sexta-feira, 30 de março de 2012
Porque sim
quinta-feira, 29 de março de 2012
Efficient capture of infected neutrophils by dendritic cells in the skin inhibits the early anti-Leishmania response
Post de Sarah Falcão
Este texto foi originalmente postado no blog dos laboratórios LIMI / LIP -Scientia Totum circumit orbem por Sarah Falcão. Como o artigo é bem atual entre os Leishmaniacos, resolvi passar adiante
A inoculação de L. major pela picada do flebótomo ou pela agulha, induz intensiva infiltração de neutrófilos (PMN) que fagocitam a maioria dos parasitas, mas falham na sua eliminação. Além disso, depleção de PMNs, antes da infecção, leva a uma rápida remoção dos parasitas. Assim, este trabalho visou monitorar a sequência de eventos inflamatórios após a infecção com L. major na derme da orelha do camundongo, observando ainda o papel dos neutrófilos na indução da resposta imune adaptativa, via interação com DCs.
Em camundongos C57BL/6, infectados na orelha com L. major-RFP metacíclicas, foi observado que Neutrófilos Ly6G+ (PMNs) surgiram no sítio do inóculo 1 hora após a infecção. O animal que sofreu manipulação com agulha, mas não foi infectado, apresentou semelhante quantidade de PMN, indicando que apenas o dano tecidual provocado pela agulha já induz o seu recrutamento. Entretanto, após 4hs, foi observado um número elevado de PMNs induzido apenas pela presença da L. major. O recrutamento de monócitos (Mo) inflamatórios (Ly6Chi) iniciou mais tardiamente, após 12hs, apresentando um pico após 24hs de infecção. Células dendríticas (DCs) derivadas de monócitos (Ly6Chi CD11c+ MHCII+) foram encontradas na orelha a partir do 7º dia de infecção, aumentando após 14 dias. Macrófagos (MØs) (MHCII+, F4/80+) e DCs (CD11c+, MHCII+) da derme, permaneceram sem grandes alterações nos primeiros 7 dias, vindo a apresentar um aumento apensa com 14 dias de infecção.
Os neutrófilos foram as células predominantemente infectadas durante as primeiras horas (1-12hs) e foram as células com a maior taxa de infecção (72%). Experimentos com PMNs RFP+ de camundongo Lys-eGFP infectado com Lm-RFP obtidos por sorting e transferidos para animal C57BL/6 WT, demonstraram que após 4hs, a maioria das células RFP+, portanto, infectadas, eram eGFP-, sugerindo que muitos parasitas foram adquiridos dos neutrófilos infectados. Células CD11c+RFP+eGFP+ foram encontradas indicando que muitas DCS adquiriram parasitas via a captura de neutrófilos infectados. Ademais, os PMNs eGFP+RFP+ apresentaram alta expressão de anexina V, o que foi confirmada por TUNEL. Esses resultados sugerem que a captura daL.major induz apoptose nos PMNs que pode favorecer o seu reconhecimento e a captura pelas DCs da pele.
A expressão de mieloperoxidase (MPO) pelas células dendríticas CD11c+ foi acessada após a depleção de PMNs, no intuito de comprovar que PMNs foram fagocitados por células dendríticas. De fato, foi observada a expressão de MPO pelas DCs e essa expressão diminuiu após a depleção de PMNs. O mesmo foi observado em relação a produção de elastase neutrofílica. Com a depleção dos neutrófilos, por outro lado, a expressão de MHCII, CD86 e CD40 aumentou nas DCs RFP+. Além disso, após a depleção de PMN a produção de IFN-g foi maior.
Para avaliar a influência dos PMNs no priming das células T CD4+ ao antígeno derivado de L. major, camundongos foram depletados de PMNs 24hs antes da infecção com L. major SP-OVA e células T CD4+ naive OT-II específicas para OVA foram transferidos para o mesmo animal. A proliferação celular foi maior com a depleção de PMN. Assim, esses resultados juntos, sugerem que a captura de neutrófilos apoptóticos infectados pelas DCs da derme previne a ativação de células T CD4+ específicas para Leishmania enquanto houver a resposta neutrofílica aguda.
