Em estudo de revisão de 2014, Peters e
colaboradores fazem uma breve abordagem dos avanços a respeito da imunidade
inata e adaptativa na candidíase vulvovaginal (CVV) e na CVV recorrente,
suscetibilidade genética na vaginite por Candida
albicans, virulência do patógeno e potenciais candidatos para a terapia
antifúngica nesse modelo de infecção.
A candidíase vulvovaginal (CVV) é uma
forma de infecção com envolvimento mucocutâneo, sendo que cerca de 75% das
mulheres com vida sexual ativa já desenvolveram ou desenvolverão ao menos um
episódio dessa micose ao longo da vida. Em torno de 5% a 8% das mulheres
adultas podem apresentar episódios recorrentes de candidíase vulvovaginal
(Sobel, 2007; Achkar e Fries, 2010). O desenvolvimento de CVV está associado ao
uso de antibiótico, anticoncepcionais orais com altos níveis de estrógenos,
diabetes, entre outros fatores de risco (Sobel, 2007; Achkar e Fries, 2010). A CVV tem como sintomas mais
frequentes a secreção abundante, geralmente acompanhada de irritação intensa da
vagina e vulva, coceira, vermelhidão, dor e inchaço. Os custos em cuidados
relacionados ao tratamento da vaginite são de aproximadamente 1,8 bilhões de
dólares nos EUA anualmente (Foxman et al., 2000).
A espécie Candida
albicans é uma levedura que faz parte da microbiota normal do trato
gastro-intestinal de homens e mulheres e é responsável pela maioria dos casos
de infecção oral e vaginal (Samaranayake e Samaranayake, 2001). Atributos
de virulência do patógeno, como enzimas proteolíticas, lipases, transição
morfológica da forma de levedura para hifa e formação de biofilme, são
importantes na imunopatologia da CVV. O pH vaginal de 4,5 e a microbiota
bacteriana mantêm o microambiente vaginal sob controle, evitando o crescimento
excessivo de microrganismos, a inflamação e a injúria tecidual.
Diferentes
modelos experimentais de CVV têm sido desenvolvidos para melhor compreensão da
patogenicidade, busca de terapias mais eficazes, além dos mecanismos de defesa
contra Candida albicans. O estabelecimento de CVV em modelos murinos requer a administração
prolongada de 17-b-estradiol, hormônio este associado ao aumento de CVV em
mulheres (Clemons et al., 2004; Mosci et al., 2013). O estrógeno facilita a
adesão e invasão tecidual pelo fungo e além disso, promove a redução do
infiltrado de leucócitos polimorfonucleares (PMN) e inibição das respostas
imunes inata e adaptativa (Fidel e Sobel, 1999; Fidel, 2007).
As
principais células envolvidas nos mecanismos de defesa inatos são as células
epiteliais vaginais e os PMNs; receptores de reconhecimento padrão, tais como
dectina-1, lectina de ligação à manose, receptor de manose, TLR-2/TLR-4 também
têm sido estudados, além de uma família de proteínas de ligação ao cálcio, as
“alarminas” S100A8 e S100A9, cujo papel na CVV parece estar associado à
atividade quimiotática de PMNs ao local da infecção. A imunidade adaptativa
envolve a participação de células T helper 1 (Th1), essenciais para a
erradicação do patógeno e também, de células Th17, células g/d e T reguladoras, com papeis potenciais na imunorregulação da candidíase
vaginal (Fidel, 2005; Peters et al., 2014). Alterações genéticas ou
polimorfismos nos genes que codificam esses componentes podem estar associados
a maior suscetibilidade e ocorrência de RCVV.
Entretanto, o papel exato de cada um desses componentes na resposta do
hospedeiro e particularmente na imunopatologia da CVV ainda é bastante
controverso. É importante salientar também que os modelos murinos não
reproduzem exatamente a CVV humana, visto que C. albicans não é um organismo integrante da microbiota normal de
camundongos. A compartimentalização da resposta imune na infecção por C. albicans em diferentes sítios
anatômicos deve ser considerada ao analisar-se os diferentes modelos
experimentais de candidíase. E por fim, maior compreensão dos aspectos
imunopatológicos da CVV pode contribuir para a redução dos custos anuais no
tratamento dessa infecção oportunística que acomete um grande número de
mulheres em todo o mundo.
Figura 1. Modelo de
imunopatogênese da vaginite por C.
albicans (Peters et al., 2014: Candida vaginitis: when opportunism
knocks, the host responds. PLoS Pathog. 10(4):e1003965).
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Post de Angela S. Nishikaku
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