Sabe-se que a incidência de doenças alérgicas tem
aumentado ao longo dos anos, principalmente em países desenvolvidos. Um dos
fatores para esse aumento seria o tipo de alimentação em comum, visto países
desenvolvidos (e com altos índices de asma na população) consumirem uma menor quantidade
de frutas e vegetais. Esse efeito acarreta a baixa ingestão de fibras
alimentares, as quais poderiam estar envolvidas no aumento de casos de asma
alérgica.
Estudos mostram que a fibra alimentar é metabolizada e fermentada por bactérias da
microbiota intestinal em ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs), os quais
podem afetar a atividade inflamatória de células do sistema imune, tais como células
T reguladoras (Patrick et
al., 2013), mantendo a integridade do epitélio e prevenindo infecções
do trato gastrointestinal. Além disso, estudos mostram que os SCFAs produzidos no intestino podem
alcançar a circulação sistêmica (Cummings et al., 1987),
podendo alterar a atividade de células imunes fora do sistema gastrointestinal.
Com isso, a
fim de se investigar os potenciais efeitos benéficos da dieta rica em fibras na
inflamação pulmonar alérgica, Trompette et al (2014) alimentou camundongos com uma dieta rica em fibras e
analisou o desenvolvimento da inflamação pulmonar induzida por extrato de
poeira de ácaro doméstico (HDM).
O grupo mostrou primeiramente que uma
dieta pobre em fibras aumenta a suscetibilidade à inflamação alérgica pulmonar.
E que somente uma dieta rica em fibras do tipo solúvel (encontrada
principalmente em frutas e sementes) diminui a inflamação pulmonar por HDM. Os
autores também mostraram que a ingestão de fibras solúveis aumentou a proporção
de bactérias do filo Bacteroidaceae e Bifidobacteriaceae na microbiota
intestinal (importantes para a fermentação de fibras solúveis em SCAFs, como o
propionato). Corroborando esses dados, a administração de propionato por via
intraperitonial, mas não oral, aumentou o número de precursores de células
dendríticas na medula óssea por meio da ligação em receptor GPR-41 (mas não
GPR-43). Curiosamente, por meio do tratamento com propionato, células
dendríticas que chegavam ao pulmão em resposta ao HDM, possuíam um perfil mais
imaturo, sendo ineficazes em ativar células Th2 ali presentes, impedindo a
manutenção da resposta inflamatória alérgica das vias aéreas, melhorando,
assim, o quadro clínico desses animais.
Enfimmmm!
Uma história lindaaa!!! Não fosse o fato de termos que ingerir mais
frutas e cereais, (fontes de fibra solúvel) ao invés dos tão gostosos grumos de
açúcar (ou complementos alimentares) precipitados num suco bemm docinho (sempre
lógico, com a desculpa sem vergonha, de estarmos ingerindo frutas rs...).
Fonte: Trompette et
al. Gut microbiota metabolism of dietary fiber influences allergic airway disease and hematopoiesis. Nat Med. 2014
Feb;20(2):159-66
Post
de : Gabriel Shimizu Bassi Amanda Zangirolano (doutorandos
IBA – FMRP/USP)