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sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Candidíase vaginal e resposta imune

Em estudo de revisão de 2014, Peters e colaboradores fazem uma breve abordagem dos avanços a respeito da imunidade inata e adaptativa na candidíase vulvovaginal (CVV) e na CVV recorrente, suscetibilidade genética na vaginite por Candida albicans, virulência do patógeno e potenciais candidatos para a terapia antifúngica nesse modelo de infecção.
A candidíase vulvovaginal (CVV) é uma forma de infecção com envolvimento mucocutâneo, sendo que cerca de 75% das mulheres com vida sexual ativa já desenvolveram ou desenvolverão ao menos um episódio dessa micose ao longo da vida. Em torno de 5% a 8% das mulheres adultas podem apresentar episódios recorrentes de candidíase vulvovaginal (Sobel, 2007; Achkar e Fries, 2010). O desenvolvimento de CVV está associado ao uso de antibiótico, anticoncepcionais orais com altos níveis de estrógenos, diabetes, entre outros fatores de risco (Sobel, 2007; Achkar e Fries, 2010). A CVV tem como sintomas mais frequentes a secreção abundante, geralmente acompanhada de irritação intensa da vagina e vulva, coceira, vermelhidão, dor e inchaço. Os custos em cuidados relacionados ao tratamento da vaginite são de aproximadamente 1,8 bilhões de dólares nos EUA anualmente (Foxman et al., 2000).
A espécie Candida albicans é uma levedura que faz parte da microbiota normal do trato gastro-intestinal de homens e mulheres e é responsável pela maioria dos casos de infecção oral e vaginal (Samaranayake e Samaranayake, 2001). Atributos de virulência do patógeno, como enzimas proteolíticas, lipases, transição morfológica da forma de levedura para hifa e formação de biofilme, são importantes na imunopatologia da CVV. O pH vaginal de 4,5 e a microbiota bacteriana mantêm o microambiente vaginal sob controle, evitando o crescimento excessivo de microrganismos, a inflamação e a injúria tecidual.
Diferentes modelos experimentais de CVV têm sido desenvolvidos para melhor compreensão da patogenicidade, busca de terapias mais eficazes, além dos mecanismos de defesa contra Candida albicans. O estabelecimento de CVV em modelos murinos requer a administração prolongada de 17-b-estradiol, hormônio este associado ao aumento de CVV em mulheres (Clemons et al., 2004; Mosci et al., 2013). O estrógeno facilita a adesão e invasão tecidual pelo fungo e além disso, promove a redução do infiltrado de leucócitos polimorfonucleares (PMN) e inibição das respostas imunes inata e adaptativa (Fidel e Sobel, 1999; Fidel, 2007).
As principais células envolvidas nos mecanismos de defesa inatos são as células epiteliais vaginais e os PMNs; receptores de reconhecimento padrão, tais como dectina-1, lectina de ligação à manose, receptor de manose, TLR-2/TLR-4 também têm sido estudados, além de uma família de proteínas de ligação ao cálcio, as “alarminas” S100A8 e S100A9, cujo papel na CVV parece estar associado à atividade quimiotática de PMNs ao local da infecção. A imunidade adaptativa envolve a participação de células T helper 1 (Th1), essenciais para a erradicação do patógeno e também, de células Th17, células g/d e T reguladoras, com papeis potenciais na imunorregulação da candidíase vaginal (Fidel, 2005; Peters et al., 2014). Alterações genéticas ou polimorfismos nos genes que codificam esses componentes podem estar associados a maior suscetibilidade e ocorrência de RCVV.
         Entretanto, o papel exato de cada um desses componentes na resposta do hospedeiro e particularmente na imunopatologia da CVV ainda é bastante controverso. É importante salientar também que os modelos murinos não reproduzem exatamente a CVV humana, visto que C. albicans não é um organismo integrante da microbiota normal de camundongos. A compartimentalização da resposta imune na infecção por C. albicans em diferentes sítios anatômicos deve ser considerada ao analisar-se os diferentes modelos experimentais de candidíase. E por fim, maior compreensão dos aspectos imunopatológicos da CVV pode contribuir para a redução dos custos anuais no tratamento dessa infecção oportunística que acomete um grande número de mulheres em todo o mundo.

Figura 1. Modelo de imunopatogênese da vaginite por C. albicans (Peters et al., 2014: Candida vaginitis: when opportunism knocks, the host responds. PLoS Pathog. 10(4):e1003965).

Referências bibliográficas

Achkar JM, Fries BC. Candida infections of the genitourinary tract. Clin Microbiol Rev. 2010;23:253-73.

Clemons KV, Spearow JL, Parmar R, Espiritu, Stevens DA. Genetic susceptibility of
mice to Candida albicans vaginitis correlates with host estrogen sensitivity. Infect
Immun 2004;72:4878-4880.

Fidel PLJ & Sobel JD. Murine models of Candida vaginal infections. Handbook of
Animal Models of Infection. London: Academic Press; p. 741-748, 1999.

Fidel PL. Immunity in vaginal candidiasis. Curr Opin Infect Dis 2005;18:107-111Fidel
PL. History and update on host defense against vaginal candidiasis. Am J Reprod
Immunol 2007;57:2-12.

Foxman B, Barlow R, D'Arcy H, Gillespie B, Sobel JD (2000) Candida vaginitis: self
reported incidence and associated costs. Sex Transm Dis 2000;27: 230–235

Bistoni F, Vecchiarelli A. Mouse strain-dependent differences in estrogen sensitivity
during vaginal candidiasis. Mycopathologia 2013;175:1-11.

Peters BM, Yano J, Noverr MC, Fidel PL Jr. Candida vaginitis: when opportunism knocks, the host responds. PLoS Pathog.2014;10(4):e1003965.

Samaranayake YH, Samaranayake LP. Experimental oral candidiasis in animal
models. Clin Microbiol Rev. 2001;14:398-429.

Sobel, J. D. Vulvovaginal candidosis. Lancet 2007;369:1961-71.

 

Post de Angela S. Nishikaku

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