BLOG DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE IMUNOLOGIA
Acompanhe-nos:

Translate

domingo, 2 de outubro de 2011

Journal Club IBA: Linfócitos T de memória residentes no tecido

Recentemente, tem sido documentada uma população distinta de célula T de memória específica que persiste longos períodos em tecidos não linfóides, comumente nos sítios prévios à infecção. Esta célula T de memória reside em tecidos específicos, são auto-renováveis e têm alto poder protetor contra subsequentes infecções, sendo chamadas de células T de memória residentes (Trm). Dois trabalhos apresentados no Journal Club (IBA) caracterizaram estas populações de células de memória após infecções virais distintas (VSV e Herpes vírus), e ficou claro que, para cada tipo de infecção, uma determinada população (CD4 ou CD8) é responsável pela vigilância imunológica e proteção contra uma segunda re-infecção.

Sabemos que o cérebro não é rotineiramente visitado por linfócitos que fazem a vigilância imunológica, sendo assim definido como um local imuno privilegiado. Em trabalho de 2010 publicado na PNAS, Linda Wakin e colaboradores mostraram que após um infecção viral pelo vírus da estomatite vesicular (VSV), as células TCD8 infiltram o cérebro e permanecem neste sítio por vários dias. Estas células sobrevivem sem depender da população de linfócitos T de memória circulantes e foram classificadas como uma população de células de memória diferentes, denominadas células T de memória residentes (Trm cells). Estas células expressam a molécula CD103 na superfície, e esta expressão é dependente de apresentação de antígenos no ambiente cerebral. Após o clearance do vírus, as células Trm permanecem no interior do cérebro, sob a configuração de “clusters”, não sendo necessária, portanto, a presença do vírus para manutenção desta população no cérebro. De forma interessante, as células Trm perdem a capacidade de sobrevivência e killing após serem isoladas do ambiente cerebral, evidenciando a importância do microambiante na qual elas foram geradas para manutenção da sobrevida e atividade efetora destas células.

No trabalho intitulado “Different patterns of peripheral migration by memory CD4+ and CD8+T cells”, publicado na Nature em setembro de 2011, foi avaliado a formação e função de células TCD4+ e TCD8+ de memória, e o perfil envolvido na migração destas células no modelo de infecção epicutânea com Herpesvirus tipo 1. Na fase efetora da resposta, é possível observar a presença destes dois subtipos celulares na derme e epiderme do animal, mas na fase de memória (50 dias pós infecção), ocorre uma segregação do “pool” de células presentes na pele, com um acúmulo de TCD4 na derme e de TCD8 na epiderme do local previamente infectado. As células TCD8 da epiderme ficam retidas neste local, enquanto as células TCD4 têm alta capacidade de tráfego, podendo circular entre derme e sangue. Ao avaliar a expressão de ligantes de P e E selectinas (PSL e ESL, respectivamente) por essas duas populações celulares, constata-se que ambas têm aumento da expressão destas moléculas nas fases efetoras e de memória, o que contribuiria para a migração para o tecido infectado. No entanto, o fenótipo de células TCD4 que expressam PSL e ESL na fase de memória da resposta é de efetora de memória, que seriam as células responsáveis pela vigilância do tecido. Já as células TCD8 expressando PSL e ESL são de memória central, e não teriam função na vigilância tecidual; em teoria, uma vez formado o pool de células TCD8 na epiderme, não haveria renovação destas células, visto que somente persistem células de memória central na fase de memória da resposta. Em relação às células TCD4, o “pool” de memória efetora com capacidade de migração estaria circulando entre tecidos previamente infectados, e seria a célula efetora em uma reinfecção. Para corroborar esta hipótese, é realizado um experimento com modelo de reinfecção, e, ao bloquear as células TCD4, geradas na primeira infecção, com anticorpos, não há controle da carga viral inicial perante o desafio; quando células TCD8 são bloqueadas, tal controle é observado, semelhante aos camundongos não tratados e reinfectados. Além disso, estas células TCD4 de memória efetora geradas são capazes de migrar para tecidos independentemente da presença do antígeno, o que corrobora esta capacidade de vigilância periférica. Fica estabelecido, portanto, que neste modelo de infecção, as células TCD4 de memória efetora geradas são as verdadeiras responsáveis pela vigilância imune, e que têm capacidade de migrar em direção ao tecido infectado.


Post de: Jaqueline Raymondi, Juliana Ueda e Daiani C.C Alves

Memory T cells persisting within the brain after local infection show functional adaptations to their tissue of residence. Linda M. Wakim, Amanda Woodward-Davis, and Michael J. Bevan. PNAS , October 19, 2010, vol. 107, no. 42

Different patterns of peripheral migration by memory CD4+ and CD8+ T cells .Thomas Gebhardt, Paul G. Whitney, Ali Zaid, Laura K. Mackay, Andrew G. Brooks, William R. Heath, Francis R. Carbone & Scott N. Mueller. doi:10.1038/nature10339

Comente com o Facebook :

Um comentário:

  1. Parabéns pessoal...as postagens do Journal Club IBA são sempre excelentes leituras...Abs, Álvaro

    ResponderExcluir

©SBI Sociedade Brasileira de Imunologia. Desenvolvido por: