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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Os benefícios do consumo de peixe – comer para crer

Que o Omega-3 presente no óleo de peixe traz benefícios pra saúde, isso já sabemos, e cada vez mais estudos são feitos com o intuito de desvendar os benefícios do consumo de peixe.

Estudos feitos por pesquisadores da University of Western Australia e Cardiovascular Research Centre mostram que o consumo de peixe ou os óleos de peixe acompanhados de uma dieta saudável tem efeito contra a hipertensão e a obesidade (1,2), mostrando que em uma dieta para emagrecimento que contém peixe ou óleos de peixe pode ser eficaz não só para perda de peso como para a redução da pressão arterial e melhora na tolerância à glicose. Resultados de um estudo feito por pesquisadores da Dietetics, Harokopio University em Atenas na Grécia mostraram que pessoas saudáveis apresentaram níveis plasmáticos de ácidos graxos n-3 inversamente proporcionais à proteína C reativa, IL-6 e TNF-α (3), fatores geralmente utilizados para medir a inflamação dos vasos sanguíneos.

Existem ainda outros benefícios para a saúde e outras situações onde o óleo de peixe é um contribuinte significativo para promover a saúde. Resultados surpreendentes mostram que o óleo de peixe tem um componente neuroprotetor (n-3 fatty acid docosahexaenoic acid – DHA) que previne o envelhecimento do cérebro que leva à demência (4,5). DHA competitivamente reduz os níveis de ácido araquidônico presente na membrana que leva à cascata inflamatória pela ação das enzimas Cox e Lox. DHA ainda tem ação anti-apoptótica e anti-oxidante por atuar sobre várias vias de sinalização intracelular como PI3K/AKT e PPAR-γ, como demonstrado no esquema abaixo.


Efeitos protetores do DHA


(1) Mori TA. Omega-3 fatty acids and blood pressure. Cell Mol Biol (Noisy-le-grand) 2010; 56(1):83-92.

(2) Chan DC, Watts GF. Dyslipidaemia in the metabolic syndrome and type 2 diabetes: pathogenesis, priorities, pharmacotherapies. Expert Opin Pharmacother 2011; 12(1):13-30.

(3) Kalogeropoulos N, Panagiotakos DB, Pitsavos C, Chrysohoou C, Rousinou G, Toutouza M, Stefanadis C.Unsaturated fatty acids are inversely associated and n-6/n-3 ratios are positively related to inflammation and coagulation markers in plasma of apparently healthy adults. Clin Chim Acta. 2010;411(7-8):584-91.

(4) Cole GM, Ma QL, Frautschy SA. Dietar fatty acids and the aging brain. Nutr Rev. 2010;68 Suppl 2:S102-11. doi: 10.1111/j.1753-4887.2010.00345.x.

(5) Amminger GP, Schäfer MR, Papageorgiou K, Klier CM, Cotton SM, Harrigan SM, Mackinnon A, McGorry PD, Berger GE. Long-chain omega-3 fatty acids for indicated prevention of psychotic disorders: a randomized, placebo-controlled trial. Arch Gen Psychiatry. 2010;67(2):146-54.


Maria do Carmo Souza. IBA, FMRP-USP.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Imunologistas reconhecidos pela Ordem Nacional do Mérito Científico


Foi publicado no Diário Oficial da União, neste dia 28, a nomeação de cientistas para as classes de Grã-Cruz e Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico.

Dentre os membros estão os imunologistas:


- Aldina Maria Prado Barral, pesquisadora da Fiocruz e professora da Universidade Federal da Bahia, nomeada como Comendadora.


- Ricardo Tostes Gazzinelli, pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, promovido de comendador a classe da Grã-Cruz.


Confiram o no site: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=75590


Parabéns aos nossos colegas!

Prime, Boost, and Broaden

Anualmente, o programa de vacinação contra o vírus influenza conta com a produção de uma vacina diferente a fim de atingir a proteção contra os vírus da época. Assim, a cada ano, os componentes da vacina contra a gripe sazonal são alterados, na esperança de que correspondam às novas cepas de vírus cirulantes. Isso pode resultar em vacinas com baixa eficácia, como o que ocorreu recentemente na temporada de gripe 2007/2008, a vacina sazonal apresentou pouca proteção contra a infecção com as cepas circulantes. Ainda, quando uma nova cepa do vírus é introduzida em seres humanos, tais como o vírus H1N1 em 2009, uma vacina totalmente nova é necessária. Leva tempo para se produzir uma vacina para uma nova cepa circulante, e uma cepa particularmente virulenta pode alcançar o status de pandemia antes que o processo esteja completo. Isso tem estimulado a busca de anticorpos que possam neutralizar não só múltiplas cepas dentro de um subtipo do vírus da gripe, mas os vírus dos subtipos diferentes também, a fim de se desenvolver uma vacina universal contra a gripe.

Anticorpos neutralizantes para o vírus da gripe com uma reação cruzada maior, tornariam a vacina mais eficaz, mas estimular a produção desses anticorpos é um desafio. Um número crescente de anticorpos neutralizantes para o HIV têm sido identificados, por exemplo, mas nenhuma estratégia de vacinação até a data suscitou tais anticorpos eficazes. As estratégias para atingir a neutralização geral dos vírus da gripe incluem a geração de novos imunógenos que estimulem anticorpos neutralizantes, ou modificações nos procedimentos de imunização com os componentes da vacina existente. Em um trabalho recente publicado na Science, Wei et al, utilizaram a segunda abordagem, usando a estratégia prime-boost. Eles primaram camundongos e macacos com uma vacina de DNA que expressa a HA de uma vacina contra a gripe sazonal já existente. Os animais receberam, então, um boost com a vacina de vírus inativado. Surpreendentemente, quando a HA da vacina contra a gripe sazonal de 1999 foi utilizada desta forma, o soro resultante foi capaz de neutralizar a H1 do vírus de 1934, bem como o vírus que surgiu em 2006 e 2007, uma extensão de mais de 70 anos. A neutralização cruzada dos vírus H3 e H5 também foi atingida, e os animais foram protegidos contra o desafio com o vírus letal. Será este o ponto de partida para uma vacina mais eficaz e universal contra a gripe, tornando desnecessária a vacinação anual?

Renata Sesti Costa - IBA, FMRP, Ribeirão Preto.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Vem chegando o verão...


Em uma série de trabalhos iniciados em 2005, pesquisadores japoneses (pasmem!) mostram os efeitos sobre o sistema imune de uma ‘escapulida’ da cidade para visitar um parque florestal. Dada as peculiaridades da estação que vem se aproximando, achei pertinente escrever um post sobre a importância de fazer uma pausa nos trabalhos e fechar as portas do laboratório durante alguns dias no final do ano. Os estudos envolveram homens (de 35 a 53 anos) e mulheres (entre 25 e 43 anos) que permaneceram por 3 dias e 2 noites num parque florestal, e um grupo controle de pessoas que continuaram na cidade. Os experimentos foram feitos a partir de amostras de sangue e de urina coletadas desses indivíduos. O material foi colhido durante a viagem, e também no 7º e 30º dias após o retorno, quando então foram medidos a concentração de adrenalina, o número e a atividade de células NK e de linfócitos que expressam granzimas, perforinas e granulosimas. Os estudos mostraram um aumento significativo no número e atividade dessas células nas pessoas que estavam nos parques em todos os dias das análises. Além disso, os indivíduos que frequentaram ambientes arborizados apresentaram um nível menor do hormônio do estresse, comparados com os controles. Os pesquisadores sugerem que esse efeito ocorra em consequência de compostos chamados Phytoncides, substâncias liberadas pelas plantas a fim de protegê-las contra diversos agentes e que, por serem voláteis, evaporam facilmente de sua superfície e podem ser inaladas pelas pessoas que freqüentam parques arborizados. Isso é o que chamam de “energia da floresta”, que, deste modo, realmente beneficiaria os humanos por aumentar as funções imunológicas. E você, onde vai passar o verão? Vai tirar férias ou vai querer ter uma menor atividade do sistema Imunológico para começar os trabalhos em 2011?

P
ara quem interessar:
- Li Q, et al., J Biol Regul Homeost Agents.
2010 Apr-Jun;24(2):157-65. A day trip to a forest park increases human natural killer activity and the expression of anti-cancer proteins in male subjects
- Li Q, et al., Int J Immunopathol Pharmacol. 2009 Oct-Dec;22(4):951-9. Effect of phytoncide from trees on human natural killer cell function.
- Li Q, et al., Int J Immunopathol Pharmacol. 2008 Jan-Mar;21(1):117-27. Visiting a forest, but not a city, increases human natural killer activity and expression of anti-cancer proteins.
- Li Q, et al., J Biol Regul Homeost Agents. 2008 Jan-Mar;22(1):45-55. A forest bathing trip increases human natural killer activity and expression of anti-cancer proteins in female subjects.
- Li Q, et al., Int J Immunopathol Pharmacol. 2007 Apr-Jun;20(2 Suppl 2):3-8. Forest bathing enhances human natural killer activity and expression of anti-cancer proteins.

Manuela Sales- IBA- FMRP, Ribeirão Preto.


terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Votos de ano novo, vida nova...

Fonte: Folha.com

27/12/2010 - 09h12

Pesquisador não sabe importar material científico, diz governo

SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

A dificuldade na importação de material científico é, para o governo, culpa dos próprios cientistas que não sabem preencher corretamente os formulários para realizar o procedimento.

A conclusão surgiu numa reunião que aconteceu neste final de ano entre cientistas, membros de entidades que representam a ciência e instituições governamentais.

Na ocasião, foi analisada a situação das importações com finalidade de pesquisa científica- que, em alguns casos, pode levar seis meses.

Para o governo, os atrasos e demais problemas na importação acontecem devido ao desconhecimento das regras de importação.

"Os pesquisadores e quem executa esses procedimentos por eles (despachantes) desconhecem a legislação sanitária para executar os procedimentos relativos ao desembaraço das remessas", disse à Folha Roberta Amorim, gerente substituta de Inspeção de Produtos em Portos, Aeroportos e Fronteiras da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Ela explicou que a maioria dos trâmites das importações é de competência da Receita Federal e que cabe à Anvisa a orientação no cumprimento da legislação sanitária --o que a instituição faz por meio do seu site.

A RFB (Receita Federal Brasileira) também informou que as orientações sobre os procedimentos de importação para pesquisa estão no seu site. Mesmo assim, está prevista para 2011 uma ação de capacitação de pesquisadores com ajuda do CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento).

"O CNPq, que tem contato direto com os interessados nas informações, pretende organizar uma ação de capacitação online com apoio técnico aduaneiro da RFB", disse Fausto Coutinho, subsecretário de Aduana e Relações Internacionais da RFB.

PAPÉIS E ATRASOS

As principais reclamações dos pesquisadores são o excesso de burocracia para importar e a demora na liberação de material vindo de fora --problema que até o ministro Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia) reconhece.

"Conseguimos simplificar o procedimento de importação, mas ainda é mais difícil um pesquisador daqui comprar um equipamento de fora do que um cientista de outro país", disse Rezende em entrevista recente à Folha. "Nos outros lugares é assim: o pesquisador quer comprar um equipamento para fazer uma pesquisa e compra. Aqui não pode. A burocracia é um entrave e isso diminui a competitividade."

O médico Antonio Carlos de Carvalho, do Instituto Nacional de Cardiologia, já sentiu na pele essa burocracia. Ele enfrentou problemas na importação de um reagente por causa da papelada.

"O pesquisador não tem tempo para essas coisas. Deveríamos ter funcionários especializados para fazer isso para nós", disse Carvalho.

Quanto a isso, Anvisa e RFB não se responsabilizam. "Temos conhecimento que geralmente as universidades possuem um setor que trata de importação. Essa definição não é de competência da Anvisa", disse Amorim.

Também não é de responsabilidade da Anvisa ou da RFB o armazenamento do material que chega aos aeroportos, mas sim da Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária), que não dispõe de espaços para receber adequadamente as mercadorias destinadas à pesquisa.

Os reagentes importados por Carvalho ficaram retidos no aeroporto por três semanas. Por sorte, chegaram em condições para uso.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Animação – Sistema Imune

Final de dezembro... Multidões nas praias, parques e praças. A criançada rolando na grama/areia com a boca toda melecada de sorvete de chocolate e as pernas com centenas de picadas de pernilongo. Enquanto isso os mais crescidinhos estão sob uma sombra qualquer, curtindo o calor com uma cerveja geladinha na mão pra acompanhar um bom churrasco ou um camarãozinho frito na hora... Mas como nem todos nossos amantes pela imunologia podem se dar ao luxo de uns dias fora do lab, venho alegrar a vida dos fiéis leitores deste blog com uma maravilhosa animação do sistema imune. Dez minutos de incubação são necessários para estourar uma pipoquinha no microondas e assistir ao filme (link:http://www.youtube.com/watch?v=kskFjm1pKEs). Divirtam-se.
Post: Fabrine Massafera – FMRP/USP


Feliz Natal


O ano de 2010 esta chegando ao fim. Uma boa parte do pessoal já esta de férias, carregando as baterias para o próximo ano. Para muitos ainda restam as tarefas costumeiras de final de ano, incluindo enviar alguns manuscritos, terminar outros e finalizar algumas “brigas” com os referees. Mas o melhor mesmo é deixar o trabalho para o ano que vem.

Esse ano foi particularmente muito bom para nós. Ocupamos a uma boa posição no ranking mundial de produção científica, nossos programas de Pós-Graduação foram bem avaliados, tivemos um excelente congresso de imunologia, colegas nossos assumiram postos chaves no CNPq, alguns irão para a CAPES (espero) e outros no MCT.

Como salientado pelo Professor Barral, será necessário resolver algumas questões limitantes para a ciência no Brasil, às quais têm sido bastante tratadas neste blog:
• Dificuldade de importação (posts recentes aqui, aqui, aqui e aqui);
• Falta de biotérios adequados (aqui e aqui);
• Limitações na contratação de pessoal (aqui);
• e financiamento em nível baixo.
Temos a promessa do novo governo de investir 1,8% do PIB em ciência e tecnologia até 2014 (aqui) e o futuro ministro de MCT fez boas promessas (Post do dia 17/12). Vamos esperar pelas ações, que não são as que cortam verbas da educação e do MCT.
A comunidade de imunologistas esta pronta para auxiliar no que for preciso. Faremos a nossa parte.

Boas festas para todos. Que a estrela continue brilhando para todos nos em 2011.

Diretoria da SBI

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Do velho ao novo - a fonte da juventude


“Eu nasci em circunstâncias incomuns.” Assim começa O Curioso Caso de Benjamin Button, adaptação do romance de 1920 de F. Scott Fitzgerald sobre um homem que nasce com oitenta e poucos anos e rejuvenesce a cada dia que passa. Um homem, como qualquer um de nós, que não pode parar o tempo!

Este filme que estreou em 2009, estrelado por Brad Pitt, foi apenas ficção, mas a busca pela beleza e pelo rejuvenescimento ganha novos aliados, a ponto de fazer da ficção uma realidade.

