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quinta-feira, 26 de maio de 2011

Regulação da flora bacteriana por receptores da imunidade inata



Fonte: Stecher B, Robbiani R, Walker AW, Westendorf AM, Barthel M, et al. (2007) Salmonella enterica serovar Typhimurium exploits inflammation to compete with the intestinal microbiota. PLoS Biol 5(10): e244. doi:10.1371/journal.pbio.0050244


Hoje escrevo sobre um novo conceito que está se estabelecendo na área de imunidade inata.

Há algum tempo a flora microbiana ocupa bom espaço entre as publicações de alto impacto. Recentemente, surgiram diversos trabalhos que indicam que a flora bacteriana é dinâmica (isso já sabíamos) e regulada por receptores da imunidade inata. Utilizando camundongos deficientes para receptores da imunidade inata (principalmente os Nod-like) diversos pesquisadores encontraram diferenças na flora bacteriana dos animais nocautes quando comparado aos tipos selvagens (mantidos no mesmo biotério e condições de manutenção, é claro).

Importante mencionar que as diferenças observadas na flora dos animais foram responsáveis pelos fenótipos encontrados...

Dois deles merecem destaque:

Trabalho do grupo do Koichi Kobayashi, de Harvard, demonstrou que Nod2 regula a flora bacteriana comensal e que por sua vez contribui para a regulação da homeostase da mucosa. Consequentemente, a deleção de nod2 promove desbalanço da homeostase e ressulta em maior susceptibilidade as infecções (Pubmed aqui). Vale ressaltar que mutações em nod2 são os maiores fatores para predisposição ao desenvolvimento da doença de Crohn em humanos. Então tem mais por vir: a flora de humanos com polimorfismos em nod2 é diferente? É isso que predispõe o desenvolvimento dessa colite?

Conforme comentado no post sobre o congresso Toll2011, o grupo do Flavell demonstrou (agora já no pubmed) que um novo receptor Nod-like (NLRP6) regula a manutenção de uma flora microbiana especifica composta por bactérias da família Prevotellaceae. Esse processo ocorre de maneira dependente de: NLRP6, ASC, Caspase-1 (novo NLRP6 inflammasoma), IL-18 e CCL5. A deleção de qualquer um desses genes predispõe os animais ao desenvolvimento de colites. Elegantemente, quando os animais KO e WT foram mantidos nas mesmas caixas, os fenotipos desaparecem (ou seja as Prevotellaceae são transmitidas de uns para os outros e os WT se comportam como KOs).


O menu de trabalhos nessas linhas é grande e deve aumentar.
Isso levanta um ponto muito importante: quando realizamos experimentos com camundongos nocautes não realizamos (por dificuldades metodológicas) complementação gênica (ou seja: colocar o gene de volta e restaurar o fenótipo do tipo selvagem). Consequentemente, nunca temos certeza se o gene em estudo é diretamente responsável pelo fenotipo observado ou se o processo ocorre de maneira indireta (mediado pela flora, por exemplo). Adicionalmente, esses trabalhos deixam um alerta sobre a importância de mantermos WT e KO nas mesmas condições de biotérios e se possível mas mesmas caixas...


Conforme já sabiamos, a flora bacteriana regula a expressão de genes da imunidade inata. Agora parece que o mesmo aconteçe the other way arround. Só não pode perguntar quem veio primeiro: o ovo ou a galinha...


PS. Palestras sobre o tema serão apresentadas durante o IMUNOFOZ 2011, não deixe de participar.

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3 comentários:

  1. Acho esse tema simplesmente fantástico! Agora uma perguntinha: o certo é flora ou microbiota? :)

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  2. Legal Cris, eu provavelmente usei flora por costume de uso...

    Pelo Google Schoolar,tem 5.530 artigos científicos com flora bacteriana contra 487 com microbiota bacteriana. Mas de qualquer forma, microbiota me parece mais apropriado já que bactéria é micróbio e não é fauna nem flora...

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  3. Opa excelente post!!!!! Uma possibilidade no momento é que os pacientes que são defeitusos em Nod2 pode ter uma flora diferente e isso influenciar na doença inflamatória intestinal desses indivíduos.

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