Quando
falamos das funções efetoras de células T é claro para nós o que cada uma faz:
após o reconhecimento de antígeno cognato, a CD8+ induz a morte de
células-alvo por secreção de grânulos líticos e a CD4+ secreta
citocinas e quimiocinas que recrutam e ativam outras células do sistema imune. Ambas
funções efetoras têm de ser finamente reguladas com o objetivo de prevenir
atividade efetora “indesejada”.
Muitos estudos mostram que células T CD8+
agem com acurácia, matando células-alvo de maneira específica e não
interferindo em células vizinhas. Entretanto, muito pouco é conhecido sobre o
direcionamento da entrega de citocinas por T CD4+. Embora as citocinas
podem exercer suas atividades a longas distâncias in vitro, não é claro se suas concentrações in vivo permitem um espectro de ação frente as células que estão em
contato com as células T CD4+. Será que in vivo, a secreção das citocinas por células T CD4+ é
limitada à sinapse imunológica (sussurros...) ou é multidirecional (gritos!!!),
agindo em células que não “experimentaram” a apresentação antigênica?
Tentando responder esta questão, um trabalho
recente publicado por Muller
et al. na Immunity, demonstrou que pelo menos em relação ao IFN-γ, as
células T auxiliares gritam!
Os autores descrevem que a secreção desta
citocina no local da infecção (no caso, Leshmania
major) é multidirecional e tem atividade bystander, ativando APCs a expressarem iNOS e matarem os parasitas
mesmo sem entrarem em contato com um célula T antígeno-específica. Esta
atividade bystander diminui a
necessidade de encontros antígeno-específicos de APC-células T, já que eles
demonstraram que apenas 10% das APCs infectadas tendo seu antígeno reconhecido
por células T cognatas é necessário para completo clearance do parasita. Além disso, analisando a marcação de iNOS do
sítio de infecção por microscopial confocal, os autores viram que o efeito multidirecional
do IFN-γ forma um gradiente, já que quanto mais distante da apresentação
antigênica (80µm), menos iNOS é produzido.
Os trabalhos nesta área (o direcionamento da
secreção de citocinas por T CD4+) possuem resultados bastante
discrepantes, mas muito é devido a modelos e metodologias distintos. Há quem
demonstre que, ao contrário do que citamos acima, o IFN-γ tem sua secreção
limitada à sinapse, mas será mesmo? Não achamos que isto teria muito “sentido
imunológico”. Acreditamos que a entrega de citocinas após o reconhecimento do
antígeno em múltiplas direções é um forma de “economizar esforço” das célula T...mas,
será que esta “economia”, no entanto, geraria efeitos colaterais no tecido
circundante? Bem provável, é esperar para ver.
Post de:
Taise Landgraf e Rafael Prado.
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