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segunda-feira, 28 de maio de 2012

Tem como melhorar?


A plataforma Lattes disponibilizada pelo CNPq é certamente o maior banco de currículos utilizado não só na área científica, mas em quase todas as áreas do conhecimento. Absolutamente todas as pessoas envolvidas em atividades científicas, desde a graduação até o diretor de um instituto de pesquisa ou reitor de universidade, utilizam o currículo lattes. E quem não tem ainda, deveria ter. O modelo do CV Lattes é hoje adotado não só pelo CNPq, mas também pela maioria das instituições de fomento, universidades e institutos de pesquisa do país.

De fato, a plataforma lattes é hoje modelo também para instituições internacionais de grande prestígio, sendo utilizada como referencia em vários países. Já foi inclusive tema de um artigo na Nature (http://www.nature.com/nature/journal/v464/n7288/full/464488a.html). Conforme relatado no artigo, é de extrema importância para o desenvolvimento de um país criar um sistema aberto, apropriado e consistente que possa medir todas as atividades que compõem a produtividade acadêmica. No texto, fica claro ser necessário construir uma ciência de medição cada vez mais moderna, confiável e melhor.

E é exatamente sobre esse tema que este post é dirigido. O objetivo deste post não é criticar a plataforma Lattes, uma vez que eu sou mais um entre os tantos que fazem uso desta ferramenta, mas dividir com vocês algumas das dúvidas que tenho e que, na minha opinião, dão margem a entradas incorretas e muitas vezes falsas por diversos profissionais.

Por ser algo tão amplamente utilizado e padronizado, o preenchimento do Lattes deveria ser simples, direto e não deveria dar margem para dados incorretos ou inverdades. No entanto, acho que é correto dizer que todos nós temos pelo menos alguma dúvida sobre como preencher corretamente algum item do currículo na plataforma Lattes. Como inserir aquele curso que você ministrou a convite de uma instituição, o que é considerado vínculo com uma instituição, quando você pode se considerar um revisor de periódico, entre outros.

A falta de orientação no momento de preencher o Lattes, ou em alguns casos a malandragem mesmo, acabam gerando o registro incorreto ou falso de atividades realizadas. Uma importante ferramenta que garantiu a confiabilidade dos dados inseridos pelos usuários foi o uso do DOI, aquele identificador do artigo. Com o DOI o sistema Lattes é capaz de reconhecer e validar a veracidade da aceitação de um artigo científico pela revista científica, mesmo que este ainda não tenha sido oficialmente publicado (contendo um volume e número de página definidos). Essa ferramenta ajudou a impedir que artigos que ainda nem foram submetidos ou que ainda estão sobre processo de revisão sejam marcados como aceitos ou publicados.

Mesmo assim, as regras de como algumas sessões do Lattes devem ser preenchidas ainda são obscuras para muitos usuários e levam a muitas discussões. Não sei quanto a vocês, mas estas são algumas das minhas dúvidas:

1) O vínculo institucional

O curriculum lattes tem uma sessão destinada aos vínculos do pesquisador. Na maioria das vezes os usuários preenchem incorretamente essa sessão, inserindo vínculos inexistentes com instituições de ensino ou de pesquisa.

Por exemplo: aluno de graduação, mestrado ou doutorado não configura um vínculo. Pelo menos foi essa a informação passada a mim por aqueles que me orientaram (e não foi apenas um). Da mesma forma, se você foi convidado a dar uma aula ou participar da organização de uma disciplina ou curso em uma instituição de pesquisa ou ensino, você não deve considerar que tem ou teve um vínculo com aquela instituição. Pior, aquela monitoria de imuno ou bioquímica ou zoologia dos invertebrados que você deu durante a graduação de maneira alguma configura um vínculo. Parece óbvio, mas há muitos currículos em que a sessão de vínculos é preenchida com monitorias de disciplinas, entre outras atividades voluntárias e corriqueiras (veja um exemplo real abaixo).


