF all over again. Nature Protocols blog. 21 Jun 2013.
     8. Postma, E. Inflated Impact Factors? The True Impact of Evolutionary Papers in Non-Evolutionary Journals. PLosOne. October 2007. 10:e999.
    9.  Strasser C. The Future of Metric in Science. Data Pub blog. April 6 2012.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Imunossenescência: um produto do ambiente ?


Fonte: http://www.123rf.com/photo_16678396_abstract-word-cloud-for-immunosenescence-with-related-tags-and-terms.html


Todos os esforços da humanidade parecem estar voltados para três objetivos principais: viver bem, viver muito e reproduzir-se. Estes esforços, algumas vezes, infelizmente, não levam aos objetivos desejados, mesmo considerando que o desenvolvimento da ciência e tecnologia possibilitou uma maior longevidade, particularmente no campo da prevenção e controle de doenças. O didaticamente concebido “sistema imunológico” tem um papel essencial na prevenção, no controle de doenças, na vida. A imunologia iniciou-se com a observação de que pessoas acometidas de determinadas doenças, quando sobreviviam a estas, desenvolviam um estado de proteção aumentada e específica para a doença. Naquele tempo, os micro organismos ainda “não existiam”, porque não tínhamos como percebê-los. Assim, para a ciência, tudo que existe é porque percebemos. Talvez o principal problema intrínseco ao próprio sistema imunológico seja o da percepção do “Quem eu sou?”. Aumentando nossa capacidade de perceber e de montar esquemas provisórios de funcionamento do sistema imunológico, desejamos intervir, reduzir o sofrimento e evitar a morte “precoce”. Ansiosos por controlar cada vez mais a natureza, o processo de envelhecimento, começamos a conhecer e a intervir cada vez mais em complexos mecanismos, dentre estes, o sistema imunológico. Brincando com fragmentos deste enorme quebra-cabeça de dimensões desconhecidas, como crianças, sonhamos, fazemos ilusionismos e, envaidecidos, vivemos. Colocando algumas peças, contribuímos para materializar sonhos daqueles que nos antecederam e dar esperança para aqueles que nos sucederão. A imunossenescência é um fragmento deste quebra-cabeça que deve ser explorado. O artigo com link abaixo, publicado no Current Opinion in Immunology (Available online 25 June 2013), trata exatamente dessa correlação: ambiente, senescência e sistema imunológico.




Post do Prof. Dr. José Ajax Nogueira Queiroz
Professor Associado IV – Departamento de Patologia e Medicina Legal/Setor de Imunologia
Universidade Federal do Ceará


domingo, 28 de julho de 2013

Uma má notícia para os amantes do churrasquinho de domingo



Em um domingão como hoje, uma carne vermelha suculenta na brasa daria água na boca de muita gente. Não é novidade que o alto consumo de carne vermelha associa-se com o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares (CVD) em decorrência da grande quantidade de gorduras saturadas e colesterol que ela apresenta. No entanto, o que não se sabia é que a sua própria microbiota intestinal é que desencadeia os malefícios do consumo da carne vermelha.
Já faz um bom tempo que a microbiota deixou de ser vista apenas por estar relacionada à saúde intestinal, função imune e bioativação de nutrientes e vitaminas. Recentemente, Koeth e colaboradores (aqui) mostraram que existe uma associação entre o metabolismo da dieta pela microbiota e a patogênese de CVD. O trabalho mostra claramente que a L-carnitina, uma amina presente na carne vermelha, é metabolizada pela microbiota gerando trimetilamina (TMA) e trimetilamina-N-óxido (TMAO), produtos conhecidamente pró-aterogênicos.
Os hábitos alimentares de onívoros/carnívoros e vegetarianos/veganos estão associados a alterações na composição da microbiota intestinal. O hábito de comer rotineiramente carne vermelha promove a colonização do intestino preferencialmente por bactérias do gênero Prevotella, enquanto que a microbiota de vegetarianos é constituída primordialmente por Bacteroides. O mais interessante é que a microbiota de vegetarianos ou veganos que pontualmente consumem carne não induz formação de TMAO.
Mas como associar a presença do TMAO com a indução da aterosclerose? O grupo mostra que a suplementação da dieta com L-carnitina diminui os níveis de HDL (Transportador reverso de colesterol) e aumenta os de LDL/VLDL (Transportador direto de colesterol). Ainda, o TMAO é capaz de induzir a expressão de transportadores de colesterol nos macrófagos, o que facilita a captura de colesterol e o acúmulo dessas células nas paredes dos vasos sanguíneos.
Outro experimento interessante mostra que animais submetidos a uma dieta rica em L-carnitina formam placa de ateroma, o que não acontece quando a microbiota é removida.
É, meu amigo! Se você quiser comer aquele churrasquinho no final de semana, não esqueça de remover sua microbiota com antibióticos de amplo espectro. Se bem que falam as más línguas que o consumo de cerveja interrompe o efeito de medicamentos. E agora? Vale mais aquela carninha na brasa ou aquela cervejinha gelada?
P.S.: Obviamente o consumo de antibióticos para a remoção da microbiota é apenas uma brincadeira e não deve ser levado a sério.