No ano passado, um grupo de pesquisadores publicou um trabalho na Nature demonstrando o efeito rejuvenescedor da Rapamicina, uma droga utilizada normalmente em pacientes transplantados para que haja menor rejeição ao enxerto. Nessa pesquisa, liderada por David Harrinson, do Laboratório Jackson (EUA), a longevidade dos camundongos aumentou cerca de 14% para fêmeas e 9% para machos, considerando a idade dos animais em que foi administrada a droga (PMID: 19587680). Uma maravilha não é!? Nem tanto assim. Como a Rapamicina é um imunossupressor, de nada adiantaria desacelerar o ritmo do envelhecimento e acabar por morrer de alguma infecção.

O alvo da ultima descoberta da ciência nem é tão desconhecido, mas foi manipulado como um interruptor, de forma que se possa ligar ou desligar, aprofundando assim o conhecimento sobre a função desta proteína. Estamos falando da telomerase. Pesquisadores da Universidade de Harvard, liderados por Ronald DePinho, desenvolveram um camundongo knock-in associando o gene da telomerase ao do receptor do hormônio estrógeno, controlados pelo promotor TERT e induzidos por 4-hidroxitamoxifem (4-OHT). Animais não tratados não expressam a telomerase, acelerando o envelhecimento, e ao tratá-los com 4-OHT, a expressão da telomerase é ativada (PMID: 21113150). A indução do envelhecimento precoce nos animais reduz a massa cerebral, danifica o intestino, atrofia o baço e os testículos, causando a ausência de esperma. Eles esperavam que, ao ativar a expressão da telomerase, ao menos o envelhecimento não mais prosseguiria, mas o que observaram foi que este tratamento fez com que os camundongos se tornassem mais jovens e reprodutivos novamente.

Será que dessa vez estamos realmente mais próximos da “fonte da juventude”? E quais seriam as consequências sobre o sistema imune?

Giuliano Bonfá, IBA/Ribeirão Preto


quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Top Ten Innovations 2010



Todos os anos a revista The Scientist, publicada pelo Faculty of 1000, faz uma lista das 10 mais (potencialmente) importantes inovações biotecnológicas do ano. É difícil saber o quanto dessa lista é uma análise imparcial e o quanto é propaganda, mas vale a pena conferir assim mesmo. Segue abaixo o meu resumo do que estava na lista. O artigo na íntegra, incluindo videos mostrando as novidades em ação, pode ser encontrado aqui.


Top Ten Innovations 2010:


1. Sequenciamento de terceira geração da Pacific Biosciences (PacBio) – mal nos acostumamos com a segunda geração e já apareceu a próxima novidade – esse sistema gera uma sequência a partir de uma única molécula de DNA, e promete acelerar e baratear ainda mais o processo de sequenciamento de genomas inteiros.

2. Linhagens celulares à la carte – a Sigma ampliou o uso do seu sistema de Zinc-finger nucleases, que a empresa já tinha usado para gerar ratos knock-out. Agora eles estão fazendo o gene targeting de linhagens celulares humanas, desde enormes deleções até a inserção de SNPs em linhagens. (Detalhe: o preço desse serviço varia de US$ 40 a 100 mil por linhagem).

3. Camera de Neubauer nunca mais! – a Millipore lançou o Scepter (cetro, em inglês), uma pipeta que conta células em segundos. E ainda vem com informações sobre o tamanho das células (tipo um Forward Scatter) e percentagem de células intactas.

4. Purificação de DNA na pipeta – a Diffinity RapidTip é uma pipeta que purifica DNA de reações como PCR e digestão enzimática. Basta colocar a ponteira e pipetar a solução com DNA meia dúzia de vezes e pronto – purificação de DNA em 1 minuto e a US$1,50 por ponteira (aqui nos EUA, pelo menos).

5. Cardiomiócitos iCell – a Cellular Dynamics International criou um protocolo para gerar cardiomiócitos a partir de fibroblastos ou sangue periférico humano via geração de iPS cells (as células tronco induzidas pela expressão forçada de fatores de transcrição definidos). Parece que a empresa não só vende células já diferenciadas, mas também oferece o serviço de geração de cardiomiócitos paciente-específicos. Não será uma boa pro pessoal do T. cruzi?

6. PET scan para camundongos – esse aparelho, batizado com o pomposo nome de Maestro Dynamic, promete ser capaz de visualizar a distribuição de compostos fluorescentes injetados em camundongos em tempo real. O objetivo da tecnologia é monitorar o acúmulo de drogas nos diversos órgãos do camundongo.

7. Cultura celular em 3D – o Alvetex, da empresa Reinnervate, é basicamente um micro-andaime de poliestireno no qual células em cultura podem crescer in vitro em um layout geométrico muito parecido com o que ocorre in vivo.

8. FACS em foco – como quem lida com citometria de fluxo bem sabe, quanto mais rápida a aquisição, menos definidas ficam as populações celulares. Isto ocorre porque o stream por onde passam as células fica mais largo com a velocidade mais alta, e as células ficam literalmente “fora de foco”. Agora o Attune Acoustic Focusing Cytometer da Applied Biosystems promete usar ondas sonoras para alinhar as células no centro do stream antes de elas passarem pelo laser do citômetro, permitindo maior velocidade de aquisição com os mesmos resultados.