Pelo meu entendimento, um vínculo é um contrato formal que um profissional tem com a instituição em que ele fez, ou faz parte do quadro de funcionários.

Uma outra coisa que aprendi com meus orientadores é que a categoria bolsista não é considerada como vínculo. Eles sempre me orientaram a não preencher esta sessão do currículo para não gerar confusão. Inclusive, esta parecia ser uma orientação do próprio CNPq, pois quando fui bolsista de Pesquisador Visitante pelo convênio CNPq-FIOCRUZ eu não pude submeter um projeto para financiamento do CNPq uma vez que um dos primeiros pré-requisitos especificados no edital era o de que o pesquisador deveria ter vínculo formal com a instituição de pesquisa. Para mim isso estava claro e fazia todo sentido, pois como o profissional pode pedir um financiamento para realizar um projeto de 2 a 5 anos sendo que muitas vezes o período de sua bolsa é incompatível com o solicitado para o projeto?

Entretanto, se olharmos na sessão de vínculos do lattes, há uma opção chamada “bolsista recém-doutor” criada como alternativa de vínculo. Mas como isso é possível, se na hora de aplicar para um projeto, o próprio CNPq não considera um bolsista como vinculado à uma instituição?

2) Participação e coordenação de projetos:

Outro exemplo muito comum é a questão do coordenador de projeto. Não é exagero, mas se fizer uma busca você irá encontrar alunos de doutorado que são coordenadores de projetos. Isso é possível? Eu sinceramente não sei. Mas no meu entendimento, o coordenador de um projeto seria aquele para quem o financiamento foi oficialmente concedido por uma agência de fomento. E para isso, tenho certeza de que deve haver documentos comprobatórios.

O problema é que, como as regras não são claras e o CNPq não disponibilizou um tutorial sobre como preencher corretamente certas sessões do Lattes, mesmo uma banca de concurso poderia não saber avaliar estas coisas. E assim, um candidato que preencheu corretamente a sessão de vínculos (pois entende que enquanto estudante, ou bolsista, ou monitor de disciplina ele não criou um vínculo com a instituição) deixa de ganhar pontos frente a um candidato que possui 3 páginas de vínculos com projetos inscritos, etc.

3) O tal do fator H.

O ultimo exemplo que eu gostaria de comentar é a questão do fator H. Ele é utilizado? Se sim, como? É avaliado em concursos públicos, prêmios e competições?

Tenho visto de tudo com relação ao fator H. Principalmente porque dependendo da forma em que se faz a busca pelo nome do profissional, o usuário pode se deparar com diferentes valores para o fator H.

Outro dia estava vendo o currículo de um jovem pesquisador cujo o fator H no Lattes era de 9. Achei bem impressionante. Ele informou que fez a busca pelo sobrenome e a inicial do primeiro nome. Até aí, tudo bem. Entretanto, quando refiz a pesquisa, imediatamente percebi na lista de artigos que resultou da busca na forma indicada pelo dono do CV, que havia outro pesquisador com o mesmo sobrenome e a mesma inicial. Assim, somados, os trabalhos dos dois pesquisadores resultavam num fator H de 9. Quando filtrei a busca excluindo os trabalhos do outro pesquisador (que eram de antes de 2001 e alguns muito citados), o fator H real para o jovem pesquisador brasileiro em questão era de 4.

Aí fica a pergunta: os profissionais estão agindo de má fé na hora de preencher o currículo ou apenas não sabem como preencher estas sessões? Pode ser que na ânsia de querer relatar tudo que fazem ou fizeram os profissionais podem cometer pequenos deslizes, mas é difícil avaliar se foi um erro ou malandragem.

E olha que nem chegamos na sessão dos idiomas... Lá sim, o povo faz a festa. Será que vale mesmo a pena preencher a sessão de idiomas com um espanhol que você afirma ler bem, entender razoavelmente, mas falar e escrever pouco?