Post de Maria do Carmo, Maria Cláudia da Silva e Tiago Medina, FMRP-USP/IBA.

sábado, 27 de julho de 2013

E chega ao fim o VI Curso de Inverno em Imunologia da FMRP/USP


Alunos do VI Curso de Inverno em Imunologia


Depois de duas semanas cheias de atividades, terminou em 26 de julho de 2013 o VI Curso de Inverno em Imunologia, promovido anualmente por alunos e docentes do Programa de Pós-Graduação em Imunologia Básica e Aplicada da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo. Esta iniciativa tem por objetivo divulgar o conhecimento produzido em nosso programa aos alunos de todas as regiões brasileiras e da América Latina, possibilitando assim, o contato deles com nossa comunidade acadêmica.
Neste ano, os alunos passaram por uma sequência intensa de aulas teóricas para revisão dos principais temas de Imunologia, as quais foram intercaladas com breves palestras sobre as linhas de pesquisa de cada docente do programa. A novidade deste ano foi em relação às atividades de estágio. Dessa vez, os alunos tiveram a oportunidade de passar por dois laboratórios de pesquisa, permanecendo três dias em cada um deles. Os estágios nos laboratórios talvez sejam os momentos mais proveitosos do nosso curso de inverno. Percebe-se que os alunos ficam mais a vontade para esclarecer dúvidas relacionadas à forma de ingresso no programa, questionam as perspectivas profissionais daqueles que optam pela área. Aproveitam ainda para discutir resultados de seus projetos com os monitores, bem como variações das técnicas apresentadas. Enfim, são momentos de ensino/aprendizagem bastante agradáveis para as duas partes (pelo menos é o que eu acho).
Como a vida não é feita só de seriedade, momentos de diversão são sempre necessários. Nesse sentido, a comissão além de promover fartos coffee brakes, em especial um deles recrutando toda a população imunológica do Campus da USP de Ribeirão, como forma de integração e troca de ideias, também promoveu na tarde de 20 de julho, o já tradicional “Churrasco do Curso de Inverno da Imuno”, onde o pessoal aproveitou bastante a boa comida e bebida oferecida (mais comentários do que este não são convenientes).
Por fim, deu-se o evento de encerramento no dia 26 de julho. Neste dia, os alunos tiveram a oportunidade de apresentar seus projetos de iniciação científica na forma de pôster, os quais foram avaliados pelos alunos de nossa pós-graduação. Os trabalhos de maior destaque foram agraciados com uma singela premiação. A seguir, os alunos laureados:

1° Lugar: Mouzarllem Barros dos ReisÉ graduando em Biomedicina pela Universidade Federal do Piauí. Apresentou o trabalho intitulado: “Estudo morfofuncional das micro-nanoesferas de PLGA funcionalizadas contendo insulina encapsulada: estabilidade, liberação e degradação pós-processamento”. Como prêmio, recebeu uma cópia da 7a Edição do livro “Imunologia Celular e Molecular”, o tão conhecido “Abbas”.



