sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
IL-37, uma nova citocina anti-inflamatória, está aumentada em pacientes na fase ativa da artrite reumatóide
Estudos mostram que a intensidade e a progressão da
artrite reumatóide (AR) está intimamente associada a altos níveis de citocinas
pró-inflamatórias (ex: TNF-α, IL-6 e IL-17A) encontradas no sangue e no tecido
sinovial de pacientes (Matsuno et al., 2002).
Atualmente, o tratamento de escolha para a AR é baseada em “drogas
anti-reumáticas de modificação da doença” (DMARDs, em inglês), tais como o
metrotrexato, as quais reduzem a inflamação do tecido afetado por meio do
bloqueio da produção dessas citocinas (Quinn et al., 2001).
Curiosamente, o TNF-α, IL-6 e IL-17A levam à produção
de uma outra citocina anti-inflamatória, a recém-descoberta IL-37. A
IL-37 é uma citocina pertencente à família da IL-1, cuja função é de inibir a
produção excessiva de citocinas pró-inflamatórias e reduzir a inflamação (Nold et al., 2010). Em estudos clínicos, a
IL-37 também pode ser encontrada em amostras de tecidos provindos de pacientes
com doenças autoimunes, entre elas Lupus, doenças de Chron e AR (Borashi et al., 2014). Porém, nenhum
estudo correlacionou a presença de IL-37 e a intensidade da AR em pacientes sob
terapias com DMARDs.
Zhao e colaboradores,
da Universidade Jilin, Changchun, China, avaliaram os níveis plasmáticos de
IL-37 em 50 pacientes recém-diagnosticados com AR (menos de 12 semanas do
início dos sinais e sintomas) antes e depois do início da terapia com DMARD,
correlacionando-os aos níveis plasmáticos de TNF-α, IL-6 e IL-17A.
Inicialmente os autores encontraram um aumento nos
níveis plasmáticos de IL-37, juntamente a altos níveis de TNF-α, IL-6 e IL-17A
em pacientes com AR. Após o uso de DMARDs, os pacientes que responderam
positivamente a essa terapia tiveram os níveis sanguíneos dessas citocinas
pró-inflamatórias reduzidos, assim como os níveis plasmáticos de IL-37.
Esse estudo sugere que a produção de IL-37 é devido à
produção de citocinas pró-inflamatórias durante a fase ativa da AR, sugerindo
que deficiências na sinalização celular da IL-37 podem estar envolvidas na
piora do quadro clínico na AR.
Post de Gabriel Shimizu Bassi
domingo, 22 de fevereiro de 2015
Nosso sistema imune atira pra todos os lados no intestino, porém apenas as bactérias patogênicas morrem. Por quê?
Figura 1: Um único grupo fosfato
carregado negativamente (roxo) torna as bactérias sensíveis a peptídeos
antimicrobianos
Nosso sistema imune deve estar sempre preparado para combater infecções
intestinais (bad bacteria) utilizando
das mais avançadas “armas” microbicidas. Dentre elas temos os chamados
peptídeos antimicrobianos (do inglês, antimicrobial
peptides, AMPs), que por sua vez são responsáveis pela destruição da
membrana bacteriana. No entanto, como as bactérias comensais (good bacteria) sobrevivem à liberação
desses peptídeos durante uma infecção, mantendo sua população estável no
intestino permanece desconhecido. Até o momento, acreditava-se que as bactérias
comensais não estavam em contato com as células secretoras de AMPs e portanto
não eram afetadas. No entanto, novos achados já demonstraram que as bactérias
comensais estão sim em contato com a camada de muco intestinal (aqui), ficando, portanto, na mira desses peptídeos
antimicrobianos. Portanto, por que apenas as bad bacteria sucumbem aos
AMPs, mas não as good bacteria? Como o sistema imune faz o
crivo? Ou qual mecanismo evolutivo as bactérias comensais desenvolveram a fim
de sobreviverem a esses peptídeos?
Para responder essas perguntas, Cullen e colaboradores (aqui) vieram demonstrar de maneira bastante elegante na
edição de janeiro da Science que
apesar de cada espécie de bactéria comensal possuir sua própria assinatura
gênica de resistência frente a uma resposta a peptídeos antimicrobianos, existe
um único gene que é compartilhado por todas as bactérias comensais analisadas.
Esse gene recebeu o nome de lpxF e
possui como função dar origem a uma fostatidil-glicerol fosfatase, que por sua
vez é responsável por catalizar a remoção de um grupo fosfato carregado
negativamente do lipídeo A do LPS (Figura 1). De forma interessante, foi
demonstrado que a bactéria comensal Bacteroides
thetaiotaomicron possui entre 680-2400 vezes mais resistência a AMPs quando
comparado a uma bactéria patogênica. Entretanto, quando as bactérias comensais
possuíam mutações no gene lpxF, tornando-se incapazes de remover
esse grupo fosfato do LPS, elas se tornavam completamente suscetíveis à ação
dos AMPs. Um dos experimentos mais bonitos do trabalho foi colonizar
camundongos germ-free com 14 espécies
de bactérias que representassem os três maiores filos encontrados em humanos
(contendo mutações ou não no gene lpxF)
e infectar esses animais com uma bactéria patogênica (C. rodentium) 7 dias depois (Figura 2, barras vermelhas). Foi
observado que bactérias mutantes para lpxF
simplesmente sumiam após a infecção com C.
rodentium, devido ao aumento da secreção dos AMPs (Figura 2B, barras
pretas). No entanto, as bactérias wild-type
permaneciam estáveis durante a "perturbação" causada pela infecção
(Figura 2A, barras pretas). Em suma, o trabalho demonstra um dos mecanismos
pelos quais nosso organismo é capaz de viver em completa harmonia com nossas
trilhões de bactérias comensais. Nas palavras do próprio autor: “A delicate balance between microbial
resilience and host tolerance thus allows for commensal persistence throughout
a diverse range of perturbations while preventing commensal overgrowth or
depletion, either of which could have deleterious effects on the host”.
Figura 2: Camundongos germ-free foram colonizados com 14
bactérias encontradas na microbiota intestinal humana e foram infectados com C.rodentium (barras vermelhas) 7 dias
depois. Barras pretas representam uma bactéria comensal sem (A) ou com (B)
mutações em lpxF.
Post de Frederico Ribeiro (Doutorando IBA/FMRP-USP)
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