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domingo, 30 de setembro de 2012

Journal Club IBA - Desnutrição, Ecologia da Microbiota e Inflamação Intestinal


            A desnutrição afeta mais de um bilhão de pessoas no mundo, sendo uma das principais causas de mortalidade infantil. Sabe-se que a falta de nutrientes em geral pode causar alterações em diversos processos biológicos e sistemas de um organismo, incluindo o sistema imune, o que contribui para o aumento da suscetibilidade e severidade de infecções. A maioria dos indivíduos desnutridos apresenta diarreia e inflamação intestinal e, apesar destes fatos serem conhecidos por décadas, os mecanismos moleculares que associam a desnutrição e inflamação intestinal ainda não foram elucidados.
 
          Com o intuito de entender estas questões de forma mais detalhada, Hashimoto e colaboradores realizaram um trabalho (aqui), que demonstra de forma elegante uma rede intrincada envolvendo o transporte e absorção de aminoácidos, respostas antimicrobianas, ecologia microbiana, e inflamação.
 
          Recentemente foi descoberto que a Enzima Conversora de Angiotensina 2, ou do inglês Angiotensin Converting Enzime (ACE), enzima chave do Sistema Renina-Angiotensina (RAS) tem outras funções independentes de RAS (aqui), sendo que uma delas envolve a regulação da expressão de um transportador de aminoácidos neutros, B0AT1 no intestino. O estudo de Hashimoto e colaboradores mostra que camundongos nocautes de ACE2 apresentam uma suscetibilidade aumentada à inflamação intestinal induzida por Dextran Sulfato de Sódio (DSS). Além disso, foi observado que na ausência da ACE2, o nível de aminoácidos neutros no sangue é significativamente mais baixo, principalmente triptofano. Seria então este aminoácido necessário para manutenção da homeostase intestinal?
 
          Os pesquisadores reportaram que a inativação genética da ACE2 ou uma dieta pobre em triptofano resulta em menor ativação de mTOR, diminuindo a produção de alguns peptídeos antimicrobianos no intestino. De maneira esperada, isto resulta na alteração da população bacteriana constituinte da microbiota intestinal.
 
          Para provar que a alteração na microbiota é a causa da maior suscetibilidade a inflamação na ausência de ACE2 ou carência de triptofano, foi feita a transferência da microbiota destes animais para camundongos “germ-free”, gerando o mesmo fenótipo. Ainda, a depleção desta microbiota alterada com antibiótico de amplo espectro faz com que a reação inflamatória induzida por DSS assemelhe-se com a de camundongos selvagens.
 
          Sendo assim, uma dieta rica em triptofano (carnes, soja, leite e derivados) ajuda a manter a integridade intestinal e como Jorge Ben Jor já disse: canja de galinha não faz mal a ninguém!
 
Post de Luiz Gustavo Gardinassi e Maria Cláudia da Silva

sábado, 29 de setembro de 2012

Senhores,

ESTÃO ABERTAS AS INSCRIÇÕES AO CONCURSO DE TÍTULOS E PROVAS PARA O PROVIMENTO DE 01 (UM) CARGO DE PROFESSOR DOUTOR, REFERÊNCIA MS-3, EM RDIDP, JUNTO AO DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E IMUNOLOGIA, ÁREA DE BIOQUÍMICA DA FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO - USP.

Segue arquivo em pdf com a íntegra do Edital.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Transgenia e Câncer...


Fig. 1. Mortality of rats fed GMO treated or not with Roundup, and effects of Roundup alone. Rats were fed with NK603 GM maize (with or without application of Roundup) at three different doses (11, 22, 33% in their diet: thin, medium and bold lines, respectively) compared to the substantially equivalent closest isogenic non-GM maize (control, dotted line). Roundup was administrated in drinking water at 3 increasing doses, same symbols (environmental (A), MRL in agricultural GMOs (B) and half of minimal agricultural levels (C), see Section 2). Lifespan during the experiment for the control group is represented by the vertical bar ± SEM (grey area). In bar histograms, the causes of mortality before the grey area are detailed in comparison to the controls (0). In black are represented the necessary euthanasia because of suffering in accordance with ethical rules (tumors over 25% body weight, more than 25% weight loss, hemorrhagic bleeding, etc.); and in hatched areas, spontaneous mortality.


Colegas,

li com muita preocupação notícia veiculada por parte da imprensa na última semana, sobre indução de tumores por consumo de milho transgênico e herbicida utilizando ratos como modelo experimental. 

