Sexta feira 13, Cris? Será o Benedito? Hoje é o dia do azar, da urucubaca, do infortúnio….E como o infortúnio é companheiro nosso, aqui vai bala. Listemos os 13 infortúnios…
1. Falta de idéias. Infortúnio mais comum do mundo, ataca grande parte da nossa raça. As vezes fica cronico, e aí, lascou, o sujeito vira dona Lurdinha (como voces sabem, a funcionaria padrão da terra de Vera Cruz). Um amigo meu me dizia que a diferença dos normais pros genios é o numero de idéias por dia. Um sujeito normal, num dia inspirado, tem uma ou duas idéias. O genio tem 30. Como 99.9% do que a gente pensa tá errado, o genio sai na frente.
2. Falta de grana. Óbvio que não adianta ter 15 idéias se não se pode testá-las. Antigamente era desculpa no Brasil.
3. Falta de massa crítica. Na minha época de estudante a gente escutava muito falar de massa crítica. Suspeito até que se fumava a tal. Massa crítica é ter um bocado de gente boa pra conversar. Hoje estou convencido que o melhor negócio do mundo é estar num lugar cheio de gente boa. Num ofidário. Pra voce dizer um negócio e ter um sujeito que te diga, olha, não acho não. Voce já viu isso aqui? E porque não fez isso? O pior negócio é estar rodeado de gente sem interesse em nada.
4. Falta de mão. O sujeito sem mão é um garfo sem dente. Um individuo desse lhe acaba o sábado, o humor, e o dinheiro. É infortúnio frequentemente associado com incapacidade de cozinhar (voltarei ao tema). Falta de mão associado com bocão é caixão e vela preta (tradução: é a morte)
5. Falta de tesão da sua parte ou de seus associados. Um infortúnio desgraçado em voce, pior nos seus associados. Contagioso. Em alguns casos resistente. Infortúnio que vem frequentemente associado com o seguinte tipo de pergunta: mas será que eu preciso fazer isso mesmo? Não da pra fazer semana que vem? Ou, eu apenas trabalho aqui, isso é o meu trabalho. Infortúnio primo do eu mando um e-mail e vejo. Quem quer não manda e-mail. Vai, agarra no pescoco, e beija na boca. Afeta com frequencia gente feito neon, elemento químico que não reage com ninguem.
6. Publicação perfeita por outros de resultados do seu lab. A chamada dor-de-corno científica. O sujeito tem uma idéia, se apaixona por ela, monta casa, tá levando pro altar e aparece um fulano que lhe leva o objeto do desejo, traça, e bota no jornal. Acontece tambem com gente casada, que não dá muita atenção em casa (digo, lab)… Uma variante desse infortúnio é publicação onde o sujeito esquece de propósito do que voce já publicou. Uma coisa perfeitamente desonesta. Outro dia passei por uma dessa (já passei por algumas). Abri um jornal desses brilhosos e encontrei um paper inteiro falando de algo que tinha feito há tres anos atras. O pior é que o co-autor é colaborador, e tinha visto o resultado. Dói pra cacete, mas não espere bondades dessa nossa raça. Melhor nem esquentar. O que parece o troço mais importante do mundo pra voce hoje, amanhã ninguem lembra. Esquecer é norma nesse nosso negócio.
7. A mentira. Precisa explicar? Um mentiroso dentro de um laboratório é um dos bichos mais perigosos que existem. Fazendo experimento, escrevendo paper, ou revisando o dos outros. Um infortúnio grande (e, infelizmente, frequente).
8. Revisão de paper feita por “amigos” seus. Não se iluda. Na calada da revisão, muita gente encarca, inclusive gente que voce acha que é amigo, etc. Aliás, amigo de meeting é bicho perigoso.
9. Furada. Atire a primeira pedra quem nunca furou. Infortúnio menor, ou grande paca, dependendo do bicho em questão.
10. Discutir com gente dogmática. Max Planck dizia que as vezes a única maneira de convencer o oponente é esperar que o tal morra. Gente dogmática, intransigente, é o fim. Nem perca seu tempo com esse povo.
