(Leishmania “Hulk” resistente a drogas e seus
lipídios especiais)
Atualmente,
além de isolados de Leishmania spp.
resistentes ao óxido nítrico há relatos de vários isolados também resistentes
aos medicamentos disponíveis para o tratamento das leishmanioses, tais como os
antimoniais e anfotericina B. Esta resistência aumenta a virulência e a patogenicidade
destes parasitas. Para solucionar esse problema são necessários novos alvos
para drogas que tratem as leishmanioses. Tradicionalmente proteínas e enzimas são
os metabólitos alvos para tratamento e criação de novos medicamentos, mas agora
os lipídios estão se destacando!
Esta
novidade surgiu ao procurar relacionar estudos metabolômicos com leishmania. A
metabolômica é uma ferramenta de estudo e análise de TODOS os metabólitos de
determinado organismo. Assim, ela pode ser utilizada para estudar a diversidade
dos organismos. Então, pensaram: por que não estudar a diversidade clínica dos
isolados de parasitas? No estudo de isolados clínicos Leishmania donovani com resistência ou não ao medicamento
estibogluconato de sódio, através de técnicas metabolômicas de cromatografia
líquida associada à espectrometria de massa, observaram que a maior classe de
metabólitos identificada foi a dos lipídios, sendo que a maior diferença encontrada
entre os fenótipos, resistente ou não ao medicamento, estava nos fosfolipídeos
e esfingolipídeos.
Estas duas
classes de lipídios estão presentes em grande quantidade nas leishmanias e têm
seu metabolismo como fator crítico para sua virulência, bem como, se relacionam
a viabilidade destes organismos. Quem nunca ouviu falar dos glicoconjugados de
superfícies? Bem, estes potenciais antígenos para o desenvolvimento de vacinas são
constituídos por estes lipídeos também. Os glicoconjugados de fofatidilinositois
tem se destacado, pois a capacidade de sobrevivência de Leishmania no mosquito ou no mamífero depende destes. Podemos
ressaltar, por exemplo, as âncoras de glicosil inositol fosfolipídeos (GPIs)
que são importantes constituintes da membrana e correspondem ao local de
ancoragem glicosídica de diversas proteínas, bem como, são associadas à
sinalização celular e podem atuar como agonistas e mensageiros secundários em
resposta a citocinas. Outra molécula desta classe que se destaca é o lipofosfoglicano
(LPG), cujas funções incluem modulação da produção de óxido nítrico,
retardamento da maturação do fagossomo, fixação e entrada em macrófagos,
inibição das proteínas quinases C e K, dentre outras.
Além dos
fosfatidilinositois (PIs), também devemos ressaltar outros lipídeos tais como:
fosfatidilserinas (PSs), fosfatidilcolinas (PCs) e fosfatidiletanolaminas (PEs).
As PCs e PEs são de altíssimo interesse, já que alterações destes componentes
nas membranas celulares podem alterar a fluidez da mesma e, portanto, podem ser
componentes para a resistência a algumas drogas. Já PSs são relevantes, pois
durante o estágio metacíclico do parasita, elas são expostas em sua membrana para
simular a apoptose e levar a fagocitose pelos macrófagos do hospedeiro.
Contudo, estudos demonstrando esta mimetização ainda são relativamente novos.
Em adição, o estudo dos isolados de Leishmania donovani com diferentes
susceptibilidades ao estibogluconato de sódio demonstrou também que os ácidos
graxos que constituem os tipos de fosfolipídios (fosfatidiletanolamina e
fosfatidilcolina) apresentam diversidade entre os isolados. As mudanças
observadas ocorreram quanto ao tamanho da cadeia carbônica e quanto à
insaturações – estas merecem destaque graças a seu papel na manutenção da
correta viscosidade, permeabilidade, fluidez, flexibilidade e seletividade das
membranas de tripanossomatídeos, bem como sua grande proporção nos lipídeos
totais destes organismos.
Os ácidos
graxos são as unidades básicas da maioria dos lipídeos. Desta forma, estuda-los
é uma maneira de avaliar os lipídios dos parasitas. Os perfis de ácidos graxos já
são bastante utilizados para determinar o fingerprinting de bactérias do solo,
mas a maioria dos trabalhos caracterizando lipídeos em Leishmania foi feita apenas para determinação do perfil das
membranas. Então, por que não realizar estudos para caracterização do lipidoma
total de Leishmania spp. e também de
outros patógenos? Dessa forma, quem sabe, se revelem as diferenças entre a
variedade de fenótipos clínicos e encontrem novos alvos moleculares para criação
de medicamentos.
Referências:
·
ASSIS,
Ramiro Rafael; IBRAIM, Izabela Coimbra; NORONHA, Fátima Soares; TURCO,
Salvatore Joseph, SOARES, Pedro Soares. Glycoinositolphospholipids
from Leishmania braziliensis and L. infantum: Modulation of Innate Immune
System and Variations in Carbohydrate Structure. PLOS Neglected Tropical Diseases. Vol. 6; Issue 2; February 2012.
·
T’KINDT, Ruben;
SCHELTEMA, Richard A.; JANKEVICS, Andris; BRUNKER, Kirstyn; RIJAL, Suman;
DUJARDIN, Jean-Claude; BREITLING, Rainer; WATSON, David G.; COOMBS, Graham H.;
DECUYPERE, Saskia. Metabolomics to Unveil and Understand Phenotypic Diversity
between Pathogen Populations. PLOS
Neglected Tropical Diseases. Vol. 4; Issue 11; November 2010.
· ZHANG, Kai; BEVERLEY, Stephen M. Phospholipid and sphingolip metabolism
in Leishmania. Molecular &
Biochemical Parasitology. Vol. 170; 2010.
· ZHENG, Liang; T’KINDT, Ruben; DECUYPERE, Saskia; FREYEND, Simona John
von; COOMBS, Graham H.; WATSON, David G. Profiling lipids in Leishmania donovani using hydrophilic
interaction chromatography in combination with Fourier transform mass
spectrometry. Rapid Communication in
Mass Spectrometry.
Vol. 24; 2074-2082; 2010.
Post
de Alana Freire de Azevedo e Roberta Pereira de Miranda Fernandes
Prezada Alana e Roberta,
ResponderExcluirgostaria de Parabenizá-las pela belíssima e motivadora postagem, acerca de um assunto que com certeza será muito abordado futuramente. Digo isto, porque divido da mesma opinião que vcs, e também acredito que os chamados "novos alvos para a terapia" da Leishmaniose e claro de outras doenças também, vislumbrem a possibilidade de ataque direto sobre os lípídeos....que além de constituirem grande parte da membrana dos patógenos, ainda exercem características de auxiliarem nos mecanismos de evasão da resposta imunológica. Portanto, utilizar fármacos que atuem nesta "via" será objetivo de estudo em nosso laboratório.
Olá Wander,
ResponderExcluirobrigada pelo comentário.
Como observado pelo post, também achamos esse ramo da pesquisma de leishmaniose muito interessante e promissor.
No entanto, nosso objetivo de estudo é um pouco diferente do seu. Queremos, primeiramente, identificar um alvo para os possíveis fármacos.
Cordialmente,
Alana e Roberta