2° Lugar: Deborah Laranjeira Ferreira Pimenta: É graduanda em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário UNA, Campus Guajajaras, Belo Horizonte. Seu trabalho intitulado “Identificação e produção de moléculas do Schistossoma mansoni para o uso no diagnóstico sorológico da esquistossomose", foi desenvolvido no Laboratório de Esquistossomose do Centro de Pesquisas René Rachou – FIOCRUZ MINAS. Como prêmio, recebeu uma cópia da 3a Edição do livro “Imunologia Básica”, também chamado "Abbinha".


3° Lugar: Angélica Rita Gobbo: É graduanda em Farmácia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Seu trabalho, intitulado "Avaliação de antígenos micobacteriano para o diagnóstico de hanseníase", foi desenvolvido no Laboratório de Dermatologia e Imunologia da UFPA. Como prêmio, recebeu uma do livro “Biologia Celular e Molecular”, do "De Robertis".



       
            Neste último dia, também aconteceram palestras com egressos de nosso programa de Pós-Graduação. A primeira delas, ministrada pelo Dr. Sandro Gomes Soares, com o título "Desafios e obstáculos para o desenvolvimento de setor de biotecnologia no Brasil". (usp-rp), contou com o relato de sua experiência na área de empreendedorismo em biotecnologia, experiência esta adquirida desde quando, juntamente com sócios, fundou a empresa "Invent". Dr. Sandro falou das dificuldades em investir neste setor, o qual é mais desenvolvido no exterior, expondo quais barreiras devem ser superadas por aqueles que querem empreender. Esta palestra soou bastante interessante para aqueles que almejam seguir uma carreira na área de Imunologia, que não a acadêmica. A segunda palestra do dia foi proferida pela Professora Dra. Janaína de Oliveira Crispim da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e  tinha como título "Participação de células Th17 em transplante e câncer". Durante a apresentação, a Professora Janaína discorreu um pouco sobre  o papel das células Th17 em pacientes transplantados e no câncer cervical. De forma resumida, ela mostrou que em pacientes acometidos por rejeição aguda e crônica de transplantes renais, ocorre um aumento da produção de IL-17. Com relação ao Câncer Cervical, ocorre aumento da produção de IL-17 durante a fase inicial da doença.
       Bom, esse foi um breve relato dos principais acontecimentos desse VI Curso de Inverno em Imunologia. Esperamos que o curso tenha atendido às expectativas dos mais de 40 alunos selecionados dentre os centenas de alunos inscritos. Terminamos o curso certos de que muitos dos que por aqui passaram retornarão para se tornarem nossos colegas de pós-graduação. Sucesso a todos! 

Comissão Organizadora do VI Curso de Inverno em Imunologia


Post de Murilo Solano Dias - FMRP-IBA


sexta-feira, 26 de julho de 2013

Centros Germinativos brilham na Science

Gabriel Victora, ex-colaborador aqui no SBlogI e pesquisador no Whitehead Institute/MIT, acaba de publicar um artigo científico na Science.

As imagens são lindas - uma verdadeira obra de arte. Segue abaixo o resumo.

T Follicular Helper Cell Dynamics in Germinal Centers
 
T follicular helper cells (TFH) are a specialized subset of effector T cells that provide help to and thereby select high-affinity B cells in germinal centers (GCs). To examine the dynamic behavior of TFH cells in GCs in mice, we combined two-photon microscopy and optical highlighting using a photoactivatable fluorescent reporter. Unlike GC B cells, which are clonally restricted, TFH distributed among all GCs in lymph nodes and continually emigrated into the follicle and neighboring GCs. Moreover, newly activated TFH cells invaded pre-existing GCs, where they contributed to B cell selection and plasmablast differentiation. Our data suggest that dynamic exchange of TFH between GCs ensures maximal diversification of T cell help, and their ability to enter ongoing GCs accommodates antigenic variation during the immune response.