Gente, a coisa é séria: Até a nossa digníssima presidenta já se “confundiu” ao preencher o Lattes (http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/depois-de-post-casa-civil-muda-curriculo-de-dilma-mas-cade-a-dissertacao/). Veja também o que aconteceu com um dos CEOs da empresa Yahoo: http://economia.estadao.com.br/noticias/economia,yahoo!-confirma-afastamento-de-ceo-acusado-de-mentir-em-curriculo,112207,0.htm

Tem como melhorar?

Na minha opinião, da mesma forma que o DOI de um artigo pode ser verificado pelo sistema, os vínculos, os cursos, as premiações e outras entradas do lattes poderiam ser também melhor avaliadas.

Por exemplo: para validar uma entrada (seja ela um prêmio recebido, um curso ministrado, uma nova titulação, ou mesmo a proficiência em um idioma), o sistema poderia exigir que o usuário anexasse imediatamente um certificado, uma carta oficial ou algum documento que comprove aquela atividade. Esse documento poderia ser avaliado por uma equipe e somente se aprovado a entrada poderia ser validada e publicada junto ao currículo. Mesmo que isso leve alguns dias, acho que seria um processo relevante para evitar a entrada incorreta ou fraudulenta de dados.

Isso também evitaria termos que enviar toda essa documentação (certificados, diplomas, etc.) junto ao currículo quando formos aplicar para uma vaga em um concurso público, prêmio ou edital de financiamento. Pois se a entrada foi aceita pelo sistema significa que a sua veracidade já foi avaliada e aprovada. Assim como funciona para os artigos publicados.

Enfim, o importante é ter em mente que o currículo é o seu business card, a sua carta de apresentação. E o que se pode esperar de um profissional que mente já na carta de apresentação?



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7 comentários:

  1. A questão da validação dos dados é importante, de fato. Mas acho que o envio de documentação pro lattes demandaria uma estrutura de conferência que o CNPq não tem - e seria extremamente caro. São quase 1,8 milhão de currículos cadastrados. Imagine a montanha de documentos que precisariam ser analisados. Se cada currículo tiver 5 documentos em certificados e diplomas; seria preciso uma equipe de mais de 100 pessoas (eu acho que chegaria a umas 500) somente pra dar conta disso em um período de 3 anos.

    Acho q teremos q esperar a implantação e disseminação de certificados digitais.

    []s,

    Roberto Takata

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  2. Oi Roberto,

    É verdade. Mas devíamos mesmo pensar numa forma de aprimorar esse sistema para evitar tanta confusão e discrepância nos CVs. Ou pelo menos que os avaliadores em uma banca de concurso ou de uma seleção de financiamento, premio ou competição saibam avaliar estas coisas...

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    1. Acho que, por eqto, o que é possível fazer é um tutorial (manual e vídeo) sobre preenchimento do lattes (inclusive com janelinhas de ajuda na plaforma).

      De resto, cada pessoa é (inclusive criminalmente) responsável pelas informações ali postadas.

      E quem consulta, de fato, precisa ter um certo nível de discernimento - como com qualquer outra informação (curricular ou não).

      []s,

      Roberto Takata

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  3. E qual o lugar adequado para inserir informações sobre monitoria então? Obrigada

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  4. Discordo sobre o que foi dito sobre vínculo. No meu entendimento, o campo vínculo se refere ao tipo de relação que a pessoa teve com a instituição, "vínculo" e "vínculo trabalhista" não são sinônimos, tanto que há no lattes como opção de preenchimento de tipo de vínculo professor visitante e bolsista, por exemplo, e depois um outro campo onde a pessoa informa se possui ou não vínculo empregatício. Nesse sentido, acho correto cadastrar monitorias e estágios como atuação profissional, porque de fato são tipos de atuação profissional.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Como então devem ser cadastradas monitorias e estágios, já que não são vínculos institucionais?

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