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Phileno Pinge Filho - PAT-CCB-UEL
A
descoberta de Carlos Chagas é única porque ele identificou o agente (Trypanosoma cruzi) no inseto vetor (Panstrongylus megistus) antes da
descoberta da infecção em animais silvestres e da doença em humanos.
Infelizmente, Carlos Chagas incluiu o bócio endêmico como parte do quadro
clínico da doença de Chagas. Esse engano pode ter influenciado negativamente na
sua nomeação para receber o Prêmio Nobel de 1921, que ficou sem um vencedor
(Teixeira, 2007).
Agora,
100 anos depois, o que será que Carlos Chagas diria sobre a utilização de cepas
atenuadas do parasito no desenvolvimento de uma vacina contra um câncer de pele
(Junqueira et al., 2011) ou então da
sua utilização na prevenção do diabetes tipo 1? (http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2012/05/cientistas-da-fiocruz-descobrem-que-parasita-pode-prevenir-diabetes-tipo-1.html).
A
ciência prospera com seus erros, eliminando-os um a um. Conclusões falsas são
tiradas todo o tempo, mas elas constituem tentativas de atingir um alvo.
Hipóteses formuladas são confrontadas por meio de experimentos e observações.
As refutações são saudáveis para o empreendimento científico. É um desafio
supremo para o divulgador da ciência deixar bem clara a história real e
tortuosa das grandes descobertas, bem como os equívocos e, por vezes, a recusa
obstinada de seus profissionais a tomar outro caminho. O método científico, por
mais enfadonho e ranzinza que pareça, é muito mais importante do que as
descobertas dela (Sagan, 1996).
1- Junqueira C, Santos LI, Galvão-Filho
B, Teixeira SM, Rodrigues FG, DaRocha WD, Chiari E, Jungbluth AA, Ritter G,
Gnjatic S, Old LJ, Gazzinelli RT.Trypanosoma cruzi as an effective cancer antigen delivery vector. Proc Natl Acad Sci U S A. 2011: 108 (49):19695-700.
2- Teixeira A. Doença de Chagas e
evolução. Brasília. Ed. Universidade de Brasília: Finatec, 2007.
3- Sagan, C. O mundo assombrado pelos
demônios: a ciência vista como uma vela no escuro. São Paulo. Companhia das
Letras, 1996.
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