Deberia criarse um sistema para avaliar o desempenho dos referees?

Todo mundo sabe da importância dos referees no processo de publicação de resultados de pesquisa em revistas acadêmicas de qualidade, como também no processo de avaliação de projetos para financiamento. Porém, não existe na atualidade um sistema de avaliação da atuação dos referees acadêmicos.

A pesar de ser considerado um dos Standards de qualidade, a avaliação por referees acadêmicos, como todos os sistemas de avaliação, tem as suas falências, que podem ir desde falta de idoneidade real para avaliar a proposta, até coisas mais graves como faltas à ética por não declarar conflitos de interesse, ou a falta de critérios unificados e de evidencia científica para selecionar propostas muito inovadoras, entre outras. Mas as bondades de uma avaliação honesta por múltiplos pares são muitas. Permite não só enriquecer a discussão acadêmica pela retroalimentação aos autores, como também o próprio referee pode aprender durante o processo.

Esses dias eu encontrei um comentário na The Scientist (1), escrito pelo David Cameron Duffy, propondo a avaliação dos referees, com o intuito de fortalecer o processo acadêmico. Ele propõe uma combinação entre o H-index do peer reviewer, o impact factor da revista, e o número de manuscritos revisados (o caso de agencias de financiamento não foi contemplado). Algo assim como um "R-index". Particularmente achei interessante a proposta, e penso que discutir entorno a ela pode ser muito produtivo.

Embora as editoriais devam ter sistemas internos (como parte normal do controle da qualidade) para avaliar a o trabalho dos pares acadêmicos, seria útil identificar os bons referees de alguma maneira, e que seja pública essa informação. Principalmente pensando que este é um trabalho que consome o tempo dos pesquisadores, e que merece ser reconhecido objetivamente. Além disso, com o recente surgimento de milhares de editoriais de livre acesso, existe o risco desse trabalho anônimo do referee se tornar um ponto fraco na qualidade do processo.

Por outro lado, nesta época em que o H-index e o fator de impacto estão sendo fortemente criticados, não sei até que ponto seria bem vindo um novo indicador no currículo. A adopção de um sistema de avaliação rigoroso e oficial do desempenho de revisores poderia trazer vários problemas adicionais. Por exemplo, poderia dificultar o acesso como referees de revistas de impacto, principalmente para pesquisadores que estão começando carreira. Em todo caso, iniciativas como a adotada no NIH para incluir oficialmente os pesquisadores jovens no processo de revisão acadêmica por pares poderia contribuir com essa inclusão. As informações dos perfis destes referees poderiam ser de utilidade, por exemplo, para a seleção  de potenciais referees de bom desempenho por parte dos editores de revistas de alto impacto.


Links sobre o assunto:
1 Opinion: Reviewing Reviewers. The Scientist. David Cameron Duffy. Jul 19, 2013
2 Contributing to Peer Review: Guidance for Early-Career Researchers. PLOS Blogs.
3 Opinion: Learning from Peer Review. The Scientist. May 24, 2013. David Irwin, Stephen A. Gallo, and Scott R. Glisson.
4 Update on Peer Review at NIH. Letter from Dr. Stephen I. Katz (Director, National Institute of Arthritis and Musculoskeletal and Skin Diseases).
5 Peer review: the nuts and bolts.  Voice of Young Science.


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Cursos durante o Immuno Natal 2013

Caros, o IMMUNO NATAL 2013 e o 11th World Congress o Inflammation estão chegando (aqui).

Além do Programa Cientifico, que está fantástico, teremos também 3 cursos que irão correr durante os 4 dias principais do evento (22, 23, 24 e 25/10).

Pra quem gosta da balada, vai ter que pegar leve pois as aulas são das 8 as 9 hs da manha.