9. Gel Doc EZ, da Bio-Rad – esse não é uma inovação tão grande – é um novo sistema para tirar fotografias de géis, Westerns, etc. Nao faz nada que os sistemas antigos já não faziam, mas parece que o sistema é mais automatizado e rápido. Parece que as novidades de 2010 estão acabando…

10. Robô pipetador – o Preddator, um novo robô pipetador de microplacas que consegue pipetar até 20 nanolitros com precisão em placas de 3,456 poços – me lembra meus tempos de genética humana…


E é isso aí. Vamos ver quais dessas tecnologias realmente vieram pra ficar.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Novo número do SBI na Rede


Confira no novo número do SBI na Rede (aqui)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O que nossa comunidade de Imunologia pensa sobre o "Manifesto da Ciência Tropical"?

Com a correria de fim de ano (e que ano tão duro...), faz mais de uma semana que não consigo acompanhar direito as matérias de nosso Blog. Antes de publicar meu post, hoje, dei uma passeada nas últimas coisas discutidas, e notei que, além da sempre instigante imunologia, tem havido também alguma discussão sobre política de ciência e tecnologia no Brasil.

Quero contribuir um pouco para esta discussão, compartilhando com vocês o manifesto do cientista Miguel Nicolelis: Manifesto da Ciência Tropical.
Ele é um pouco longo, mas achei que não ficava adequado publicar apenas uma parte. Vale demais ler e discutir na nossa comunidade! O que você acha dessas ideias? Como poderia a Imunologia somar neste desafio? Como a própria SBI poderia contribuir?

Para os mais jovens que não conhecem bem o Nicolelis, ele é um grande neurocientista, brasileiro, radicado nos Estados Unidos que, além de desenvolver uma pesquisa inovadora, na fronteira do conhecimento em neurociências, desenvolve um belíssimo trabalho educacional, junto com o cientista Sidarta Ribeiro, no nordeste do Brasil, visando a inclusão social pela ciência. Vale conferir!
Dê sua opinião!
forte abraço
Verônica


Manifesto da Ciência Tropical: um novo paradigma para o uso democrático da ciência como agente efetivo de transformação social e econômica no Brasil
por Miguel Nicolelis

É hora da ciência brasileira assumir definitivamente um compromisso mais central perante toda a sociedade e oferecer o seu poder criativo e capacidade de inovação para erradicar a miséria, revolucionar a educação e construir uma sociedade justa e verdadeiramente inclusiva.

É hora de agarrar com todas as forças a oportunidade de contribuir para a construção da nação que sonhamos um dia ter, mas que por muitas décadas pareceu escapar pelos vãos dos nossos dedos.

É hora de aproveitar este momento histórico e transformar o Brasil, por meio da prática cotidiana do sonho, da democracia e da criação científica, num exemplo de nação e sociedade, capaz de prover a felicidade de todos os seus cidadãos e contribuir para o futuro da humanidade.

No intuito de contribuir para o início desse processo de libertação da energia potencial de criação e inovação acumulada há séculos no capital humano do genoma brasileiro, eu gostaria de propor 15 metas centrais para a capacitação do Programa Brasileiro de Ciência Tropical.

A implementação delas nos permitirá acelerar exponencialmente o processo de inclusão social e crescimento econômico, que culminará, na próxima década, com o banimento da miséria, a maior revolução educacional e ambiental da nossa história e a decolagem irrevogável e irrestrita da indústria brasileira do conhecimento.
Estas 15 metas visam desencadear a massificação e a democratização dos meios e mecanismos de geração, disseminação, consumo e comercialização de conhecimento de ponta por todo o Brasil.

1) Massificação da educação científica infanto-juvenil por todo o território nacional
O objetivo é proporcionar a 1 milhão de crianças, nos próximos 4 anos, acesso a um programa de educação científica pública, protagonista e cidadã de alto nível. Esse programa utilizará o método científico como ferramenta pedagógica essencial, combinando a filosofia de vida de dois grandes brasileiros: Paulo Freire e Alberto Santos-Dumont.

Ao unir a educação como forma de alcançar a cidadania plena com a visão de que ciência se aprende e se faz “pondo a mão na massa”, sugiro a criação do Programa Educação para Toda a Vida, do qual faria parte o Programa Nacional de Educação Científica Alberto Santos -Dumont (veja abaixo). A porta de entrada se daria nos serviços de pré-natal para as mães dos futuros alunos do programa. Após o nascimento, essas crianças seriam atendidas no berçário e na creche, depois na escola de educação científica que os serviria dos 4-17 anos, para que esses brasileiros e brasileiras possam desenvolver toda a sua potencialidade intelectual e criativa nas duas próximas décadas de suas vidas.

O programa de educação científica seria implementado no turno oposto ao da escola pública regular, criando um regime de educação em tempo integral para crianças de 4-17 anos, por meio de parceria do governo federal com governos estaduais e municipais. Cada unidade da rede de universidades federais poderia ser responsável pela gestão de um núcleo do Programa Educação para Toda Vida, voltado para a população do entorno de cada campus.

O governo federal poderia ainda incentivar a participação da iniciativa privada, oferecendo estímulos fiscais e tributários para as empresas que estabelecessem unidades de educação científica infanto-juvenil, ao longo do território nacional. Por exemplo, o novo centro de pesquisas da Petrobras poderia criar uma das maiores unidades do Educação para Toda Vida.

2) Criação de centros nacionais de formação de professores de Ciência
A implementação do Programa Educação para Toda Vida geraria uma demanda inédita para professores especializados no ensino de ciência e tecnologia. Para supri-la, o governo federal poderia estabelecer o Programa Nacional de Educação Científica Alberto Santos -Dumont, que seria o responsável pela gestão dos centros nacionais de formação de professores de ciências, espalhados por todo território nacional. As universidades federais, os Institutos Federais de Tecnologia (antigos CEFETs) e uma futura cadeia de Institutos Brasileiros de Tecnologia (veja abaixo) poderiam estabelecer programas de formação de professores de ciências e tecnologia em todo o país.

Esses novos programas capacitariam uma nova geração de professores a ensinar conceitos fundamentais da ciência, através de aulas práticas em laboratórios especializados, tecnologia da informação e utilização de métodos, processos e novas ferramentas para investigação científica. Os alunos que se graduassem no programa Educação para Toda Vida teriam capacitação, antes mesmo do ingresso na universidade, para se integrar ao trabalho de laboratórios de pesquisa profissionais, tanto públicos como privados, através do Programa Nacional de Iniciação Científica e do Bolsa Ciência (veja abaixo).

3) Criação da carreira de pesquisador científico em tempo integral nas universidades federais
Seria em paralelo à tradicional carreira de docente. Ela nos permitiria recrutar uma nova geração de cientistas que se dedicaria exclusivamente à pesquisa científica, com carga horária de aulas correspondente a 10% do seu esforço total. Sem essa mudança não há como esperar que pesquisadores das universidades federais possam dar o salto científico qualitativo necessário para o desenvolvimento da ciência de ponta do país.

4) Criação de 16 Institutos Brasileiros de Tecnologia espalhados pelo país
Eles serviriam para suprir a demanda de engenheiros, tecnólogos e cientistas de alto nível e promover a inclusão social por meio do desenvolvimento da indústria brasileira do conhecimento. Atualmente o Brasil apresenta um déficit imenso desses profissionais.

Para sanar essa situação, o Brasil poderia reproduzir o modelo criado pela Índia, que, desde a década de 1950, construiu uma das melhores redes de formação de engenheiros e cientistas do mundo, constituída pela cadeia de Institutos Indianos de Tecnologia.

Para tanto, o governo federal deveria criar nos próximos oito anos uma rede de 16 Institutos Brasileiros de Tecnologia (IBT) e espalhá-los em bolsões de miséria do território nacional, especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Cada IBT poderia admitir até 5.000 alunos por ano.

5) Criação de 16 Cidades da Ciência
Localizadas nas regiões com baixo índice de desenvolvimento humano, como o Vale do Ribeira, Jequitinhonha, interior do Nordeste, Amazônia, as Cidades da Ciência ficariam no entorno dos novos IBTs.

As Cidades da Ciência seriam, na prática, o componente final da nova cadeia de produção do conhecimento de ponta no Brasil. Acopladas aos novos IBTs e à rede de universidades federais, criariam o ambiente necessário para a transformação do conhecimento de ponta, gerado por cientistas brasileiros, em tecnologias e produtos de alto valor agregado que dariam sustentação à indústria brasileira do conhecimento.
Nas Cidades da Ciência seriam criadas e estabelecidas as grandes empresas do conhecimento nacional, onde o potencial científico do povo brasileiro poderia se transformar em novas fontes de riqueza a serem aplicadas na gênese de um sistema nacional autossustentável. Tal iniciativa permitiria a inserção do Brasil na era da economia do conhecimento que dominará o século XXI.

6) Criação de um arco contínuo de Unidades de Conservação e Pesquisa da Biosfera da Amazônia
Esse verdadeiro cinturão de defesa, formado por um arco contínuo de Unidades de Conservação e Pesquisa da Biosfera da Amazônia, seria disposto em paralelo ao chamado “Arco de Fogo”, formado em decorrência do agronegócio predatório e da indústria madeireira ilegal, responsáveis pelo desmatamento da região. Essa iniciativa visa fincar uma linha de defesa permanente contra o avanço do desmatamento ilegal, modificando a estratégia das unidades de conservação a fim de colocá-las a serviço de um Programa Nacional de Mapeamento dos Biomas Brasileiros.

Uma série de unidades de conservação poderia ser transformada em unidades híbridas. Assim, além da conservação, poderiam incluir grandes projetos de pesquisa que possibilitem ao Brasil mapear a riqueza e a magnitude dos serviços ecológicos e climáticos encontrados nos diversos biomas nacionais.
Para incentivar a participação de populações autóctones nesse esforço, o governo federal poderia criar o programa Bolsa Ciência Cidadã. Homens, mulheres e adolescentes, que vivem na floresta amazônica e conhecem seus segredos melhor do que qualquer professor doutor, receberiam uma bolsa, similar ao bolsa família, para integrarem as equipes de pesquisadores e responsáveis pela implementação das leis ambientais na região. Esse exército de cidadãos, devotado à investigação científica e à proteção da Amazônia, mostraria ao mundo o quão determinado o Brasil está em preservar uma das maiores maravilhas biológicas do planeta.
Evidentemente tal iniciativa poderia ser replicada em outras áreas críticas, também ameaçadas pela indústria predatória, como o Pantanal, a caatinga, o cerrado, a Mata Atlântica e os Pampas.

