Post por Andréa Teixeira
CPqRR/Fiocruz
Nas últimas décadas, o câncer ganhou uma
dimensão maior, convertendo-se em um evidente problema de saúde pública
mundial. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que, no ano 2030,
podem-se esperar 27 milhões de casos incidentes de câncer, 17 milhões de mortes
por câncer e 75 milhões de pessoas vivas, anualmente, com câncer. O maior
efeito desse aumento vai incidir em países de baixa e média rendas.
Seguindo tendência mundial, notam-se, no
Brasil, processos de transição que têm produzido importantes mudanças no perfil
das enfermidades que acometem a população, observando-se, a partir dos anos
1960, que as doenças infecciosas e parasitárias deixaram de ser a principal
causa de morte, sendo substituídas pelas doenças do aparelho circulatório e
pelas neoplasias. Essa ascensão progressiva da incidência e da mortalidade por
doenças crônico-degenerativas, conhecida como transição epidemiológica, tem
como principal fator o envelhecimento da população, resultante do intenso
processo de urbanização e das ações de promoção e recuperação da saúde.
No Brasil, as estimativas para o ano de 2012,
válidas também para o ano de 2013, apontam para a ocorrência de aproximadamente
518.510 casos novos de câncer, incluindo os casos de pele não melanoma,
reforçando a magnitude do problema do câncer no país. Sem os casos de câncer da
pele não melanoma, estima-se um total de 385 mil casos novos. Os tipos mais
incidentes serão os cânceres de pele não melanoma, próstata, pulmão, cólon e
reto e estômago para o sexo masculino; e os cânceres de pele não melanoma,
mama, colo do útero, cólon e reto e glândula tireoide para o sexo feminino.
Embora o câncer de ovário nao seja
um dos mais prevalentes, as estimativas do Brasil fornecidas pelo Instituto
Nacional do Câncer (INCA) apontam para o sétimo lugar entre os tipos de câncer
mais incidentes estimados para 2012 por sexo, é o câncer ginecológico mais
difícil de ser diagnosticado. Cerca de 3/4 dos tumores malignos de ovário
apresentam-se em estágio avançado no momento do diagnóstico inicial. É o câncer
ginecológico de maior letalidade, embora seja bem menos frequente que o câncer
de colo do útero.
Um dos tratamentos quimioterápicos
mais utilizados na terapêutica do câncer de ovário envolve o uso de derivados da
platina. No entanto, estes fármacos apresentam-se de forma muito tóxica,
causando sérios efeitos colaterais nos pacientes, evidenciando a necessidade de
se descobrir novas estratégias terapêuticas.
Encontra-se já documentado que aumento dos níveis
de mediadores inflamatórios circulantes associa-se com aumento do risco de câncer
de ovário. Nesse tipo de câncer existe uma evidência pré-clínica de que IL-6
aumenta a sobrevivência do tumor e a resistência à quimioterapia. Essa citocina
também tem propriedades pró-angiogênicas, regula o infiltrado celular,
a reação estromal e promove ações tumorais via linfócitos Th17. Em pacientes
com doença avançada, altos níveis de IL-6 correlacionam-se com mau prognóstico
e elevados níveis dessa citocina estão presentes no líquido ascítico.
Uma vez que a IL-6 constitui-se
em um dos principais mediadores da inflamação associada com câncer, estudos
recentes investigaram se o uso de antagonista de IL-6 (siltuximab) teria
atividade terapêutica contra o câncer de ovario. Os resultados da análise de
221 casos de câncer ovariano demonstraram que a intensidade de marcação com
IL-6 pelas células neoplásicas estava associada a pior prognóstico. Em outro estudo
utilizando modelo murino de xenotransplante, o tratamento com siltuximab
reduziu a produção constitutiva de IL-1-beta, TNF-alfa, IL-8, and CCL2 e inibiu
a sinalização celular induzida por IL-6 e o crescimento do tumor. Houve também
redução do infiltrado inflamatório macrofágico e da angiogênese.
Recentemente, em estudo clínico de fase II realizado
com 18 mulheres com câncer ovariano resistente à cisplatina, o siltuximab foi
bem tolerado e apresentou atividade terapêutica. Quatro pacientes tiveram a
doença estabilizada por pelo menos seis meses, com redução plasmática dos níveis
de CCL2, CXCL12 e VEGF. Estudos adicionais com o anticorpo anti-IL-6 precisam
ser realizados dando-se ênfase na identificação de subgrupos de pacientes que
estariam mais predipostos a responder a esse tipo de terapia, especialmente
pacientes onde a análise de biópsias indicassem altos níveis de IL-6 e,
consequentemente, pior prognóstico.
Referências:
- Instituto Nacional
do Câncer (INCA): Estimativa 2012 – Incidência de câncer no Brasil.
- Coward J, Kulbe H, Chakravarty P, Leader D, Vassileva V, Leinster DA,
Thompson R, Schioppa T, Nemeth J, Vermeulen J, Singh N, Avril N, Cummings J,
Rexhepaj E, Jirström K, Gallagher WM, Brennan DJ, McNeish IA, Balkwill FR. Interleukin-6 as a therapeutic target in human ovarian cancer. Clin
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15;17(18):6083-96.
- Clendenen TV, Lundin E,
Zeleniuch-Jacquotte A, Koenig KL, Berrino F, Lukanova A, Lokshin AE, Idahl A,
Ohlson N, Hallmans G, Krogh V, Sieri S, Muti P, Marrangoni A, Nolen BM, Liu M,
Shore RE, Arslan AA. Circulating inflammation markers and risk of epithelial
ovarian cancer. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev. 2011 May;20(5):799-810.
- Locasale JW, Zeskind B. IL-6 and Ovarian
Cancer--Letter. Clin Cancer Res. 2011 Dec 6.
- Clendenen TV,
Koenig KL, Arslan AA, Lukanova A, Berrino F, Gu Y, Hallmans G, Idahl A, Krogh
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Sieri S, Zeleniuch-Jacquotte A. Factors associated with inflammation markers, a
cross-sectional analysis. Cytokine. 2011 Dec;56(3):769-78.
muito interessante o post. A IL-6 tem esse papel de as vezes promover o tumor, mas pode ser anti-tumoral se for pruduzida por DCs na presenca de co-estimulacao. interessante ver os resultados, com certeza.
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