O assunto é polêmico: o milho e a soja são grãos 'ubiquitários' em nossas dietas. O aumento de demanda por estes alimentos requer um aumento na produtividade - seja por incremento da área plantada ou de produtividade/hectare. Paralelamente, o estabelecimento de monoculturas é acompanhado por desequilíbrios no ecossistema e, consequentemente,... pragas! Para se eliminar as pragas, em nome da produtividade, derramam-se (literalmente) rios de herbicidas, fungicidas e muitas outras idas (doravante denominados venenos) nos produtos que chegam as nossas bocas. Os transgênicos (OGMs) surgiram para auxiliar no combate as pragas, na esperança de reduzir-se assim os volumes de venenos aplicados. Mas quem produz os OGMs também produz os venenos e, curiosamente, a associação tornou-se fundamental para uma boa safra. Todo esse processo é acompanhado de técnicas contemporâneas como real time PCR, uma vez que é necessário qualificar o tipo de grão que embarca em nossos portos com os mais variados destinos no planeta: porcentagem de transgênicos, presença de pragas, para quem vão os royalties... Não vou aqui ser hipócrita e dizer que abomino a busca por inovações que visem a produtividade. Contudo acredito que a regulação destas estratégias deve ser revista em prol da saúde coletiva.

Voltando para a notícia: Não trabalho com tumores... é uma área que tenho pouquíssimo conhecimento. Mesmo assim, fiquei curioso e busquei o paper em questão, com base nas notas da AFP no UOL e IG.

O artigo em questão será publicado na Food and Chemical Toxicology (Elsevier, JCR ISI 2012 = 2.999), journal que conta com vasto número de publicações na área de segurança alimentar, pelo grupo do Prof. Gilles-Eric Seralini (Universidade de Caen, França). Fiquei impressionado com o que li. Apesar de que, se eu fosse o revisor, questionaria alguns pontos como a repetibilidade do protocolo: mais pelo número de animais utilizados do que por experimentos independentes - é 'impossível' repetir 3x um protocolo de 2 anos. 

Me peguei divagando sobre outras questões a este respeito... Será que os venenos atuam no sistema imune? Será que a modificação genética no milho cria um veneno desconhecido, potencialmente carcinogênico? Será que tecnologias semelhantes, aplicadas em animais produtores de carnes, tem o mesmo potencial? Será que vacinas de DNA, que tem como princípio a incorporação de material genico codificador, pode incorrer nas mesmas barreiras?.... Será que esse paper é furado?!?!? 

Na minha opinião, só o tempo (e a pesquisa) nos dirá...

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Para quem quiser ler com mais detalhes:

Available online 19 September 2012

Long term toxicity of a Roundup herbicide and a Roundup-tolerant genetically modified maize

  • a University of Caen, Institute of Biology, CRIIGEN and Risk Pole, MRSH-CNRS, EA 2608, Esplanade de la Paix, Caen Cedex 14032, France
  • b University of Verona, Department of Neurological, Neuropsychological, Morphological and Motor Sciences, Verona 37134, Italy
  • c University of Caen, UR ABTE, EA 4651, Bd Maréchal Juin, Caen Cedex 14032, France



quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Imagens


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Divulgação do livro "O Seu Incrível Sistema Imune - Como Ele Protege Seu Corpo"

O SEU INCRÍVEL SISTEMA IMUNE - COMO ELE PROTEGE SEU CORPO
Autor:   João Paulo do Carmo
(link para a versão em português aqui)


Resumo
O livro foi elaborado para ajudar a entender como o Sistema Imune (SI) funciona. Foi compilado pela Sociedade Japonesa de Imunologia para o Dia da Imunologia (2008). Reconhecendo uma boa ideia e um bom livro, pesquisadores que trabalham com Imunologia na Europa pensaram que tal publicação seria também de interesse para especialistas e público leigo, incluindo crianças e adolescentes, em países Ocidentais. A EFIS, organização “guarda-chuva” dos imunologistas europeus, forneceu apoio financeiro para a tradução e distribuição eletrônica deste livro, com o objetivo de divulgar a Imunologia, ou seja, o estudo do Sistema Imune (SI). A abordagem baseia-se numa linguagem simples e  ilustrações coloridas, com o intuito de esclarecer o público sobre como o SI trabalha, na saúde e na doença, protegendo o nosso corpo no dia a dia contra infecções, alergias e até câncer. Aproximar ciência, cientistas, médicos e profissionais de saúde dos pacientes, crianças e adolescentes, num grande esforço de saúde pública, facilitaria o trabalho dos próprios profissionais de saúde, e todos ganham. O processo de vacinação talvez seja o exemplo prático mais belo de como o Sistema Imune é importante, através do seu papel na prevenção de doenças. Como a varíola, que foi erradicada no final da década de 70, graças à invenção da vacina e aperfeiçoamento do método pelo imunologista inglês, Edward Jenner, em 1796.