Serão 3 cursos:

1) Mechanisms of Leukocyte Recruitment, organizado pelo Dr. Gustavo Menezes. 
Aula 1: How do dead cells tell the immune system where they are? Por Gustavo Menezes.
Aula 2: Directional signals for leukocyte recruitment are mediated by the chemokine family. Por Amanda Proudfoot.
Aula 3: Leukocyte recruitment in different organs-no universal paradigm. Por Paul Kubes.
Aula 4: Mechanisms of lymphocyte migration in lymphoid tissue. Por Jens Stein.


2) Signaling and Inflammation, organizado pela Dra. Vanessa Pinho 
Aula 1: Overview of signaling in immune system. Por Aristobolo Mendes da Silva.
Aula 2: Tyrosine kinases and the function in immune cells. Por Attila Mocsai. 
Aula 3: Nuclear Factors and the function of immune system. Por Lirlandia Pires de Sousa.
Aula 4: Signaling for apoptosis and resolution of inflammation. Por Vanessa Pinho. 

3) Innate Immunity and Inflammation, organizado pelo Dr. Marcelo Bozza e Dario Zamboni. 
Aula 1: Basic concepts of innate immunity and inflammation. Por Ruslan Medhzitov. 
Aula 2: Recognition by innate immune cells. Por Dario Zamboni. 
Aula 3: Pathogen killing by the innate immune system. Por Marcelo Bozza. 
Aula 4: Damage control during infection. Por Miguel Soares. 

Aproveitem! 


terça-feira, 23 de julho de 2013

Ciência para reduzir a desigualdade: Raupp faz conferência de abertura da 65ª Reunião Anual da SBPC

Fonte: Jornal da Ciência

Ministro de Ciência e Tecnologia fala dos investimentos e desafios do governo para que a ciência avance


Do Recife (PE) - A ciência é o caminho para conseguir um desenvolvimento sustentável de longo prazo e também minimizar as disparidades sociais no Brasil. Na opinião do ministro de Ciência e Tecnologia, Marco Antonio Raupp, é necessário que haja mais parcerias entre entidades públicas e privadas para esse processo. A afirmação foi feita durante a conferência de abertura da 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC), com a palestra "Conquistas recentes e novos desafios", no Teatro da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no Recife, nesta segunda-feira (22).

Durante a palestra, Raupp também defendeu a expansão dos sistemas de pesquisa de dentro das universidades para os setores industriais e de serviços. "Precisamos que as empresas invistam mais em atividades de pesquisa e desenvolvimento", afirmou. "Apoiar a ciência deve ser uma política de estado, em todas as esferas, com a cooperação entre o ministério e os governos. Temos que incentivar também que as empresas invistam, pois elas têm interesse em inovação, esse é o caminho para a competitividade", disse.

Mesmo assim, Raupp acredita que o Brasil vive um momento positivo para o desenvolvimento de ciência e inovação, com a criação de parcerias de empresas e centros de pesquisas. "Nós estamos tendo investimentos significativos e planos que levam a ciência para além dos muros tradicionais que ela ocupava nas universidades. Nós temos um programa, 'Inova empresa', que conta com investimento de R$ 32,9 bilhões em dois anos, o que é algo significativo, sem precedentes", disse.

Raupp apontou ainda as principais iniciativas do MCTI para atender aos novos desafios do Sistema Nacional de C,T&I, além de citar alguns desafios. Ao apresentar o crescimento dos investimentos do MCTI na área de pesquisa, o ministro ressaltou a criação do Instituto Nacional de Pesquisas Oceonográficas e Hidroviárias, que deve ser anunciado oficialmente nesta quarta-feira (23). "Já temos um navio de pesquisa de US$ 80 milhões em fase de compra, que deve estar aqui em setembro ou outubro do ano que vem. Estamos em plena parte de organização social", disse Raupp.

A expectativa é que as universidades e centros de pesquisas das áreas façam parte do conselho administrativo do instituto. "Era uma necessidade que vem de longe. Nós queremos aglutinar e integrar esses esforços. Esse instituto vai ser estabelecido de forma que essas organizações influenciem na forma de trabalho, de pesquisa."

