Há algum tempo, a Cris Caldas escreveu um post em que comentava uma revisão interessante publicada no ano passado pelo grupo liderado por John Bienenstock. Relembrando este post da Cris, nesta revisão, os autores argumentam sobre a possibilidade de que alterações comportamentais, ou estados de humor, estejam diretamente relacionados ao padrão da microbiota intestinal. Relatam que a microbiota é fonte de uma série de substâncias que podem afetar diretamente o epitélio intestinal, as aferências nervosas presentes no órgão e as células do sistema imune presentes na mucosa. A relação entre microbiota e a resposta imune local na mucosa do intestino tem atraído muita atenção nos últimos tempos. Vários artigos têm destacado o desenvolvimento preferencial de diferentes subtipos de células T CD4+ dependendo de que tipo de bactéria coloniza o intestino de camundongos. O Dario também já escreveu posts sobre isso (aqui e aqui). Assim, há trabalhos que reportam bactérias que poderiam favorecer a expansão ou geração de células T reguladoras e artigos que apontam outras bactérias que favoreceriam a produção de IL-17 ou IL-22 no intestino. Uma das bactérias descritas como capazes de induzir respostas imunes no intestino com predominância de IL-17 é a Citrobacter rodentium, uma gram negativa. Neste caso, a morte por apoptose de células infectadas seria o fator responsável pela geração de células Th17. Até que ponto essas diferentes respostas imunes geradas em função de diferentes microbiotas poderiam estar diretamente associadas a mudanças de humor ou de comportamento? E memória? Não a imunológica, mas aquela com sede no sistema nervoso central mesmo. Seria esta influenciada pelos mesmos fatores? Um artigo publicado em março de 2011 na revista Gut levanta essa questão. Os autores usaram modelos experimentais para investigar a memória de animais germ-free e de animais infectados com Citrobacter rodentium. Os animais infectados, a princípio, não apresentaram alterações de memória quando comparados aos controles. No entanto, quando expostos a uma situação de estresse, os animais infectados apresentaram prejuízo de memória. A deficiência de memória deixou de ser observada quando os animais foram tratados com probióticos. Curiosamente, os animais germ-free, independentemente de passarem ou não por situação de estresse, também apresentaram deficiências de memória que puderam ser observadas em dois modelos experimentais. O artigo não faz conexões entre esses achados e a resposta imune em animais infectados ou germ-free. Será que elas existem?
Gareau MG, Wine E, Rodrigues DM, Cho JH, Whary MT, Philpott DJ, Macqueen G,Sherman PM. Bacterial infection causes stress-induced memory dysfunction in mice.Gut. 2011 Mar;60(3):307-17.Round JL, Mazmanian SK. Inducible Foxp3+ regulatory T-cell development by acommensal bacterium of the intestinal microbiota. Proc Natl Acad Sci U S A. 2010Jul 6;107(27):12204-9.Ivanov II, Atarashi K, Manel N, Brodie EL, Shima T, Karaoz U, Wei D, GoldfarbKC, Santee CA, Lynch SV, Tanoue T, Imaoka A, Itoh K, Takeda K, Umesaki Y, HondaK, Littman DR. Induction of intestinal Th17 cells by segmented filamentousbacteria. Cell. 2009 Oct 30;139(3):485-98
Torchinsky MB, Garaude J, Martin AP, Blander JM. Innate immune recognition ofinfected apoptotic cells directs T(H)17 cell differentiation. Nature. 2009 Mar5;458(7234):78-82.
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