A
homeostase das células dendríticas (DCs) na periferia do sistema imune resulta
de um balanço entre progenitores, geração, migração e morte das mesmas. Sob
condições normais, a quantidade de DCs convencionais (cDCs) nos tecidos linfóides
e não linfóides é constante, e resultado da migração de progenitores chamados
pré-cDCs que, após a diferenciação em cDCs, ainda proliferam por algumas
gerações. A presença das cDCs em alguns tecidos da periferia também se deve à
diferenciação de monócitos.
Durante
o processo inflamatório, o número de DCs nos órgãos linfóides é drasticamente
alterado, podendo ser diminuído por excesso de ativação e morte por apoptose,
ou pela migração para sítios de infecção ou outros órgãos. Quando as cDCs saem
do local onde residem para migrar para os órgãos linfóides, elas entram em
contato com várias células que foram ativadas que produzem citocinas capazes de
alterar o fenótipo destas cDCs. Após o final do processo inflamatório, a
quantidade de cDCs volta à normalidade com o recrutamento de progenitores,
proliferação in situ de cDCs recém
diferenciadas, e também com a diferenciação de monócitos para DCs inflamatórias
.
O
trabalho do grupo de Mark Catrall, em Toronto no Canadá, demonstrou que os
progenitores de cDCs provenientes da medula óssea de camundongos proliferam e
diferenciam-se em cDCs, mas após alguns dias de cultura, estas células perdem o
fenótipo de DCs, diminuindo a expressão de CD11c e MHC II e adquirem morfologia
e comportamento típico de macrófagos, como a alta capacidade de adesão às
placas de cultura. Utilizando cultura de pré-cDCs juntamente com uma monocamada
de células estromais derivadas de fibroblastos murinos, o grupo observou a
diferenciação destas células em cDCs funcionais, capazes de estimular a
proliferação de linfócitos T, quando pulsadas com OVA e co-cultivadas com
linfócitos T provenientes do OT-I. A partir dos 10 dias de cultura, as células
derivadas destas cDCs, chamadas de DC-d-M (do inglês, DC derived macrophage),
reduzem a capacidade de ativar linfócitos T, sugerindo uma possível função
reguladora destas APCs.
Esta
função reguladora foi mais evidenciada pela alta expressão de marcadores como
PDL-1, alta produção de IL-10 e óxido nítrico quando estimuladas com LPS
(produção comparada às cDCs nos primeiros dias de cultura e também estimuladas
com LPS). Quando foram utilizados antagonistas dos receptores que sugerem o
fenótipo regulador destes DC-d-M, observou-se a reversão da capacidade
antiproliferativa com a inibição da enzima iNOS, impedindo a produção de óxido
nítrico, já conhecido como capaz de inibir a proliferação de linfócitos.
O
nosso velho conhecido GM-CSF, frequentemente utilizado para a diferenciação de
DCs de precursores da medula óssea de camundongos e também para diferenciação
de monócitos humanos em DCs, também tem um papel importante nessa geração de
células DC-d-M. Apesar de haver produção de mRNA para esta citocina nas células
estromais utilizadas na cultura de pré-DCs, esta não foi observada no
sobrenadante da cultura. Pelo contrário, foi observada a produção de M-CSF, uma
citocina responsável pela diferenciação de macrófagos. A geração de DC-d-M foi parcialmente
revertida com o bloqueio de IL-6 e M-CSF, e totalmente revertida com a adição
de doses crescentes de GM-CSF sugerindo que o microambiente no qual os
precursores de DCs se encontram é responsável tanto pela diferenciação de cDCs
quanto pela transformação destas células em “macrophage-like”. O GM-CSF agiria
como uma citocina que resgataria a cDC da sua sina de transformar-se em
macrófago. A importância desta transformação foi evidenciada por este grupo
durante o crescimento de tumores murinos. A aparição de células DC-d-M com
capacidade supressora pode ter grande papel no estabelecimento de tumores,
visto que elas estão presentes em maior número nos animais nos quais foi
induzido o desenvolvimento do tumor.
Estes
resultados abrem nossa cabeça para pensarmos em como a ontogenia de DCs e
macrófagos pode ser regulada. A presença de quantidades de GM-CSF no milieu
inflamatório é capaz de regular a quantidade de cDC que, na ausência deste e na
presença de outras citocinas, evoluem para um tipo de macrófago regulador. A
aparente plasticidade destas cDCs recém geradas pode ajudar pesquisadores a
pensar em novas maneiras de manipular a resposta imune durante uma infecção,
câncer e até autoimunidade.
Referências
Diao J, Mikhailova A, Tang M, Gu H, Zhao J, Cattral MS. Immunostimulatory
conventional dendritic cells evolve into regulatory macrophage-like cells. Blood., 2012 May 24;119(21):4919-27. Epub 2012 Apr 6.
Post de Thais Boccia
Doutoranda do Centro
de Terapia Celular e Molecular - CTC-Mol
Universidade Federal
de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário