A edição do mês de Abril da Revista Nature
Immunology traz um comentário dos
autores Mübeccel Akdis & Cezmi A Akdis, 2012 (aqui), que
aborda questões controversas quanto à troca de isotipo e a geração de células B
de memória produtoras de IgE. Sabe-se que os anticorpos da classe IgE estão
envolvidos em reações de hipersensibilidade,
na patogenia de doenças alérgicas e na defesa contra helmintos, sendo
que o contato com um alérgeno ou uma infecção por helminto induz a polarização para o padrão de resposta do tipo
Th2, que por sua vez, está principalmente associado à produção de IgG1 e IgE
por linfócitos B.
Utilizando
modelos que induzem um perfil Th2 de resposta em camundongos e com o objetivo de aprofundar o conhecimento
sobre a biologia das células B IgE+, Erazo e colaboradores, 2007
(aqui),
verificaram uma predominância (praticamente total) de células B IgE+
fora dos centros germinativos de órgãos linfóides secundários. Embora essas
células apresentem essa localização, a mudança de classe para IgE inicia-se nos
centros germinativos dependendo de uma produção de IL-4 por células T. As
células IgE+ desde então já apresentam um fenótipo semelhante ao de
plasmócitos. Os dados demonstram que a hipermutação somática e a maturação de
afinidade ocorrem em uma fase pré-IgE em células IgG1+ e, posterior
a ela, essas células B rapidamente se transformam em plasmócitos produtores de
IgE. Essa diferenciação é suportada pela demonstração de que células IgG1+
produzem anticorpos IgE in vivo e in vitro, em um processo que é dependente
de IL-4 e inibido por IL-21.
Por
outro lado, Talay e coloboradores, 2012 (aqui), cinco
anos mais tarde mostraram outro ponto de vista. O grupo utilizou um animal
IgE-GFP repórter para acompanhar como se dá a troca de classe para IgE e
formação de uma célula de memória após a infecção dos camundongos com o
helminto Nippostrongylus brasiliensis.
De acordo com o grupo, a infecção dos animais leva ao aumento da população de
linfócitos B produtores de IgG1 e de IgE e o aparecimento das células
produtoras de IgE, que se localizaram inicialmente nos órgãos linfóides
secundários, foi totalmente independente da presença da célula IgG1+.
De forma interessante, o trabalho mostra claramente, 35 dias após a infecção,
uma população de células B IgE+ de memória, indo em contraste aos resultados
obtidos por Erazo e colaboradores, 2007, em que a produção de IgE de memória dependia
de uma célula IgG1+. A realização de ensaios de transferência
adotiva de células de memória IgG1+ e IgE+ mostrou que
somente os camundongos que recebem IgE+ de memória são capazes de
rapidamente diferenciarem-se em plasmócitos IgE+. A demonstração da
existência de células de memória IgE+ é um avanço importante e estes
mecanismos tornam-se portanto novos alvos para o tratamento de doenças
alérgicas.
No
entanto, a controvérsia continua, os trabalhos utilizam diferentes parâmetros
de análise e surge a questão: essa diferença não estaria também nas populações
analisadas, possibilitando a existência dos dois mecanismos?
Post de Fernanda Rocha, Maria
Cláudia Silva e Marcel Trevisan
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