A cooperação internacional também foi apontada como essencial para o avanço, buscando parcerias entre centros tecnológicos para avançar em áreas como tecnologia aeroespecial, nanotecnologia e nuclear. Raupp disse que recentemente foi à Argentina para discutir a cooperação internacional com o país. "Tinham 50 projetos, minha decisão foi fazer 12 para valer, mais intensivamente. É preciso focar mais, ser mais efetivo para ter mais impacto no desenvolvimento", explica o ministro.

O ministro ainda destacou que com investimento de R$ 850 milhões, o reator multipropósito brasileiro, feito em parceria com a Argentina. "É um reator cuja grande finalidade é aumentar nossa capacidade de produzir radioisótopos para aplicação médica. Todos são produzidos em uma farmácia nuclear existente no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) em São Paulo. Isso vai nos dar capacidade de abastecer hospitais brasileiros e vender para outros países. Outro elemento importante é a criação de uma agência reguladora na área nuclear, já temos um projeto pré-aprovado", afirma.

O ministro também citou a criação por portaria interministerial da Empresa Brasileira de Inovação Industrial (Embrapii) como um dos caminhos para ter a ciência como norte no desenvolvimento do país. "Ela vai participar, ser parceira nos riscos dos programas de inovação das empresas. A ideia é que ela faça para a tecnologia industrial o que a Embrapa fez para tecnologia agropecuária. A Embrapii é criada em um momento diferente. Ela não vai ter infraestrutura sob o comando direto dela, mas vai contratar, qualificar, credenciar laboratórios de universidades e institutos de pesquisa para promover a parceria deles com empresas", explicou.

Investimento humano
Mesmo com tantos investimetos, Raupp chamou a atenção que não adianta pensar apenas em laboratórios e grandes centros. Para ele, não há ciência, sem investimento humano. "Precisamos sempre pensar em recursos humanos, não adianta se não tivermos cientistas. Para estabelecer ciência, tecnologia e inovação como paradigma de desenvolvimento, é preciso aumentar e qualificar a nossa rede. Nós queremos a melhor ciência comparada internacionalmente. Os melhores exemplos dos países que desenvolveram no mundo é que empresas também precisam fazer pesquisa".

Raupp citou ainda alguns números que, segundo ele, irão aumentar com certeza, entre eles, o do Programa Ciências sem Fronteiras, que já conta com 101.000 bolsas de estudos no exterior e os investimentos das bolsas CNPq, que teve um reajuste médio de 25% em julho 2013 nas bolsas de mestrado, doutorado e pós-doc.

Gabinete
O ministrou avisou que durante a 65ª Reunião da SBPC seu gabinete foi transferido para o evento. "É a oportunidade de estarmos mais perto da comunidade científica. Estamos com quase todos os secretários aqui, eles vão participar de palestras, mas também vão estar disponíveis para escutar ideias, propostas e também opiniões sobre o que está sendo apresentado por nós aqui na reunião", disse.

(Vivian Costa / Jornal da Ciência)

Outras reportagens sobre a conferência de abertura da 65ª Reunião Anual da SBPC:

Raupp apresenta ações para atender a áreas estratégicas

Ministro da C,T&I faz um balanço das políticas públicas federais durante a SBPC

Empresas têm que fazer pesquisa, diz Raupp em palestra no Recife

domingo, 21 de julho de 2013

Qual a semelhança entre o ácido úrico, o pólen e as lombrigas?




