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sexta-feira, 22 de junho de 2012

Sonhando com o Pinguim


Post por Sérgio Lira


Sexta feira passada, estava com uma passagem New York-Hong Kong na mão. Primeira perna num roteiro mixto-quente (bota quente nisso) que incluía Singapura e Guangzhou, na China. Acordei com uma gripe federal e tentei mudar a passagem. Poder podia, mais ia me custar o olho da cara... Então, o que fazer? Viajar... Já tinha me prometido não fazer dessas bobagens. Uma vez viajei doente e fiquei muito mal. Estava em Amsterdam, acordei sem ar, procurei meus amigos e acabamos batendo numa farmácia, onde cabiam no máximo 5 pessoas. Enquanto aviávamos a receita entra Johann Cruyff, ele mesmo. Só que eu tava tão mal que nem reconheci, e se reconhecesse não ia adiantar nada. Podia ter entrado a Camila Pitanga (peraí, não exagere). Fiz uma viagem do cão e fui pra casa embalar uma bronquite asmática que só curou no corticoide. Jurei que nunca mais. Mesmo. Jurei mais que político.... Vocês verão aí embaixo que o sujeito aqui é insensato e meio. Se der algum bode comigo podem escrever na tumba: a carne era fraca, o miolo idem...

A salvação é que viajei por cortesia dos novos donos do mundo, como gente, não como gado. Mesmo assim o ar seco acabou com a minha graça e ao descer em Hong Kong, apesar de todos os desentupidores, pastilhas e tal, deu uma dor no ouvido de lascar....Pior: depois de 16 horas de voo, tossindo, com febre, descobri que minha conexão pra Singapura estava 6 horas atrasada. Ou seja,  26 horas de viagem, sem cuspe. Quem mandou?

Vim a Singapura para visitar a Singapore Immunology Network, onde trabalha minha querida amiga Maria Lafaille. Maria que estava naquela foto que postei aqui no blog, e sobre a qual estou escrevendo um artigo.  Maria é uma das pessoas que conheço que saíram dos Estados Unidos em função de melhores ofertas fora. Sim, isso existe. Acabou o tempo que os EUA eram o paraíso na terra. Aqui também trabalha Florent Ginhoux, star postdoc da minha colega Miriam Merad, que veio pra cá atraído por melhores condições de trabalho.

Encontrei com Maria, fomos almoçar num mall na frente do hotel. Tem mall de dar na canela. Fomos comer num thai e depois tomar sorvete de lichee com manga. Sim, o lugar é tropical.... Voltei pro hotel, e tentei dormi. Que nada... Gripe com jetlag, que inferno.  Como é que essa imunologia da gente não resolver um troço banal feito infecção por rinovírus?

No outro dia fui dar o talk.  A Biopolis, onde fica o SIgN, é um Weizmão. Tem muitos institutos, supermodernos. Singapura está fazendo um mega investimento em ciência. 3.5 % do GDP by 2015.  Uma cidade estado, um dos paises mais ricos do mundo. Porto, finanças, refinarias de petróleo, e agora jogatina. O lugar é supermoderno, não tem corrupção, e avaliado como o melhor lugar para fazer negócios no mundo. Mas apesar dessas maravilhas, tem, como a China, suas incongruências (embora não tão dramáticas).  Aqui por exemplo, o homossexualismo é contra lei.

Bom, voltemos. A imunologia foi estabelecida em 2006. É dirigida pela Paola Castagnoli, com quem conversei. Ela montou uma estrutura híbrida, quase uma biotech, com a missão de fazer imunologia humana. Com uma clara ambição de vender serviços, criar companhias. Tem claro, pesquisadores em camundongos, como Maria, que trabalha em asma. Olha, pro tempo de vida, o departamento esta muito bem. Varias pessoas publicando bem, a infra super bem montada. Do ponto de vista de equipamento, está melhor montada do que a gente no Sinai. Tem um nanostring e tem um CyTOF, muitos sorters, uma bioinformatica com 15 pessoas, e um grupo de techs calibrados. Pagam bem e parecem harmônicos, embora, suspeito que existam issues. Um dos issues é que os donos da bola, os sings, podem mudar as regras do jogo overnite. Fizeram isso com o instituto de genomica, um dos primeiros que montaram. Resultado: êxodo de varias rapaziadas. Os grupos são grandes (os seniors tem 10 pessoas, os júnior 5) embora Paola insista que esse numeros sao pequenos. Quase sugeri que ela desse um passeio nos labs americanos. Na terra de Barack, 10 pessoas já é sobrepeso. Maria me diz que o povo não trabalha duro. Viaja, vai pra Bali, Angkor Vat... Eu, se tivesse lá, também viajaria.... Aliás, com certeza não estaria lá.  Fugi do calor estoporento de Recife. Agora imagine esse dito calor, 86 horas longe de sua mãe, sem praia... Nem a pau. É, claro, no centro da Ásia, um mega hub. Tudo é luxo. As condições são espetaculares. Mas suspeito que os sings não estão atrás de estabelecer um polo de ciência. O game plan deles e treinar pessoas pro mercado de trabalho, criar companhias de biotech. Isso pessoalmente não me atrai, porque a estratégia é o negócio, em vez do conhecimento. Tô fora.  Embora existam poucos lugares pra trabalhar no momento que te ofereçam tantas condições assim, suspeito que a maioria das pessoas que vieram pra cá, vieram passar uma chuva (o que tem aqui em abundância, lembrem-se que Singapura está 134 km ao norte do Equador).

Dito e feito, tô indo embora, 68 horas depois que cheguei. Muito pouco tempo pra avaliar direito. E por cima, a gripe não ajudou. Mil obrigados a Maria pelo carinho, e por ter me convidado. Depois da China meu próximo destino é Ribeirão Preto. Depois de tanto calor, vamos ver se o Pinguim refresca....

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5 comentários:

  1. Ah, professor, aí o problema tá feito: para o calor de Ribeirão, nem Pinguim resolve... Trabalhar em Ribeirão deve ser o sonho de qualquer chefe de laboratório pilhado: os alunos saem para almoçar e em menos de 30 min já estão de volta, no aconchego de um lab com ar-condicionado... No calor, os experimentos devem render mais do que um grupo de chinês e indianos trabalhando juntos, hehehe. Adorei o post. Como sempre, espetacular...

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  2. Sensacional post...por mais que seja bom aqui na Terra de Barack, admito que as vezes sinto falta do gostinho do chopp do Pinguim que é único..!E olha que tem cerveja boa aqui hein...!!!haha

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  3. Querido Sergio,
    adorei o "Tô fora porque a estratégia é o negócio, em vez do conhecimento.."

    Se por acaso tiver qualquer sinal de rinovirus a vista antes da sua vinda a gente muda a passagem, altera o compromisso... faz qualquer negócio ;-)

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  4. Prof Sergio,

    nós, alunos e docentes da comissão organizadora do IX WorkShop em Imunologia e da pós-gradauação em Imunologia Básica e Aplicada da FMRP-USP, aguardamos com ansiedade a sua chegada e de todos os palestrantes convidados para nosso evento. Estamos trabalhando para que o evento seja bem-sucedido e agrade a todos.

    Aproveito para reforçar o convite a todos os alunos, pos-docs e docentes. Acessem o site do evento e inscrevam-se http://workshopimuno.com/

    Além disso, nesse ano nos esforçamos para integrar ao máximo os alunos do nosso V Curso de Inverno ao Workshop. Cremos que será uma ótima oportunidade para eles (e para nós, por que nao?).

    E não se preocupe Prof Sérgio com nenhum vírus, bactéria, nem nada, pois o chopp de Ribeirão tem propriedades medicinais - experiência prórpia - hehehe

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  5. É professor Sérgio estamos esperando o senhor aqui em Ribeirão... A estratégia aqui é o conhecimento.
    Post muito bom como sempre!!!!!!

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