O
desenvolvimento de novas vacinas tem sido dificultado pelo pouco conhecimento
de como as vacinas funcionam, levando à proteção do indivíduo vacinado.
A identificação de correlatos de proteção torna-se essencial para estabelecer
estratégias de desenvolvimento de novas vacinas que sejam eficazes. É pouco
provável que ensaios que quantificam um ou poucos parâmetros da resposta imune permitam
identificar, de forma isolada, caminhos e interações moleculares que possam ser
preditivos da resposta imune protetora.
O desenvolvimento de vacinas para doenças como HIV, HCV,
tuberculose, malária, dengue, entre outras, tem sido significativamente prejudicado
pela falta de compreensão das respostas imunes protetoras. Alguns ensaios
clínicos recentes de vacinas falharam em estágios avançados, como se observou
em HIV, possivelmente devido à falta de conhecimento sobre os correlatos de
proteção. Isso reforça a importância do uso de novas estratégias para abordar a
respota imune como um todo.
Para abordar a complexidade de interações moleculares dos diferentes
componentes da resposta imune que podem estar envolvidos na proteção induzida
por uma vacina, a Biologia de Sistemas tem se mostrado como uma forte aliada.
Biologia de Sistemas é um campo de estudo que visa
compreender os sistemas biológicos em uma rede integrada. Visa integrar a
biologia com o uso de plataformas “omics” combinadas ao uso de ferramentas
computacionais para bancos de dados e modelagem. Vários pesquisadores têm utilizado ferramentas de
Biologia de Sistemas para tentar identificar assinaturas genicas de vacinas que
funcionam, ou seja, daquelas que apresentam um alto índice de proteção.
Neste
contexto, já foram realizados estudos com vacinas para febre amarela (1,2) com
foco na resposta de linfócitos B e linfócitos T CD8+, e vacina para gripe (3)
com foco nas respostas inata e adaptativa. Nos estudos com a vacina para febre
amarela foram observados que componentes da resposta inata, como os
inflamassomas, são importantes para uma resposta imune adaptativa
protetora. Para identificar assinaturas
gênicas para influenza, foi realizado um estudo comparativo de duas vacinas, uma
trivalente inativada (TIV) e outra viva atenuada (LAIV). As assinaturas gênicas
obtidas em células mononucleares de sangue periférico (PBMC) de indivíduos
vacinados foram distintas entre as duas vacinas, mas a expressão de alguns
genes da imunidade inata, como inflamassoma e NFKb, foi similar entre as duas.
Um artigo publicado em janeiro de 2014 na Nature Immunology
(aqui) pelo grupo de Bali Pulendran mostra os
resultados de um estudo que integra resultados de expressão gênica de PBMC
humano induzida por 5 vacinas, focando na indução de anticorpos. Nesse estudo
de Li et al, 2014 foi realizada uma análise comparativa, combinando dados novos
de expressão gênica gerados pela vacinação com duas vacinas anti-meningococos,
MPSV4 e MCV4, com dados de expressão gênica da vacina para febre amarela
(YF-17D) (1) e de duas vacinas contra
influenza (3), publicados anteriormente pelo mesmo grupo. A partir disso, os
autores desenvolveram uma rede de grande escala de integração de dados de
transcriptomas de sangue humano obtidos em outros trabalhos da literatura, que
estão disponíveis publicamente, utilizando interatoma.
Dessa maneira, foram
identificados grupos de genes (módulos) que se correlacionam uns com os outros
formando uma rede. Esta abordagem identificou assinaturas gênicas distintas que se
correlacionaram com as respostas de anticorpos específicos induzidos pelas
vacinas estudadas. Os resultados
demonstram o poder dessa “plataforma” de rede integrada, e que mecanismos
imunológicos podem ser inferidos a partir de transcriptomas de sangue humano logo após a vacinação. Uma boa noticia é que os autores disponibilizaram a plataforma com essa rede integrada de dados,
que tem interface com outros softwares de análise e que pode ser utilizada por qualquer
pessoa para analisar seus próprios dados de transcriptomas gerados após
vacinação em humano. Como ressaltado por Li e cols, 2014, a utilização dessa
plataforma pode ser um primeiro passo na tentativa de saber se existem correlações
universais de respostas de anticorpos à vacinação.
Endereço dessa plataforma - TranscriptomicPrograms in Vaccine Response: (http://www.immuneprofiling.org/papers/meni/).
Vale a pena conferir
o artigo e entrar no site acima para ver as possibilidades que esta plataforma
oferece.
1. Querec, T.D. et al. Nat. Immunol. 10,
116–125 (2009).
2. Gaucher, D. et al. J. Exp. Med. 205, 3119–3131 (2008).
3. Nakaya, H.I. et al. Nat. Immunol. 12, 786–795 (2011).
4. Li, S. et al. Nat.
Immunol. 15, 195–204 (2014).
Simone Fonseca
(UFG-Goiania)
Post de Milton Oliveira
Comentário de João Carmo: Bali Pulendran, Rahfi Ahmed e Helder Nakaya (este, brasileiro) estiveram no Keystone Symposia on Vaccines, realizado no Rio de Janeiro, em outubro/novembro últimos.
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