Com um projeto de modulação da asma murina na mão, tive que aprender a sensibilizar animais com o alum (hidróxido de alumínio). Trabalhando com este adjuvante comecei a ler seu mecanismo de ação e a primeira coisa que me saltou os olhos foi sua exclusividade, único adjuvante capaz de induzir uma resposta Th2. Para entender esta “exclusividade”, resolvi estudar o geral, lendo como se faz para se induzir uma resposta Th2. A partir daí várias perguntas surgiram. Praticamente me embrenhei em um mundo a parte. Onde já se viu? Ovos de helmintos, alérgenos, espécies reativas de oxigênio, ácido úrico, DNA genômico, tudo isso fazendo Th2! Mas como assim, por quê? Por que estruturas/moléculas tão distintas entre elas induzem o mesmo perfil de resposta e qual o sentido disso (se tiver sentido)? Desde então estas dúvidas ocupam minha cabeça e me “divirto” tentando respondê-las baseado no que leio.
O bom é que, leituras vêm, leituras vão, em julho do ano passado vi em uma publicação da Science (1) que não só era só eu no mundo que estava “preocupado” em responder estas indagações (óbvio, né?!) Simplesmente, Bali Pulendran e David Artis (ícones no estudo de células dendríticas e resposta Th2, respectivamente) se uniram para discutí-las. Como se trata de um pequena revisão, eles não deram respostas definitivas, mas sim hipóteses, que extremamente embasadas, me convenceram! Afinal, por que estímulos tão diversos deflagram um tipo de resposta só (Th2)? Sabe o que eles propuseram como resposta para isto? Dano/estresse celular! Analisando os diversos “indutores de Th2” eles propuseram que a propriedade em comum entre eles seria o estrago tecidual que estes gerariam. Helmintos com toda sua dimensão, alérgenos proteolíticos rompendo junções epiteliais e os cristais de hidróxido de alumínio estourando as células que entram em contato, tudo isso gera intenso dano celular/tecidual, funcionando como ou expondo DAMPs (damage associated-molecules patterns), os quais de alguma forma (#) estimulam células dendríticas a produzirem IL-4. Estas moléculas endógenas que são expostas apenas após morte celular não-programada agiriam como adjuvantes naturais indutores de um perfil Th2 de resposta.
 Esta hipótese faz mais sentido quando eles justificam o propósito se se perguntando: Agora, por que a resposta Th2 frente a moléculas associadas ao dano tecidual e não outra? Qual o motivo desta peculiaridade imunológica? Para responder isto a dupla recorreu a hipótese de outra dupla brilhante, Judith Allen e Thomas Wynn. Judith Allen e Thomas Wynn sugerem que frente a um extenso dano celular, apenas a resposta Th2 teria a habilidade de reparar o tecido com maior rapidez e propriedade (2). A expressão de moléculas de reparo tecidual (RELMα e YM1) intimamente ligada a ativação do receptor de IL-4, o espectro de ação da IL-13 em células não hematopoiéticas (produção de muco e fibrose) e as funções efetoras dos macrófagos M2 são exclusividade da resposta Th2 que os autores evidenciam para dar suporte a esta ideia. Legal né?
Lógico, como tudo na ciência, exceções irão existir, entretanto acho que a hipótese faz bastante sentido e é incrível. Primeiro, por colocar moléculas de composição e origem tão diferentes no saco “destruidores de tecido” e segundo, por relacionar isto com as peculiaridades da Th2. Pense, como que acionando um macrófago M1 da Th1 ou recrutando neutrófilos da Th17 a cicatrização seria feita com tanta eficiência? Difícil hein! Pulendran e Artis não construíram conceitos novos e desfizeram de velhos, apenas olharam algo que já tínhamos em mãos sob uma perspectiva diferente. Acho que devemos fazer isto mais vezes.  
Ah! Vocês notaram que no meio do meu texto coloquei um (#)? Eles significam mais uma questionamento: De que forma tais estímulos ativam as células dendríticas a produzirem IL-4? Quais receptores intracelulares? Aí sim ficamos no breu! Sabemos muitíssimo pouco sobre isto. Só para constar, na edição da JEM de setembro do ano passado, demonstraram que a proteína do ovo de Schitosoma (Omega-1) responsável pela indução da Th2 tem que ter sua atividade de RNAse preservada, caso ao contrário nada de IL-4! Como assim? Como uma proteína que cliva RNAs aciona a produção de IL-4 por células dendríticas?(3) Como? Sei lá! Quando descobrirem, conto aqui! Até mais!

Post de Rafael Prado, doutorando do IBA-FMRP.
 


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