7) Criação de oito “Cidades Marítimas” ao longo da costa brasileira
A descoberta do pré-sal demonstra claramente que uma das maiores fontes potenciais de riqueza futura da sociedade brasileira reside no vasto e diverso bioma marítimo da nossa costa.

Apesar disso, os esforços nacionais para estudo científico desse vasto ambiente são muito incipientes. Aqui também o Brasil pode inovar de forma revolucionária. Em parceria com a Petrobras, o governo federal poderia estabelecer, no limite das 350 milhas marinhas, oito plataformas voltadas para a pesquisa oceanográfica e climática, visando ao mapeamento das riquezas no mar tropical brasileiro.
Essas verdadeiras “Cidades Marítimas”, dispostas a cada mil quilômetros da costa brasileira, seriam interligadas por serviço de transporte marítimo e aéreo (helicópteros) e se valeriam de incentivos à renascente indústria naval brasileira, para o desenvolvimento, por exemplo, de veículos de exploração a grandes profundidades.

Cada “Cidade Marítima” seria autossuficiente, contando com laboratórios, equipamentos e equipe própria de pesquisadores. Tais edificações serviriam também como postos mais avançados de observação dos limites marítimos do Brasil. Com o crescente desenvolvimento da exploração do pré-sal, essa rede de“Cidades Marítimas” poderia assumir papel fundamental na defesa da nossa soberania marítima dentro das águas territoriais.

8) Retomada e Expansão do Programa Espacial Brasileiro
Embora subestimado pela sociedade e a mídia brasileiras, o fortalecimento do programa espacial brasileiro oferece outro exemplo emblemático de como o futuro do desenvolvimento científico no Brasil é questão de soberania nacional.
Dos países pertencentes ao BRIC, o Brasil é o que possui o mais tímido e subdesenvolvido programa espacial. Apesar da sua situação geográfica altamente favorável, a Base de Alcântara não tem correspondido às altas expectativas geradas com a sua construção.

Essa situação é inaceitável, uma vez que, a longo prazo, pode levar o Brasil a uma dependência irreversível no que tange a novas tecnologias e novas formas de comunicação, colocando a nossa soberania em risco. Dessa forma, urge reativar os investimentos nessa área vital, definir novas e ambiciosas metas para o programa espacial brasileiro e esclarecer o papel da sociedade civil na operação dos programas da Base de Alcântara, cujo controle deveria estar nas mãos de uma equipe civil de pesquisadores e não das forças armadas.

9) Criação de um Programa Nacional de Iniciação Científica
Com a criação do Programa Educação para Toda Vida, seria necessário implementar novas ferramentas para que os adolescentes egressos desses programas pudessem dar vazão a seus anseios de criação, invenção e inovação através da continuidade do processo de educação científica, mesmo antes do ingresso na universidade e depois dele.

Na realidade, é extremamente factível que grande número desses jovens possa começar a contribuir efetivamente para o processo de geração de conhecimento de ponta antes do ingresso na universidade.

O governo federal poderia criar um Programa Nacional de Iniciação Científica que leve ao estabelecimento de 1 milhão de Bolsas Ciência. Uma experiência preliminar desse programa já existe no CNPQ, através do recém-criado programa dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia. Bastaria ampliá-lo e remover certas amarras burocráticas que dificultam a sua implementação neste momento. Esse programa poderia também ser usado pelo governo federal para eliminar uma porcentagem significativa (30%) da evasão do ensino médio, decorrente da necessidade dos alunos em contribuir para a renda familiar.

Jovens de talento científico reconhecido deveriam também ter a opção de seguir carreira de inventor ou pesquisador sem necessitar de doutorado ou outro curso de pós-graduação. Tal alternativa contribuiria decisivamente para a diminuição do período de treinamento necessário para que talentos científicos pudessem participar efetivamente do desenvolvimento científico do Brasil.

10) Investimento de 4-5% do PIB em ações de ciência e tecnologia na próxima década
Tendo proposto novas ações, é fundamental que essas sejam devidamente financiadas. Para tanto e, ainda, para assegurar a ascensão da ciência brasileira aos patamares de excelência dos países líderes mundiais, o governo brasileiro teria de tomar a decisão estratégica de destinar, nas próximas décadas, algo em torno de 4-5% do PIB nacional à ciência e tecnologia.

Em vários países, como os EUA, essa conta é dividida em partes iguais entre o poder público e privado. No Brasil, todavia, não existem condições para que isso ocorra de imediato. Dessa forma, não restaria outra alternativa ao governo federal senão assumir a responsabilidade desse investimento estratégico, usando novas fontes de receita, como a gerada pela exploração do pré-sal.

11) Reorganização das agências federais de fomento à pesquisa
Reformulação de normas de procedimento e processo para agilizar a distribuição eficiente de recursos ao pesquisador e empreendedor científico, bem como criar um novo modelo de gestão e prestação de contas.

A ciência e o cientista brasileiro não podem mais ser regidos pelas mesmas normas de 30-40 anos atrás, utilizadas na prestação de contas de recursos públicos para construção de rodovias e hidrelétricas.

