Figura: Mecanismos de ação da prostaglandina E2
(PGE2) no favorecimento da infeção pelo vírus Influenza A. Após
infecção pelo influenza A, a PGE2 é secretada pelos macrófagos
alveolares, agindo de forma autócrina ou parácrina. A ligação da PGE2
aos seus receptores EP2 e EP4 nos macrófagos alveolares ativa as vias
intracelulares PI3K-AKT e/ou PKA, levando à inibição da síntese de Interferons
do tipo I, da apoptose e da apresentação antigênica nesses nos macrófagos
alveolares, culminando na maior replicação viral. Com isso, a infecção pelo
Influenza A leva à supressão das atividades imunológicas inata e adaptativa dos
macrófagos alveolares de forma dependente de PGE2 (Figura adaptada
de Coulombe
et al.).
O
vírus de RNA Influenza A é o causador de uma das doenças sazonais mais bem
difundidas no globo, a gripe ("The flu/Grippe"). O vírus é
transmitido pelo contato de fluidos corporais (normalmente saliva e secreções
mucosas) contendo partículas virais ativas. Uma vez no hospedeiro, o vírus
infecta as células alvo por intermédio da proteína capsular hemaglutinina (HA),
se replica no interior celular e evade as células infectadas pela ação da
enzima neuraminidase (NA).
A
infecção das vias aéreas pelo Influenza A desencadeia a produção de mediadores
inflamatórios pela células epiteliais e macrófagos alveolares, onde se
destacam: IL-1b,
IL-18, TNF-a e IL-12.
A Ação dessas citocinas nas células intersticiais do trato respiratório leva à
indução da enzima cicloxigenase 2 e resulta na produção de diversos
prostanóides que medeiam o processo inflamatório resultante da infeção, onde se
destaca a Prostaglandina
E2 (PGE2).
Com o
propósito de explorar o papel da PGE2
na infecção pelo vírus Influenza A, Coulombe e colaboradores 2014
realizam um estudo com delineamento minucioso e elegante. O primeiro fato que
chama atenção neste estudo é extremamente contrário às expectativas: camundongos
nocaute para a enzima responsável pela síntese de PGE2 (mPGES-1) e infectados com o vírus Influenza A
H1N1, possuem menor carga viral, maior produção de IFNs do tipo I (IFN-a e -b), maior recrutamento do macrófagos, e
consequentemente, uma redução da morbimortalidade, quando comparado aos
camundongos selvagens. Consistente com estes resultados, os camundongos selvagens
apresentaram aumento da expressão de PGE2
e dos seus receptores EP2 e EP4 quando
infectados com H1N1. Apenas estes resultados inicias do trabalho, por si só,
forneceram fortes indícios de que a PGE2 é uma vilã na infeção pelo
Influenza A, promovendo atividade supressora na resposta imune inata para
infecção pelo vírus H1N1.
No entanto, os macrófagos utilizados nos experimento
foram BMDM (Bone marrow derived
macrophages). Ao se avaliar o papel desse prostanóide nos macrófagos
alveolares, as células essenciais na
infecção pelo vírus Influenza e
outros patógenos que acometem o trato respiratório, os autores observaram que a
atividade de PGE2 nas células ocorre através dos receptores EP2 e EP4.
Também identificaram que os menores níveis de IFN do tipo I encontrado nos
experimentos iniciais deve-se ao fato da PGE2 inibir a produção de
IFN do tipo I e a fosforilação do fator de transcrição IRF3. Adicionalmente, a ativação
da via de PI3K, AKT/PKB e PKA também contribuem para a diminuição da resposta
imune antiviral.
Através de transferência adotiva de macrófagos de
camundongos PGE2 nocaute, infectados in vitro com H1N1 e
transferidos para camundongos Rag nocaute (ausente de células T e B), foi confirmado
que apenas a ausência de PGE2 é responsável por promover a atividade
antiviral na infeção pelo vírus Influenza. Concomitantemente, constatou-se o
aumento da expressão de PGE2 na infecção pelo vírus
Influenza A, contribuindo para a redução do número de células T CD8+
específicas para o vírus, provavelmente pela inibição da apresentação de
antígeno dos macrófagos.
Os autores finalizam o trabalho abordando uma
importante questão: será que a inibição farmacológica da síntese de PGE2
pode servir como um agente terapêutico contra a infecção pelo influenza A? Para
testar esta hipótese, camundongos do tipo selvagens foram desafiados com H1N1, e
posteriormente tratados com um inibidor específico
de mPGES-1, que inibe especificamente a sintese de PGE2. Se constatou
que a inibição da mPGES-1 aumentou significativamente a sobrevivência dos camundongos,
demostrando que o inibidor é eficiente quando administrado 2 ou 3 dias após a
infecção, o que indica um promissor alvo terapêutico.
Este estudo é
uma luz sobre o conhecimento do papel da PGE2 na modulação da
resposta imune do hospedeiro contra a infecção virais, em especial pelo vírus
Influenza A. Em conjunto, este trabalho é um excelente exemplo de ciência,
com descrição minuciosa dos mecanismos
de um fenômeno biológico. Além disso, um
importante fator que deve ser ressaltado foi a utilização do subtipo H1N1 do
vírus Influenza A, que é justamente o vírus responsável pela pandemia mais
devastadora já registrada, ou também, referido como o maior holocausto médico
da história da humanidade. No entanto, como todos bons estudos, que nos trazem
boas respostas, também traz consigo novas e importantes questões. Com este
trabalho, ficam perguntas como: Qual é o gatilho para a indução da
expressão de PGE2 em macrófagos alveolares após infecção pelo vírus
Influenza A? Será alguma proteína particular dos vírus Influenza, que procuram
ludibriar a maquinaria celular? Será que PGE2 possui o mesmo papel
em outras infeções respiratórias importantes como Rinovírus,
Metapneumovírus, Adenovírus, Vírus Sincicial
Respiratório?
Post de Lucas
Coelho Marlière Arruda e William Marciel (doutorandos
IBA - FMRP/USP)
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