11. A onda que voce não pegou. Sei que muita gente pensa: ai quem me dera ter sido um Th17 de primeira hora, ou o bambamban do RNAi, ou o Zé da epigenética…Mas não esquente: onda tem o tempo todo. Voce sempre pode pegar uma nova…
12. A rejeição. Num universo paralelo, a onda que voce não pegou se chama a patota na qual voce não entrou. Esse pessoal lhe causa com frequencia o mais pedestre dos infortúnios: a rejeição social. A outra também comum, a das revistas, pode vir de supersonico (aquela que nem passa pelo revisor), mas frequentemente vem de jegue. Literalmente. Vem geralmente nas sexta-feiras, fechando o expediente, que é pra voce não ligar pro jornal. Nossa reação mais frequente é: o mundo tá contra mim, o sujeito que revisou é um jegue, foi a patota. Ninguem passa incólume por uma rejeição. É escutar que seu filho é feio. Pior, feio -e- burro. É de lascar! Aqui vai minha modesta receita pra tratar esse tipo de infortúnio: respire fundo e use um espelho. Nem tudo que é argumento contra seu trabalho é ruim, nem toda rejeição é completamente errada. O pior tipo de reação é se fazer de vítima. Outra coisa: rejeição não se cura com esporro. Se depois do remédio que prescrevi voce achar que os caras estão errados, vá a luta. Mas seja educado e saia por cima, na lógica. Ligue pro editor, escreva uma boa carta, argumente. Se não der, paciencia (leia de novo o #10), tome um uísque, peça um dengo ao ser amado, e mande pra outro jornal.
13. Azar. É o creu. Não sei se tem coisa pior prum pobre dum cientista. Acho que pior que isso só nascer supersticioso.
Bom fim de semana pra voces.
"Quem quer não manda e-mail. Vai, agarra no pescoco, e beija na boca."
ResponderExcluirPerfeito, Sérgio.
E ai Sérgio,
ResponderExcluirmuito bacana os 13 infortúnios. O da rejeição por exemplo, até que me deu um sossego.
E dá-lhe uísque pra aguentar a rejeição. E o tal do mecanismo.
Abraço
opa bruno, acredite se quiser, estou tomando uma cachacinha aqui com meu pessoal porque um paper do lab foi aceito hoje, sexta feira 13. tudo pode acontecer na vida...
ResponderExcluirem tempo, a foto ai de cima fiz de um quadro de uma menina de recife que se chama joana lira ( que nao e minha parente..)
Quando eu li "Será o Benedito?", pensei: -esse post é do professor Lira. =)
ResponderExcluirÉ o máximo as suas caracteristicas nordestinas ainda presentes, mesmo depois de tanto tempo nos EUA. Admiro demais, abração professor.
Ah... parabéns pela publicação do paper =)
ResponderExcluirDr:Sérgio
ResponderExcluirPra ser bem breve posso dizer que com seu texto você faz psicoterapia,pois uma frase como:"O pior tipo de reação é se fazer de vítima."Só pra citar essa, vale muito.Então além de ensinar valendo para o campo científico você é capaz de ensinar a observar os ângulos de uma visão,interpretação,sensação,rejeição...
Grata pelo texto.Bom demais menino!
opa lourdes, fiz, gostei, e me dei alta. obrigado pelo comentario.
ResponderExcluirmonique, voce podia me ajudar a entender de onde é que vem essa expressão?
Parece que vem daqui, professor.
ResponderExcluirhttp://www.recantodasletras.com.br/redacoes/99377
Dr;Sérgio
ResponderExcluirQuando comentei acima o texto eu queria dizer que dá forma clara como expressa no texto(muito rico,bom todo, como diz nosso povo) é capaz de refletir o comportamento humano,sem ser no divã ou consultório e assim valendo uma ida ao psicoterapeuta.Entendeu?
Entendi. Bom fim de semana pra voce.
ResponderExcluirAo começar a ler também já sabia que o post era do professor Sérgio Lira. Muito bom... A minha frase preferida. "Nem tudo que é argumento contra seu trabalho é ruim, nem toda rejeição é completamente errada."
ResponderExcluirMais um excelente post Sérgio!!!! Cheio de ótimas reflexões! Os 13 infortúnios são situações que nos deparamos a todo tempo na ciência e muito legal o seu jeito de descrever cada um deles com muito humor e descontração! Fantástico!
ResponderExcluirGK e KG, muito obrigado pelos comentarios! GK, eu vou ter que trabalhar muito pra superar a sua marca de 458 divertidos...Kelly espero que voce esteja gostando do seu estagio aqui.
ResponderExcluirSe vierem por aqui venham nos visitar (temos varios blogueiros por aqui...).
Abraços
Acho que tudo e' questao de ponto de vista. Dia 13 de maio, sexta-feira, alem de Abolicao dos Escravos e dia de Nossa Senhora de Fatima, tambem foi inicio do Congresso da Associacao Americana de Imunologistas (AAI, 2011) em San Francisco, California... Talvez justamente pra tentar acabar com ou pelo menos diminuir um pouco os estigmas e supersticoes da sociedade... Mas sei que e' complicado. Tanto que houve apenas um poster sobre IL-35 e nenhuma palestra. Por enquanto ainda nao esta' na onda, pelo menos por enquanto... rs. Sera' que vai ser um dia? So' esqueci de tirar uma foto da lua cheia, que estava enorme. Mas depois nublou, choveu e ela sumiu, levando junto a chance de tirar uma foto de cartao postal. Enfim, restou curtir o resto do congresso no Museu de Arte de Moderna (MoMA).
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