Os gregos que cultuavam Mnemosine, a deusa da memória, não imaginavam que o sistema imune também podia lembrar. Na verdade, eles não imaginavam o sistema imune, embora tenham sido os primeiros no ocidente a registrar os episódios dos sobreviventes das ondas de variola serem os únicos capazes de cuidar dos variolados da onda seguinte – e continuarem vivos.
Todos estes anos depois a geração da memória imune permanece um dos grandes desafios para os imunologistas. Particularmente sabemos que em um processo infeccioso há uma expansão intensa das células T especificas, diferenciadas em efetoras, seguida de uma contração também intensa das mesmas células, deixando uma pequena população sobrevivente que se mantém, agora diferenciada, contudo com capacidade de auto-renovação, quase como uma célula tronco – as células de memória.
Os eventos que originam as células de memoria ainda não são completamente conhecidos. Sabemos que os requisitos para formação de memoria T CD8 são diferentes dos de memória T CD4. Tambem devem ser diferentes os sinais que geram as subpopulações T de memória efetora (que recirculam pelos tecidos, e fazem citocinas rapidamente após reencontro com o antigeno) e de memória central (que recirculam por tecidos linfóides, e não fazem citocinas tão rapidamente apos re-estimulação).
Em um paper da Immunity de Outubro de 2011, um paper pra mim fundamental, Marion Pepper e o sempre mestre Marc Jenkins, mostram que sinais opostos fornecidos pelo receptor da IL-2 (IL-2R) e da molecula Bcl-6 levam a formação das duas populações de memoria efetora (pela IL-2R) e central (via Bcl-6).
Na infecção por Listeria, após alguns dias, já são formadas duas populações efetoras. Uma TH1, que faz bastante T-bet, e é CXCR5-CCR7-, e, e a outra que é CXCR5+CCR7+, reside nos linfonodos nas zonas T, e precisa de Bcl-6, e de ICOS-L fornecido por células B nos centros germinais.
Quando eles fazem sorting dessas duas populações, transferem para novos animais e desafiam com antigeno, a primeira população origina mais celulas Th1 de memória efetora em resposta a IL-2. Já a segunda população, que parece composta por celulas TfH – like (celulas TfH também moram nos centros germinais, precisam de Bcl-6 e ICOS-L vindo de células B), gera vários outros tipos de células de memória quando estimulada. Assim, a primeira população seria a fonte de memória efetora; e a segunda, a fonte da memória central. Essas duas populações viriam de precursores formados já no inicio da infecção. Então a sequencia de sinais certos no inicio da resposta primária já deve ser necessária para o estabelecimento de memória. Algo que nos dá um novo timeframe pra desenhar vacinas. Ah, a memória efetora precisa de ICOS e Bcl-6 pra se manter, enquanto as TfH precisam disso pra se formar na fase efetora. Falta descobrir agora porque alguns desses precursores sobrevivem a fase da contração tornando-se memória. Isso, nem a Menmosine sabe (acho eu).
Opposing Signals from the Bcl6 Transcription Factor and the Interleukin-2 Receptor Generate T Helper 1 Central and Effector Memory Cells - Marion Pepper, Antonio J. Pagan, Botond Z. Igyarto , Justin J. Taylor, and Marc K. Jenkins Immunity 35, 583–595, October 28, 2011
Muito bom o paper Cris. Esse artigo já está na minha lista de leituras obrigatórias.
ResponderExcluirLembrete para o pessoal: http://workshopcellstress2012.blogspot.com/