Estamos em nova temporada de rankings de Universidades. O ordenamento de universidades parece haver se tornado uma obsessão internacional. Existem vários rankings, utilizando metodologias diferentes.
Um dos mais conhecidos é o “The Academic Ranking of World Universities (ARWU)” publicado pela Graduate School of Education, Shanghai Jiao Tong University (GSE-SJTU) desde 2003.
Há muitos outros, alguns exemplos:
Para buscar universidades em diversos rankings, há um site útil (aqui).
Estes vários rankings utilizam critérios os mais diversos. Muitos dos critérios utilizados parecem óbvios: publicações do pessoal da instituição e número de alunos, por exemplo. Outros já são mais discutíveis: percentagem de alunos estrangeiros e número de visitas às páginas da instituição, por exemplo. Alguns são inusitados: a classificação da L'Ecole des Mines de Paris, o Professional Ranking of World Universities, é baseado exclusivamente no número de Chief Executive Officers (CEO) das 500 maiores companhias da lista da Fortune. A Universidade cujo egresso é um CEO de uma destas companhias recebe um ponto. Caso haja dois CEOs, cada Universidade recebe 0,5 ponto. No caso do CEO haver cursado duas Universidades (graduação e pós-graduação, por exemplo) cada instituição recebe 0,5 ponto.
Várias das instituições rankeadoras alertam para as diferenças metodológicas e destacam a necessidade de se informar sobre isto:
“Although ARWU has ranked research universities in the world by their academic or research performance based on internationally comparable third-party data that everyone could check, there are still many methodological and technical problems. Please read the ranking methodology carefully and use the ranking results with caution. The ranking team is working hard to study the problems and improve ARWU.”
O Swiss Forum tem uma sessão sobre isto: “The methodology used by the four main ranking lists is described in detail”
Como estas lista se comparam? Não conheço um estudo muito bem feito para estabelecer correlações. Um pequeno exercício que utilizou correlação dos escores globais concluiu:
“It looks like on the basis of this extremely small and unrepresentative sample that if you had to pick just one ranking to rely on then it would have to be the Shanghai ARWU.”
E o Brasil e suas Universidades?
Qualquer que seja o ranking para classificação de instituições acadêmicas, sempre há motivo para crítica e um grau de imperfeição no resultado. Contudo, um aspecto ressalta quando são observados os diversos rankings atualmente disponíveis: a ausência de universidades brasileiras nos primeiros postos. Na maioria das listagens não há instituições brasileiras nas cem primeiras colocações.
Por mais que sejamos críticos do uso de classificações de instituições, é sintomática a ausência em todos os rankings usados, considerando que há critérios para qualquer gosto. Significativamente, discute-se pouco sobre isto. Esta não me parece uma postura correta. Precisamos refletir sobre isto, ainda que seja para concluir ao final que está tudo bem com as nossas universidades e que o problema está nos rankings.
Como os outros nos vêem? Em 2009, Jamil Salmi, coordenador de educação terciária do Banco Mundial, na publicação “The Challenge of Establishing World Class Universities”, escreveu:
“... is the most selective institution in Brazil and it has “the highest number of top-rated graduate programmes, and every year it produces more PhD graduates than any US university” mas também “At the same time, its ability to manage its resources is constrained by rigid civil service regulations, even though it is the richest university in the country.
“It has very few linkages with the international research community, and only 3 per cent of its graduate students are from outside Brazil. The university is very inward-looking.”
Nós sabemos que há muitos outros problemas. Alguns externos às universidades, como a rigidez no modelo de contratação de pessoal, as dificuldades de importação etc. Porém, mesmo nestes casos, o que as nossas instituições têm usado o seu peso para propor mudanças?
Recentemente, o Conselho de Secretários Estaduais de Ciência e Tecnologia (CONSECTI) e o Conselho de Fundações de Amparo à Pesquisa (CONFAP) propuseram uma séria de medidas para alterar o marco lega para ciência, tecnologia e inovação no Brasil. Seria interessante que as Universidades brasileiras fizessem esforço semelhante para apresentar propostas concretas de medidas que permitam o seu melhor funcionamento.
Ilustração - Melhores universidades pelo Shanghai Jiao Tong University Ranking no University Rankings Net.
Um ponto que merece reflexão, olhando os vários níveis e etapas da educação brasileira. Existe percepção generalizada na sociedade de que as melhores instituições educacionais de primeiro e segundo grau são as privadas. Essa percepção atrai os alunos que trazem a vantagem de terem nascido em famílias com recursos para boa alimentação e educação, e dispostas e investirem na educação de seus filhos. O resultado é melhor gente mais capaz saindo das escolas privadas. Isso salvo as exceções de praxe. Entretanto, curiosamente no terceiro grau a expectativa se inverte. Por que? Por que o sistema universitário privado é tão mal visto? E porque a sociedade insiste em que um modelo totalmente público e gratuito é o que deve ser buscado? Seria a educação superior um direito que precisa ser mesmo universalizado com recursos angariados sob a forma de impostos?
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