Os tecidos
epiteliais, incluindo a pele, estão situados em locais onde são constantemente expostos
a diversas substâncias tóxicas presentes no ambiente. As células dendríticas
residentes na pele surgem como vigilantes imunológicos e, em cooperação com as
células de Langerhans (LCs) da epiderme, tem papel importante na ativação das
reações imunológicas deste tecido.
Recentemente
foram demonstrados novos papéis exercidos por estas células, sendo um deles
essencial para regulação da hipersensibilidade de contato (CHS), uma resposta
mediada por células T CD8+ e induzida por agentes químicos
conhecidos como haptenos, que podem estar presentes em fragrâncias, metais,
preservativos e drogas. Nesse sentido, Agüero e colaboradores (2012) utilizaram
um modelo de indução de tolerância à haptenos para demonstrar in vivo que as LCs capturam haptenos
“fracos” (DNTB), migram para o linfonodo e apresentam para linfócitos T CD8+
e T CD4+ Foxp3+ via MHC I e MHC II respectivamente,
tendo a capacidade de suprimir a resposta citotóxica de células T CD8+ efetoras,
tornando-as anérgicas, além de induzir a proliferação e ativação de células T
reguladoras (aqui). Esta
capacidade de tolerizar esta resposta imune é benéfica, pois protege contra a
hipersensibilidade de contato.
As LCs
também apresentam função inata, importante na remoção e processamento de impurezas
presentes na epiderme. E, diante do conhecimento que hidrocarbonetos
poliaromáticos (PAH) (agentes com potencial carcinogênico) estão presentes na
atmosfera e há a possibilidade de contato da epiderme com tais compostos, foi
feito um questionamento sobre quais seriam as consequências da captação de tais
compostos pelas LCs, visto que em 2008, Strid e colaboradores observaram que
camundongos sem células de Langerhans são resistentes ao carcinoma de pele
induzido pelo PAH denominado 7,12-dimethylbenz[a]anthracene (DMBA) (aqui).
Com o
objetivo de investigar porque camundongos desprovidos de células de Langerhans
são resistentes ao carcinoma de pele induzido por DMBA, Modi e colaboradores
(2012) descrevem um novo atributo das LCs, porém com consequências
desfavoráveis ao hospedeiro, mostrando um lado “negro” destas células nunca
antes visto (aqui). Os autores descobriram que para que o câncer se
desenvolvesse, este composto aromático deveria ser metabolizado pelas LCs e o
produto gerado por elas (3,4-DMBA diol) seria captado pelos queratinócitos
adjacentes, que por sua vez transformariam 3,4-DMBA diol em DMBADE, um
metabólito genotóxico e oncogênico. Na ausência das LCs essa sequência de
eventos metabólicos não é completa e a doença não se desenvolve. Elas estariam
entregando ao “próximo”, algo que se processado é carcinogênico! Muy amiga,
né?!
Diante
destes novos conhecimentos sobre a biologia das LCs e suas funções, seja ela
agindo como uma célula apresentadora de antígenos ou como processadora de
compostos que podem derivar metabólitos ainda mais tóxicos, as possibilidades
estão abertas para entendermos de forma cada vez mais surpreendente como elas
atuam na saúde e na doença.
Post de
Luiz Gustavo Gardinassi, Éverton Padilha e Rafael Prado
Gostei da primeira figura do post!
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