Os neutrófilos são excelentes “sensores” capazes
de reconhecer bactérias e seus produtos e, mediadores da inflamação. Também são
exímios corredores; rapidamente migram e infiltram para os tecidos com injúria.
Ao ativarem, os neutrófilos tornam-se capazes de detectar e matar microorganismos
invasores, por uma série de mecanismos que envolvem: a liberação de grânulos,
fagocitose, e a liberação de espécies reativas de nitrogênio e oxigênio. Em
geral, para que essa maquinaria mortífera funcione é fundamental uma atividade
ótima da NADHH oxidase, uma cadeia de elétrons presente nas membranas dos neutrófilos
(e de outros tipos celulares) capaz de formar superóxidos (O2-)
a partir do oxigênio molecular (O2), processo que inicia o burst respiratório. Como consequência, sítios
inflamatórios tendem a escassez de oxigênio, processo conhecido como “hipóxia
inflamatória” (Robinson,
2009) .
Neste belíssimo artigo da Immunity Campbell
e colegas, elucidaram novos mecanismos desse processo e desvendam a influência,
até então não apreciada, dos neutrófilos na regulação e resolução da
inflamação. Isso mesmo. Pode soar paradoxal, porém Campbel e equipe avaliaram in
vitro a influência que os neutrófilos, ao migrar, exercem nas células
epiteliais. E concluíram que essas células mudam seu perfil de expressão gênica
de RNAm, aumentando genes relacionados a
hipóxia. Isso ocorre em resposta a queda da disponibilidade de oxigênio no
microambiente, consumido pelo neutrófilo que migrou.
Para validar essas descobertas in vivo, a equipe utilizou um modelo de
doença inflamatória intestinal (IBD), em camundongo, induzida por TNBS
(trinitrobenzenesulfonic acid). Usando camundongos HIF reporter (Hypoxia-Inducible Factor) foi demonstrado que a depleção
de neutrófilos, curiosamente, piora o quadro inflamatório associado à IBD nesses
animais. Já com o uso de camundongos CGD (deficientes de NADPH oxidase) observou-se
que o acúmulo de neutrófilos, incapazes de consumir o oxigênio, promovia o
desenvolvimento de um quadro de colite grave. A gravidade, contudo, foi
amenizada quando administrado o fator de transcrição HIF que foi associado ao
aumento da sobrevida dos animais. De fato, Campbell
e colegas constataram que a hipóxia mediada por neutrófilos em animais WT
induzidos à colite experimental, resultava no aumento e na estabilização do fator
HIF, cuja função protetora em mucosas já era conhecida. A estabilização do HIF,
por sua vez, induz uma resposta protetora nas células epiteliais que passam a
produzir mais mucina (principal composto do muco), além de melhorar as funções
das barreiras de mucosa contra agentes microbianos, principalmente, devido ao
aumento das células caliciformes.
Neutrófilos ativados induzem hipóxia e geram proteção
Crédito da imagem: Niels Borregaard (immunity/2014)
Esse
trabalho muda paradigmas, principalmente na forma como entendemos a interação
dos neutrófilos com os tecidos inflamados. Nos leva a repensar as estratégias
que usamos para melhorar as respostas inflamatórias. E mostra que nem tudo é o
que parece ser, afinal, ao migrar os neutrófilos deixam também seus efeitos
anti-inflamatórios.
Post de Rodrigo P. Almeida Rodrigues (Mestrando FMRP/IBA)
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