Ribeiro-Gomes FL, Peters NC, Debrabant A, & Sacks DL (2012). Efficient capture of infected neutrophils by dendritic cells in the skin inhibits the early anti-leishmania response. PLoS pathogens, 8 (2) PMID: 22359507
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quarta-feira, 28 de março de 2012
Nobel Drive
terça-feira, 27 de março de 2012
O Cascão está certo?
Mais uma notícia na área da alergia. Alergia é fascinante, porque afinal de contas o nosso corpo reage contra substâncias aparentemente inócuas? Enfim, o mistério persiste, mas outro ‘mistério’ da alergia é a chamada “hygiene hypothesis”. Numa versão simplificada, é a hipotése de que exposição à micróbios (patogênicos ou não) durante a infância estaria associada à proteção contra doenças alérgicas. Como se o sistema imune ficasse assim meio ‘preguiçoso’ sem ter o que fazer num ambiente muito limpo, e acabasse reagindo contra o que não deve, como substâncias como pólen. A idéia toda veio de estudos epidemiológicos, mostrando que crianças criadas em fazendas, ou de famílias grandes, ou que foram para creches muito cedo tem uma taxa mais baixa de alergia ou doencas alérgicas.
O problema da ‘hygiene hypothesis’ sempre foi a falta de mecanismos (e como já discutido neste blog, quem não gosta de um bom mecanismo?) para explicar o dito fenômeno. A epidemiologia fornecia uma história, mas daí para uma explicação mecanística… complicado. Para alguns pesquisadores esta ‘hygiene hypothesis’ é assim meio ‘suja’. Existem vários outros fatores que podem explicar esta diminuição da alergia além dos micróbios.
Em 2003 a Jennifer McIntire, na época aluna de medicina/PhD no grupo do Dale Umetsu (onde eu estava naquela época) em Stanford, descobriu em um estudo de camundongos congênicos que um gene, que eles denominaram de Tim-1, estava associado com o desenvolvimento de doença alérgica nos animais. E também que o homólogo humano do Tim-1 é o receptor do vírus da Hepatite A.
Juntando esta descoberta com um artigo publicado por um grupo italiano, estudando recrutas militares, mostrando que a presença de anticorpos contra Hepatite A (entre outros) estava associada com índices mais baixos de alergia, o grupo do Dale mostrou então que certos polimorfismos no Tim-1 estavam associados com índices mais baixos de alergia. Esta foi umas das dicas de que poderia haver um mecanismo biológico por trás da tal ‘hygiene hypothesis’, apesar de que o dito mecanismo ainda é desconhecido (talvez associado com a eficiência da ligação do vírus às diferentes versões do receptor). A associação de polimorfismos do receptor TLR4 com índices de alergia é também outra pista.
Semana passada um artigo publicado na Science Express (Olszak et al ), mostrou que o contato intestinal com microbiota ‘normal’ durante a infância em camundongos germ-free (GF) protege os animais contra o desenvolvimento de colite e asma experimentais. A exposição de animais adultos à micróbios intestinais não teve o mesmo efeito (os animais continuaram suscetíveis e adoeceram).
Os pesquisadores se concentraram nas células iNKT (invariant Natural Killer T), células importantes nos modelos estudados. Eles mostraram um aumento destas células em órgãos afetados (cólon e pulmão), e mostraram que anticorpos contra CD1d tem efeito protetor. As células iNKT também tinham um perfil inflamatório.
Eles examinaram então a expressão da quimiocina CXCL16, importante na migração de células iNKT, e encontraram, sem surpresas, que os níveis desta quimiocina estavam elevados no soro dos animais doentes. A expressão do mRNA para CXCL16 foi específica nos órgãos afetados (cólon e pulmão).
A seguir os autores mostraram que a colonização dos animas neonatos GF com uma microbiota conventional diminuiu a hipermetilação do gene que codifica CXCL16. A hipermetilação pode estar associada com ativação do gene, e eles fizeram uma série de experimentos mostrando que aumento ou diminuição da metilação do CXCL16 (apesar os agentes não serem específicos para este gene, e outros genes devem ter sido afetados) correspondeu a um aumento/diminuição da expressão do gene, respectivamente.
