Para os que ainda não leram, esta reportagem foi publicada na Folha de São Paulo no dia 27/09/2012.
RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO
O pesquisador Alexander Oettl, do Instituto de Tecnologia da Geórgia (EUA), estudou os "agradecimentos" a cientistas que não eram coautores em artigos científicos na área de imunologia desde 1950. E descobriu que, quando esses cientistas, todos líderes e "pesquisadores principais" (ou seja, chefes de sua equipe de pesquisa), morriam de repente, os artigos dos seus colegas mais jovens perdiam qualidade medida pelo "impacto", isto é, o número de citações que geravam em artigos de outros pesquisadores.
Já os cientistas cujos colegas seniores eram pouco colaborativos não chegavam a perder qualidade, ou "impacto", na sua produção científica.
"Tradicionalmente, a ciência tem sido uma busca individual, em que as pessoas têm sido avaliadas pela sua produção pessoal e realizações. Mas a descoberta depende cada vez mais do trabalho em equipe, e ainda assim os cientistas estão sendo julgados apenas pelo que eles mesmos realizam", escreveu Oettl em artigo na "Nature".
Graças às modernas ferramentas de computação, ele conseguiu garimpar dados de qualidade. Checou em detalhes os arquivos de uma revista científica da área de imunologia, o "Journal of Immunology", entre 1950 e 2007; ou seja, mais de 50 mil artigos. E, para saber quais pesquisadores teriam morrido no período, extraiu dados de mais de 400 mil notas na "newsletter" da Associação Americana de Imunologistas.
Ele achou 149 "pesquisadores principais" que morreram no meio da carreira. E 63 deles estavam entre os 20% que mais recebiam agradecimentos. Eram os que mais ajudavam seus colegas mais jovens.
"Meus resultados sugerem que os cientistas que são prestativos têm um
impacto importante sobre as carreiras dos seus colegas - e têm sido
subestimados por um empreendimento científico que premia o desempenho
individual acima de tudo. É hora de olhar mais de perto quais qualidades
que mais valorizamos nos cientistas. Os pesquisadores que geram
inúmeros trabalhos de alto impacto podem ter pouco tempo para discutir
os problemas, criticar manuscritos ou serem mentores de estudantes.
Aqueles que produzem um fluxo de artigos medianos podem ter um impacto
muito mais positivo sobre as carreiras das pessoas ao seu redor.
Pesquisadores que procuram colaboradores podem, por vezes, optar por um
colega prestativo que não é uma grande força em seu campo em vez de um
cientista estrela de rock que raramente responde a e-mails", escreveu o
pesquisador.
Aproveito que estamos na véspera do Congresso da nossa
Sociedade para lembrá-los da importância da sessões de posteres. Ela é o melhor
lugar para discutirmos idéias científicas e abordagens metodológicas. Nos vemos
lá!
ótimo post! não entendi pq ninguém se manifestou nos comentários...
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