Urge, portanto, reformular completamente todos os protocolos de cooperação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) com outros ministérios estratégicos para execução de projetos multiministeriais.

Na lista de cooperação estratégica do MCT, incluem-se os ministérios da Educação, Saúde, Meio Ambiente, Minas e Energia, Indústria e Comércio, Agricultura, Defesa e Relações Exteriores. Normas comuns de operação dos departamentos jurídicos e dos processos de prestação de contas devem ser produzidas entre o MCT e esses ministérios, de sorte a incentivar a realização de projetos estratégicos interministerais, como o Educação para Toda Vida.

O cenário atual cria inúmeros empecilhos para ratificação de projetos estratégicos aprovados no mérito científico (o principal quesito), mas que, via de regra, passam meses e até anos prisioneiros dos desconhecidos meandros e procedimentos conflitantes com que operam os diferentes departamentos jurídicos dos diferentes ministérios.

Urge eliminar tal barreira kafkaniana e transferir o poder de decisão, atualmente nas catacumbas jurídicas dos ministérios onde volta e meia processos desaparecem, para as mãos dos gestores de ciência treinados para implementar uma visão estratégica do projeto nacional de ciência e tecnologia.

12) Criação de joint ventures para produção de insumos e materiais de consumo para prática científica dentro do Brasil
É’ fundamental investir numa redução verdadeira dos trâmites burocráticos “medievais” que ainda existem para aquisição de materiais de consumo e equipamentos de pesquisa importados. Para tanto, é importante definir políticas de incentivo ao estabelecimento de empresas nacionais dispostas a suprir o mercado nacional com insumos e equipamentos científicos.
13) Criação do Banco do Cérebro
Um dos maiores gargalos para o crescimento da área de ciência e tecnologia no Brasil é a dificuldade que cientistas e empreendedores científicos enfrentam para ter acesso ao capital necessário para desenvolver novas empresas baseadas na sua propriedade intelectual.

Na maioria das vezes, esses inventores e microempreendedores científicos ficam à mercê da ação deventure capitalists, que oferecem capital em troca de boa parte do controle acionário da empresa em que desejam investir.

Para reverter esse cenário, o governo federal poderia criar o Banco do Cérebro, uma instituição financeira destinada a implementar vários mecanismos financeiros para fomento do empreendedorismo científico nacional.

Essas ferramentas financeiras incluiriam desde programa de microcrédito científico até formas de financiamento de novas empresas nacionais voltadas para produtos de alto valor agregado, fundamentais ao desenvolvimento da ciência brasileira e da economia do conhecimento.

Para isso, o governo federal deverá exigir que esses novos empreendimentos científicos sejam localizados numa das novas Cidades da Ciência. Joint ventures entre empreendedores brasileiros e estrangeiros também deverão ser estimuladas pelo Banco do Cérebro, seguindo o mesmo critério social.

14) Ampliação e incentivo a bolsas de doutorado e pós-doutorado dentro e fora do Brasil
À primeira vista pode parecer contraditório propor metas para o desenvolvimento da Ciência Tropical e, ao mesmo tempo, reivindicar aumento significativo de bolsas de doutorado e pós-doutorado para alunos brasileiros no exterior.

Novamente, a proposta da Ciência Tropical é, antes de tudo, um nova proposta para o desenvolvimento de excelência na prática da pesquisa e educação científica. Dessa forma, ela tem de incentivar todas as formas que permitam aos melhores e mais promissores cientistas brasileiros complementarem sua formação fora do território nacional.

Como bem disse a presidente-eleita Dilma Rousseff durante a campanha: “ O Brasil precisa de seus cientistas porque eles iluminam o nosso país”.
Pois que os futuros jovens cientistas brasileiros tenham a oportunidade de se transformar em genuínos embaixadores da ciência brasileira e complementar seus estudos em universidades e institutos de pesquisa estrangeiros, líderes em suas respectivas áreas.

Esse processo de intercâmbio e “oxigenação” de idéias é essencial à prática da ciência de alto nível. Mesmo os cientistas brasileiros que optarem por ficar no exterior depois desse e treinamento poderão trazer dividendos fundamentais para o desenvolvimento da Ciência Tropical.

15) Recrutamento de pesquisadores e professores estrangeiros dispostos a se radicar no Brasil
Com a crise financeira, verdadeiros exércitos de cientistas americanos e europeus estarão procurando novas posições nos próximos anos. Cabe ao Brasil tirar vantagem dessa situação e passar a ser um importador de cérebros e não um exportador de talentos.
Historicamente, a academia brasileira tem inúmeros exemplos excepcionais de pesquisadores estrangeiros de alto nível que alavancaram grandes avanços científicos no Brasil. O Programa Brasileiro de Ciência Tropical só teria a ganhar com uma política mais abrangente, audaciosa e sistêmica de importação de talentos.

Imunologista indicado para Conselho Deliberativo do CNPq

É com satisfação que informamos que o nosso colega Professor Manoel Barral Netto, da FIOCRUZ, Salvador, BA, foi designado para compor o Conselho Deliberativo do CNPq, com mandato de dois anos. Parabéns para o Professor Barral pela merecida indicação. Todos nós imunologistas lhe desejamos um excelente trabalho e nos colocamos ao seu inteiro dispor para o que se fizer necessário.

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