Como conclusão, Torsten e companhia propõem que exposição neonatal à microbiota ‘normal’ afeta a expressão de CXCL16, afetando a quantidade e a função das células iNKT por um mecanismo (tchan tchan tchan) desconhecido…
Mas enfim, não se pode ter tudo, e este é um modelo interessante para testar a famosa ‘hygiene hypothesis’. Mas nem tive tempo de por o blog no ar, e já saiu aqui no site do MSN um comentário, já fazendo a ligação com exposicão de crianças à micróbios (foto)… bem, parece que um pouco de sujeira não faz mal, como diria o Cascão, e pelo menos as mamães camundongas podem ficar tranquilas!
Referências:
Olszak et al. Microbial Exposure During Early Life Has Persistent Effects on Natural Killer T Cell Function. Science DOI: 10.1126/science.1219328
segunda-feira, 26 de março de 2012
Cell publica edição especial sobre doenças humanas
Seguem abaixo algumas sugestões de leitura:
Reviews
- Cellular Metabolism and Disease: What Do Metabolic Outliers Teach Us?
- Mitochondria: In Sickness and in Health
- The Impact of the Gut Microbiota on Human Health: An Integrative View
- Beyond Empiricism: Informing Vaccine Development through Innate Immunity Research
- Outwitting Evolution: Fighting Drug-Resistant TB, Malaria, and HIV
Voices
Translating Research into Therapies
Analysis
Redefining Clinical Trials: The Age of Personalized Medicine
MiniReview
Antibody-Based Immunotherapy of Cancer
Perspectives
- Converting Cancer Therapies into Cures: Lessons from Infectious Diseases
- Reprogramming Cellular Identity for Regenerative Medicine
domingo, 25 de março de 2012
Journal Club Iba: Você é um homem ou um camundongo?
O timo é o órgão responsável pela geração do repertório e maturação das células T. No entanto, sua participação na manutenção do pool periférico absoluto dessas células varia bastante entre os mamíferos. O trabalho de den Braber e colaboradores, publicado na Immunity em fevereiro deste ano, vêm provar essa variação. Os autores demonstram que o timo mantém sua atividade durante toda a vida dos camundongos e é o grande responsável pela manutenção do pool periférico de células T naives nesses animais. Já em nós, seres humanos, o timo é o responsável pela geração do repertório de linfócitos T, mas a proliferação periférica das células T naives é o principal mecanismo de manutenção do pool dessas células.
Iren Bains e colaboradores publicaram na Blood em 2009 um trabalho que também discorre sobre a contribuição da proliferação periférica na formação do pool de linfócitos T naives. Os autores reuniram dados da literatura relacionando proliferação celular e capacidade de produção de linfócitos naives pelo timo, entre outras variáveis, com a idade, e aplicaram os dados em elegantes modelos matemáticos. Através dessa metodologia, foi possível mostrar que mesmo nos primeiros anos de vida, o ser humano já tem seu pool periférico formado, em sua maioria (cerca de 70%), por células que se proliferaram na periferia. Além disso, os autores demonstram também que com o passar do tempo e a involução do timo, a proliferação celular periférica de células T naives também tem sua frequência diminuída e o tempo entre cada divisão celular tende a aumentar, sugerindo assim um cenário complexo para a manutenção da homeostase numérica desse tipo celular.
Em ambos os trabalhos é utilizada a análise da presença de TRECs nas células T naives. TRECs, do inglês T cell receptor excision circles, são loopings descartados durante o processo de recombinação V(D)J para a formação das cadeias do TCR. Esses loopings são mantidos no núcleo da célula na forma de um DNA extra-cromossomal e são estáveis durante a vida da célula T. Pelo fato deste DNA não ser duplicado no processo de divisão celular, ele pode ser considerado um marcador da origem tímica da célula T naive.
Esses resultados apontam a importância de sermos cautelosos nas extrapolações feitas a partir de modelos animais, principalmente nesse caso, tratando-se de comparações entre a função tímica e sua importância para a manutenção do pool de linfócitos T naive na periferia.
Post de Gabriela Scortegagna, Eduardo Crosara e Daiani Alves.