Guerra dos sexos? Li que a Globo refez a famosa novela. Não sei se faz sentido
refazer os papéis
da Fernanda Montenegro e do saudoso Paulo Autran, mas enfim, aproveito a dica
para falar de um trabalho que saiu no PNAS (Moss-Racusin et al, 2012). Aqui nos
EUA há muita
discussão sobre o baixo
número de
mulheres nos escalões científicos mais altos, e
especialmente nas área
de exatas. Como não
se encontra uma justificativa biológica,
que explicaria uma aptidão
diferente entre homens e mulheres, haveria uma razão ‘cultural’? As mulheres desistiriam da carreira
científica porque
culturalmente se espera que elas vão
cuidar das crianças,
dos pais e outros familiares; ou haveria mesmo uma preferência das mulheres por
este caminho. Ou talvez… algum outro fator? (preconceito, no mundo acadêmico?!?!). Lá foram Moss-Racusin e
companhia investigar.
Neste estudo, o mesmo currículo de um estudante procurando vaga de técnico em um lab foi
enviado para 127 professores (homens e mulheres) nos EUA. Metade dos
professores recebeu o currículo
com nome masculino (John) e a outra metade feminina (Jennifer). E o resultado?
O John foi significativamente (estatisticamente) considerado mais competente,
com maior probabilidade de ser contratado e recebeu mais ofertas de orientação do que a Jennifer. E o
interessante é que tanto
professores quanto professoras julgaram o John mais qualificado do que a
Jennifer. E não era
só papo – o salário oferecido para o
John também foi
significativamente maior, tanto pelo professores homens como pelas mulheres.
Enfim, a preferência
pelo John não foi
diferente entre homens e mulheres, por idades, por disciplinas e em diferente
situações de
carreira – todos consideraram o John mais competente e ofereceram mais a ele do
que à Jennifer,
apesar do currículo
idêntico. Outros dados
mostraram que tanto os homens quanto as mulheres mostraram ‘simpatia’ em relação a Jennifer, sugerindo
que a preferência
pelo John não seria
o resultado de uma reação
hostil contra as mulheres.
Os autores do trabalho concluíram que estes resultados, por serem observados em
todos os grupos, sugerem a existência
de um “widespread cultural stereotype”, provavelmente não intencional, ao invés de uma atitude intencional contra mulheres. Este estudo se concentrou na area biológica e de exatas. Um
estudo prévio em
humanas mostrou o mesmo efeito – o favorecimento de candidatos masculinos.
Pois é,
nem os professores universitários,
que teoricamente são
treinados para serem ‘racionais’ e julgarem os fatos imparcialmente se deram
conta que estavam julgando homens e mulheres diferentemente…
Baseados nestes dados, os autores sugerem que as razões pelas quais as mulheres
abandonam a carreira científica
nao teriam só a ver
com a maternidade e outros compromissos familiares mas estariam também associadas a um
ambiente que, não abertamente
ou de propósito,
mas de maneira consistente, contínua e principalmente,
desde o início da carreira (antes mesmo dos bebês entrarem em cena) avalia as mulheres como menos
competente, dão
menos oportunidade, mentoram menos e dão
uma recompensa menor às
mulheres. O acúmulo
destas experiências,
mesmo que separadamente pareçam
coisas pequenas, em uma carreira complicada como a ciência (longas horas, salários baixos, baixo reconhecimento social) acabaria
desmotivando as mulheres para seguir a carreira científica, especialmente quando outras pressões (familiares e/ou econômicas) entram também em cena.
Proc Natl Acad Sci U S A. 2012 Sep 17. [Epub ahead of print]
Science faculty's subtle gender biases favor male students.
Moss-Racusin CA, Dovidio JF, Brescoll VL, Graham MJ,
Handelsman J.
Este artigo repercutiu bastante. Houve, por exemplo, uma reportagem do El Pais:
ResponderExcluirLa ciencia es (aún) cosa de hombres
http://blogs.elpais.com/mujeres/2012/10/machismo-desde-las-aulas-universitarias-hasta-los-laboratorios-cient%C3%ADficos-con-las-mismas-competencias-y-habilidades-sobre.html#more
Este site ilustrar algumas lindas historias de mulheres na ciencia. Uma das minhas favoritas: MILEVA MARIC EINSTEIN.
ResponderExcluirhttp://www.womeninscience.org/part.php?partID=1
The problem that I have with this study is the way it was conducted. Nothing , as far as I know, was done according to how a scientific study should be done:
ResponderExcluirA sufficient number of events
Designed in such a way that the CV in no way disclose the gender.
And last but not the least, is it allowed to provide information about yourself (sex) that is not correct? Can I falsify basic information for the ones that has to execute the action? What I see is an ethical conflict where the information gain is of such a low value that it does not justify the action. We can do better than this....I have no hope.