Quando a gente
compra um aparelho novo, daqueles que sempre sonhou em comprar, dá até preguiça
de ler o manual para saber como é que se monta. Queremos logo é ver
funcionando. Mas, via de regra, precisamos nos comportar e ler atentamente o
manual, que contém informações de como o aparelho deverá ser montado, como as
peças se encaixam (inclusive a ordem delas) e principalmente a voltagem, para
assim garantirmos seu correto funcionamento. Por incrível que pareça, essa
"ordem de montagem" também acontece com complexos multiproteicos
intracelulares, como é o caso dos inflamassomas.
Em
trabalhos publicados no ano passado, fenômenos associados ao estresse celular
(lise lisossomal, efluxo de K+ e consequente produção de espécies
reativas de oxigênio (ROS)), decorrentes do estímulo com os diferentes
ativadores de NRLP3, deixaram claras evidências de que a mitocôndria desempenha
um papel central na ativação do inflamassoma de NRLP3. Com isso, Shimada e
colaboradores evidenciaram que os sinais que iniciam a apoptose são necessários
para que a ativação do NRLP3 ocorra adequadamente. Um primeiro sinal (ativador
de NF-κB) seguido de um segundo sinal (ativador de NLRP3) provoca uma disfunção
mitocondrial que leva a vias apoptóticas celulares culminando na produção de ROS.
Essas moléculas, produzidas pela mitocôndria, promovem oxidação do DNA
mitocondrial (mtDNA), e este interage diretamente com o receptor NRLP3,
constituindo o passo inicial para montagem e ativação do inflamassoma. Este
modelo unifica os modelos prévios de ativação de NRLP3 e direciona as
investigações futuras para os mecanismos envolvidos no controle da produção de
ROS e da liberação de DNA mitocondrial oxidado. Mas uma dúvida ainda resta:
como essa montagem do inflamassoma pode ser controlada, já que todos esses
estímulos podem ser unificados e assim, provocar uma inflamação crônica?
Ler
o manual de instruções é ou não é importante? Tem peça que não pode faltar
nesse quebra-cabeça chamado INFLAMASSOMA!
Post por Giuliano Bonfá, Mariana Benício
e Thaís Herrero
Referências:
1) NLRP3 inflammasome activation: The convergence of multiple signalling pathways on ROS production? Tschopp J, Schroder K. Nat Rev Immunol. 10 (3):210-5 (2010).
2) The inflammasomes. Schroder K, Tschopp J. Cell.19;140(6):821-32 (2010).
3) Oxidized mitocondrial DNA activates the NLRP3 inflammasome during apoptosis. Shimada K, et al, Immunity, 36 (3): 401-14 (2012).
4) Dangerous liaisons:
mitochondrial DNA meets the NLRP3 inflammasome. Martinon F. Immunity,36 (3):313-5 (2012).
5) GBP5 promotes NLRP3 inflammasome
assembly and immunity in mammals. Shenoy AR, et al.. Science, 336 (6080):481-5 (2012).
Parabéns pelo post. Ficou bem legal!
ResponderExcluirEsse achado abre um leque enorme para futuras investigações.
O agonista solúvel bacteriano mencionado no texto não seria a nigericina/ATP ao invés de LPS? Este último age no primeiro sinal.
Obrigado Pedro, exatamente. O LPS é o primeiro sinal. Os sinais soluveis mensionados são nigericina/ATP.
ResponderExcluirObrigado pela correção.
Abraços