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terça-feira, 11 de junho de 2013

Agora está fácil fazer seus próprios KOs!



Fonte: Cell Press



Outro dia participei de uma discussão em família sobre a ciência no país: eu estava acompanhado de dois professores da USP - um da área de humanas e outro das engenharias. A conversa 'enroscou' no seguinte dilema: não há ciência básica no Brasil. Discordei veementemente no momento, mas me encontrei várias vezes pensando neste bate-papo... fazemos, na Imunologia, muita ciência básica, não?? Depois de muito raciocinar, cheguei a conclusão que não, não fazemos ciência básica por aqui. O meu raciocínio para essa conclusão foi o seguinte: na nossa área, a fronteira do conhecimento está na manipulação de genes para criação de ferramentas. Nós, por aqui, utilizamos as ferramentas criadas por outros para aplicarmos em nossas pesquisas. Isso é pesquisa aplicada, certo? Compramos/conseguimos camundongos geneticamente manipulados a duras penas, no melhor dos casos, após 5-10 anos de suas descrições. Plasmídeos para transfecção dos genes de interesse em células idem... os exemplos são inúmeros. Custo concordar, mas tendo a acreditar na história de que nunca produzimos um único camundongo knockin/knockout tupiniquim... isso é verdade? Alguém conhece algum? Por favor, me corrijam caso tal 'causo' esteja equivocado. 

Equivocado ou não, o fato é que não é um tipo de abordagem comum por estas bandas. As técnicas iniciais para se conseguir mutações direcionadas em murinos está completando 40 anos, temos pesquisadores que dominam os protocolos, a manipulação de embriões em si não é tão complexa a ponto de inviabilizar um projeto nestas bases. Pelo que andei sondando, um financiamento tipo Edital Universal (faixa A) cobriria tranquilamente os gastos. Obviamente que há outras questões envolvidas, como a pobreza de nossos biotérios, falta de treinamento nas diferentes técnicas, etc... mas que só corroboram com o argumento inicial sobre a ausência de ciência efetivamente básica por aqui (ao menos nesta área).

Bom, não é que o pesquisador que publicou os primeiros ensaios com modificações genéticas em camundongos voltou a causar alvoroço no meio científico no mês de maio? Rudolf Jaenisch, do Whitehead Institute/MIT, publicou um artigo na Cell com um método para a modificação de diversos genes utilizando técnicas teoricamente simples, baratas, extremamente específicas e tudo isso no prazo de poucas semanas, ao invés de anos pelas técnicas tradicionais. Os autores aplicaram um sistema utilizado por bactérias para se defenderem de infecções virais, chamado CRISPR/Cas (clustered regularly interspaced short palindromic repeat/CRISPR-associated). Além de tais relatos quase milagrosos, os autores ainda sugerem que este tipo de tecnologia irá aumentar muito a gama de opções para modelos experimentais, hoje confinados a poucas espécies. 

Neste sentido, vale a pena uma reflexão: Vamos investir nesta tecnologia??? Vamos, agora, tentar fazer nossos próprios KOs/KIs???

Abraços, 
Tiago.


Referências:

Scientists revolutionize the creation of genetically altered mice to model human disease. 
Whitehead Institute, News+Publications, 02/05/2013

One-Step Generation of Mice Carrying Mutations in Multiple Genes by CRISPR/Cas-Mediated Genome Engineering.
Wang H, Yang H, Shivalila CS, Dawlaty MM, Cheng AW, Zhang F, Jaenisch R.
Cell. 2013 May 9;153(4):910-8. doi: 10.1016/j.cell.2013.04.025.

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3 comentários:

  1. Opa Tiago
    Primeiro lugar parabens pelo paper com Dario Zamboni e o pessoal no Nature Medicine. Golaco!!!!! Vamos resenhar aqui, com certeza!

    O meu segundo artigo aqui no blog foi exatamente sobre fazer bicho. Aqui...
    http://blogdasbi.blogspot.com/2010/12/amanha-de-manha.html

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    Respostas
    1. Grande Sergio!

      Muito bom esse seu post de 2010. O tema é basicamente o mesmo... o legal é essa tecnologia nova, que parece que vai facilitar muito nossa vida. Já começou a usar por aí?

      Quanto ao paper, os méritos são todos do Djalma e Dario, que acreditaram na história desde o início e que, acima de tudo, lutaram contra um sistema que cobra publicações mais rápidas e menos densas. Tomara que o exemplo seja compreendido por todos e que façam escola!

      Grande abraço,
      Tiago.

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  2. Rodrigo, me desculpe... exclui seu comentário sem querer...

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