No Journal dessa semana
abordamos as funções recentemente descobertas de um subtipo de células
linfóides inatas, as LTis (Lymphoid Tissue inducer cells). Estas células, que
tem como principal característica a expressão de RORγt, foram descobertas a
cerca de 20 anos e são as principais responsáveis pelo desenvolvimento de
alguns órgãos linfóides secundários, como os linfonodos e placas de Payer no
feto. Os mecanismos pelos quais esses órgãos são gerados baseiam-se na
interação da Linfotoxina α1β2 presente nas LTis com o receptor LT-βR das
células do estroma, ativando estas últimas a produzirem quimiocinas, as quais
induzem a migração das células imunes para constituir o órgão. Após a formação
dos órgãos linfóides, as LTis tornam-se fontes inatas da produção de IL-17 e
IL-22. A IL-22 é primariamente associada à manutenção da integridade de
barreiras epiteliais e indução de moléculas antimicrobianas inatas. Dessa
forma, novos estudos estão demonstrando que as LTis não possuem apenas um papel
essencial durante a embriogênese, visto sua associação com reparo tecidual em
órgãos como intestino, fígado e pele. Mas teriam elas um papel na regeneração
de órgãos linfóides em adultos?
Scandella et al. mostraram um papel essencial das
LTis na regeneração do baço em camundongos adultos após infecção viral. Os
autores demonstraram que após infecção com o vírus da coriomieningite
linfocítica ocorre a morte de células estromais infectadas pertencentes à zona
de células T no baço, ocasionando a desestruturação temporal do órgão e consequente
perda funcional. Em consequência ao microambiente inflamatório gerado, ocorre
proliferação e recrutamento das LTis para o local, que por sua vez, aumentam a
expressão de LTα1β2. A interação LTα1β2 - LTβR ativa as células estromais,
aumentando a produção das quimiocinas CCL19 e CCL21, favorecendo a migração de
células T para o local e a restauração da integridade do órgão de forma semelhante
ao que ocorre durante a organogênese dos linfonodos e placas de Peyer.
Recentemente, Dudakov et. al., exploraram com maiores detalhes
a regeneração do timo após irradiação (Figura 1). O timo é um órgão essencial
para o desenvolvimento da imunidade adaptativa, particularmente, para o
desenvolvimento de células T. Algumas condições podem afetar a função deste
órgão, incluindo tratamentos terapêuticos, como quimioterapia e irradiação,
além da involução com a idade. Esses fatores predispõem à deficiência imune,
aumentando a suscetibilidade a infecções. No trabalho, os autores demonstraram que
após lesão tímica, especificamente após depleção de timócitos duplo positivos,
ocorre a produção de IL-23 por células dendríticas tímicas estimulando a produção
de IL-22 por LTis locais. Essa cascata de eventos induz a sobrevivência e
proliferação das células epiteliais tímicas, essenciais ao desenvolvimento dos
timócitos. Uma vez que a celularidade tímica é restaurada, a produção de IL-22 é
estabilizada. O grupo mostrou ainda uma nova possibilidade terapêutica desta
citocina, visto que a administração de IL-22 foi eficaz na regeneração do timo
após lesão induzida por irradiação.
Estes mecanismos associados
à função restauradora das LTis nos órgãos linfóides em adultos abrem
perspectivas do uso clínico destas células em situações nas quais ocorre perda
da integridade física e funcional desses órgãos, sejam elas causadas por
infecções ou por lesões químicas e/ou físicas.
Figura 1. Esquema
representativo da função das LTis na regeneração tímica.
Post
de Milena Sobral, Luana Soares e Thaís Bertolini
Nat Immunol. 2008 Jun;9(6):667-75.
Science. 2012 Apr 6;336(6077):91-5.
Science. 2012 Apr 6;336(6077):40-1.
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