Dados: Editora Wiley-Blackwell, 76 págs., 2012, ISBN: 978-3-00-028073-3

Como adquirir: Versão em português (baixar pdf). Versão em inglês disponível em www.immunology-info.org


Sobre o autor:
Biomédico (UNESP, Botucatu, SP, 1997-2000). Mestre em Patologia (Faculdade de Medicina, UNESP, Botucatu, SP, 2001-2003). Doutor em Imunologia (ICB, USP, 2003-2008). Por meio do convênio CAPES-DAAD, estagiou no Charité Universitätzmedizin, em Berlim, na Alemanha, de setembro a dezembro de 2007. No Tumor Immunologie Labor, do Dr. Peter Walden (Charité Hospital), aprofundou os estudos da tese “Modulação Fenotípica e Funcional de Células Dendríticas Humanas”, utilizando técnicas, anticorpos e equipamentos ainda não disponíveis no Brasil na época, como Citometria de Fluxo Multiparamétrica (LSR-II). Pesquisador visitante nos National Institutes of Health, Departamento de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID), Bethesda, MD, EUA (2009-2012) e atualmente pós-doutorando da FIOCRUZ, em Salvador/BA.


terça-feira, 25 de setembro de 2012

MMP -9: controle ou disseminação da Leishmania chagasi?


Produzida por células epiteliais e leucócitos, a metaloproteinase 9 (MMP-9) tem sido cada vez mais estudada devido aos seus importantes papeis no processo inflamatório, tais como: recrutamento de macrófagos, clivagem de receptores de superfícies celulares, remodelamento da matriz extracelular e regulação da expressão de citocinas, podendo ser vista como ponto chave na comunicação da resposta imune e inflamatória. A produção da MMP-9 é regulada por citocinas em macrófagos ativados. Assim, o TNF-α estimula a secreção de MMP-9 nessas células, enquanto INF-g, IL-4 e a IL-10 suprimem essa secreção.

É bem conhecido o papel da MMP-9 em processos patológicos como doenças tumorais e infecciosas, temas esses já discutidos neste blog. Em algumas doenças parasitárias, como na infecção por T. cruzi, P. falciparum e Leishmania sp. a MMP-9 desempenha papel crucial no dano tecidual e na disseminação do parasita. Melo et al., (2011) observaram na leishmaniose visceral canina (LVC), que a elevada produção de MMP-9 promove lesões sistêmicas. Em camundongos infectados com Leishmania chagasi foi observado que a MMP-9 está associada com a necrose de hepatócitos (Costa et al., 2008).  Camundongos vacinados com serina proteinase apresentaram diminuição da atividade da MMP-9, controlando assim a infecção por Leishmania chagasi. (Choudhury et al., 2012).
Por outro lado, dados preliminares de estudos de pacientes com leishmaniose visceral (LVH) atendidos no Hospital universitário da UFS demonstram que a MMP-9 não se associa com a lesão dos tecidos, mas sim com à evolução positiva no curso clínico terapêutico dos pacientes tratados com antimonial pentavalente. Assim, os níveis de MMP-9 se elevaram ao longo do tratamento de pacientes com LVH, e diferente do observado na literatura, os altos níveis de MMP-9 não foram associados com a elevação dos níveis de TGO e TGP. Além disso, os pacientes assintomáticos para LVH apresentaram níveis mais elevados de MMP-9 do que pacientes com infecção ativa.  Neste contexto, questionamos até que ponto o aumento da MMP-9 poderia estar relacionada com a disseminação e dano tecidual na leishmaniose visceral.
Referências:
Melo, GD., Marangoni, NR., Marcondes, M., Lima VMF., Machado, GF. High levels of serum matrix metalloproteinases in dogs with natural visceral leishmaniasis: A preliminary report. The Veterinary Journal. 188 (2011) 243-245.
Choudhury, R., Das, P., De, T., Chakraborti, T., 115 kDa serine protease confers sustained protection to visceral leishmaniasis caused by Leishmania donovani via IFN-! induced down-regulation of TNF- α mediated MMP-9 activity. Immunobiology. doi:10.1016/j.imbio.2012.02.008.

Costa, JD.,  de Melo, CAN., Vermelho, AD., Meirelles, MN., Porrozzi, R. In vitro evidence for metallopeptidase participation in hepatocyte damage induced by Leishmania chagasi-infected macrophage. Acta Tropica. 106 (2008) 175-183.



Priscila Lima, Fabricia Alvisi, Micheli Luize


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