Vamos começar o post pelo fim, porque a novidade é boa e dá vontade de contar logo,
e, aliás, foi assim quarta-feira no Journal,
que contamos antes da hora que a vacinação com glicoconjugado faz com que APCs
apresentem carboidratos (e não somente proteína) via MHCII para as células T (of course, específicas para carboidratos
¬¬’). Pronto, contamos novamente, agora vamos começar...
A interação entre as células T e B foi um marco no estudo da imunologia
na década de 60, e este encontro celular é necessário para a indução de switch de classe do anticorpo e geração
de células de memória. Alguns antígenos como polissacarídeos, os quais
constituem a cápsula de bactérias gram positivas e de outros microorganismos,
ativam células B sem a presença de células T, mas as vacinas utilizando estes polissacarídeos
não sustentam uma proteção contra reinfecção. Porém, a partir do conhecimento
da possibilidade de se complexar hapteno + carreador, descoberto por Mitchison
em 1971, polissacarídeos foram conjugados a proteínas, e a partir deste momento
as imunizações “começaram a bombar”. Paoletti et al. 1994 e Guttormsen et
al. 1998 mostraram que camundongos previamente imunizados com estes
glicoconjugados são capazes de sobreviver a infecção por bactérias encapsuladas.
Agora pensem com a gente... tanto a vacina com glicoconjugado quanto a bactéria
encapsulada são constituídos de polissacarídeos e proteína.. entãão? Então
somente quando polissacarídeo e proteína estão conjugados, complexados, juntos,
completamente ligados, é que a vacina funciona, ponto.
Convencidos?
Claro que não, né?
É ai que entra a novidade sensacional do momento, e que nós já contamos,
mas talvez você ainda não tenha entendido. Vamos desenhar:
Quando um glicoconjugado é administrado, a parte do carboidrato é
reconhecido pela célula B, que possui BCR específico para polissacarídeo, todo
o glicoconjugado é fagocitado, processado no endolisossomo, de maneira
dependente de ROS, porém, as ligações covalentes entre a porção do carboidrato
e do peptídeo não é quebrada de maneira que se forma um complexo
MHCII-peptídeo-carboidrato, e tudo isso é apresentado para reconhecimento do
TCR. E o legal é que foram identificados dois subtipos de células T CD4+ que
reconhecem essa porção de açúcar, e sob esse estímulo elas são capazes de
produzir IL-2, proliferar, induzir troca de subtipo da Ig, além de induzir
memória. A partir desses achados os autores fazem o designe de uma vacina com
glicoconjugado onde a parte protéica é apenas um ‘peptídeozinho’ que se liga na
fenda do MHC e otimiza a densidade de epítopos que podem ser apresentados,
aumentando a imunogenicidade da vacina contra Streptococcus do grupo B. E as coisas legais ainda não acabaram. Os
autores fecharam o trabalho com chave de ouro imunizando camundongos fêmeas com
a vacina nova, e os filhotes dessas fêmeas foram desafiados com doses letais da
bactéria. Eles obtiveram sobrevivência de 100% dos animais, ao passo que a
imunização com a vacina tradicional, usada hoje na clínica (com a proteína e
não somente o peptídeo como carreador) a sobrevivência foi de 62%.
Legal né? E você achava que a célula T não gostava de doce.. pois gosta
sim!
Pra quem achou sensacional, sugerimos a leitura do artigo, ele é
brilhante:
“A mechanism for
glycoconjugate cavvine activation of the adaptative immune system and its
implications for vaccine design” Nature Medicine, 12/2011.
Muito interessante
ResponderExcluirMuito bom o post. Agora tem que considerar a glicosilacao das coisas que todo mundo estuda, pois ai poderia haver um mecanismo de ativacao de resposta inflamatoria...
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