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segunda-feira, 10 de junho de 2013

Puro futuro






Quando eu era menino tinha um gordo parecido com Jo Soares, que se chamava Herman Kahn, que volta e meia aparecia na Manchete (perguntem pro João ou pro Barral o que diabo é Manchete, eles sabem). Ele era futurólogo. E mexeu tanto com a cultura pop que virou o modelo pra Dr. Strangelove de Stanley Kubrick.

Eu ficava besta que um sujeito pudesse ser futurólogo…Devia ser uma inteligencia superior. Toda vez que vinha o assunto a baila (expressao nada futurista), vinha a discussão sobre outros caras que pensaram o futuro, Jules Verne, H.G. Wells, George Orwell, Arthur Clark, etc. Tinham os futurólogos locais, mas esses não eram tão chiques, e só eram consultados em época de jogo ou no último dia do ano. Eram os nossos queridos babalorixás que, claro, não tinham a menor chance frente ao saber infinito de Herman yes he Kahn.

O futuro continua sendo um negócio fascinante pra mim, e a inveja que eu tenho dos futurólogos idem. Teve uma época que eu até pensei em ser um. Mas, descobri logo cedo que eu não tinha jeito pro negócio. Isso porque, todas a minhas previsões, especialmente sobre minhas conquistas amorosas, invariavelmente falhavam. Eu ainda não sei prever nada, embora tenha descoberto que imaginar onde pode dar errado ajude achar o caminho do certo, mas isso é um troço pedestre, nada comparavel a o que esses craques dai de cima se propunham.

Esse negócio de futurologia me apareceu no pensamento outro dia. No meio dessa violenta competição na qual estamos todos metidos ate o pescoço, descobri que tem muito futurista me cercando. Gente que sabe como vai ser.  Alias, acho que voces conhecem o tipo. O sujeito (ou sujeita) que diz como um conceito vai evoluir, como o experimento vai dar.  E diz com muita fé no taco. Diz com total certeza, deixando sua clarividencia mais patente que a peruca de  Eike Batista.

Eu não tenho um pingo desse saber dentro de mim. Mas, como esse fenótipo parece vender muita carambola na praça de Bethesda, eu hoje vou arriscar uma futurologia meio fuleira….

O futuro, meus caros, será simples.  

Porque digo isso? Porque o mundo do complicado vai acabar. Eu digo isso movido mais por uma alergia tinhosa a arrogancia, confusao e desmantelo, do que mesmo por sabença. Tem que acabar. E vai acabar porque nos vamos entender que o mundo do complicado deve ficar pra tras.

O mundo do complicado sempre foi dominado pelos sujeitos metidos a besta. Lembro perfeitamente quando comecaram a aparecer os Macs e meus colegas mais sabidos diziam que aquilo era coisa de loser, que quem era tampa não usava aquilo. Hoje voce ve os profetas do apocalypse dizendo que o mundo do saber total nos tragara. Esse pessoal e’ parente desses outros ai de cima. Todos eles vem vestidos de preto, com a barba autoritaria do saber, dizendo que é assim, é assado, que só eles entendem… Vou dar um exemplo: uma vez estava numa reunião. Discutia-se uma nomenclatura pras quimiocinas. Eu estava defendendo que se simplificasse a coisa. Tinha quimiocina com 4, 5 nomes…Exemplo: Antes da nova nomenclatura existiam pelo menos 4 nomes pra CCL21… SLC, 6Ckine, TCA-4, Exodus-2…Imagine isso multiplicado por 40…Não é que aparece um sujeito que diz: pra que simplificar? Vamos deixar assim porque assim só a gente entende…

Existem sinais de que uma mudança está em curso. Existe já a percepção que nossa forma de comunicar saber deve mudar. Prestem atenção no esforço que os grupos editoriais estão pondo em facilitar o entendimento dos papers. Prestem atenção as interfaces dos computadores, dos eletronicos que carregamos. Os seres humanos anseiam por simplicidade, porisso acredito que o simples será a norma, não o confuso, o hermetico, o cheio de dedo.

O futuro não será feito de setinha. Não vai ser de compartimentinho tipo TH1/Th2. Será mais complexo, mas não sera tão zonado. Não existirão tantos profetas trabalhando em “sistema”, modeling e dizendo que voce, seu ignoramus, é uma besta quadrada porque não sabe lidar com uma equação diferencial. Esses sujeitos devem ser chamados do que são: mistificadores.  Atenção, não estou dizendo que não existe valor ou interesse em modeling. Estou dizendo que tem mistificação. Gente pouco criteriosa que aposta na lorota e na engambelation.

Bom, quem vai acabar com essa praga daninha? Quem vai fazer isso acontecer? Voces. O mundo de voces é infinitamente mais simples. Voces nasceram conquistando tudo que para nos era impossível. Me espanto vendo que voces dominam a linguagem tecnologica do berco. Voces exigem um mundo mais simples, mais aberto. Isso vai da politica nova, anti-fundamentalista, até os gadgets. Vai até o questionamento politico. Vai ao cerne do mundo novo.

O mundo é complexo, mas não é intratável. Definir como intratável é abdicar do nosso mais poderoso sonho, o de descobrir.

E através das descobertas vamos ser capazes de projetar o futuro. Essa até eu sou capaz de prever, 

Afinal de contas a mecanica celeste taí de prova.

Há muito tempo.


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3 comentários:

  1. Oi Sérgio,
    Ótimo post, como sempre.
    Não entendo nada de futurologia, mas também acho que rumamos para o simples. Quanto mais conhecemos algo, melhor podemos explicá-lo. Dá muito trabalho simplificar as coisas.
    Abraço,

    PS. Só não digo que não sei o que era a "Manchete" pra não pensarem que estou com Alzheimer.

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  2. Pois é eu também sei o que é (era) "Manchete". Bons tempos aqueles.
    Mas muitos dos que leram a Manchete, como eu, estão deixando essa para outra melhor.
    Estou preocupado (também faço previsões).
    Parabéns pelo post Sérgio.
    Joao

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  3. eu lembro da rede manchete rs mas nao do futurólogo supracitado

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