Post de Luís Henrique Franco.
Os patógenos empregam diversos mecanismos
para modular a imunidade do hospedeiro e promover o estabelecimento do processo
infeccioso. Nos últimos anos, diversos trabalhos têm demonstrado que o balanço
entre as principais vias de morte celular (apoptose/necrose) são importantes no
processo de estabelecimento ou eliminação de uma infecção.
Nos estágios iniciais de infecção, o bacilo
causador da tuberculose, Mycobacterium
tuberculosis (Mtb), inibe a apoptose das células do hospedeiro, enquanto em
estágios tardios induz necrose (Revisto por Behar et al., 2010). A apoptose de
células infectadas favorece a geração de vesículas apoptóticas contendo o
bacilo ou seus antígenos, as quais são fagocitadas por células dendríticas. As
células dendríticas, por sua vez, apresentam os antígenos micobacterianos para
células T naive, levando à ativação da imunidade adaptativa e controle da
infecção. Por outro lado, a indução de necrose pelo bacilo permite sua evasão
das respostas imunes e favorece a dispersão da bactéria para outras células não
infectadas. Dessa forma, cepas virulentas de Mtb são capazes de modular a via
de morte da célula infectada, induzindo preferencialmente a necrose.
Está bem estabelecido que a apoptose é um
tipo de morte celular que facilita o controle da replicação de Mtb no interior
de macrófagos. Porém, poucas evidências experimentais demonstraram qual o real
mecanismo microbicida está associado com esta via de morte. Recentemente, um
artigo publicado na Cell Host Microbe demonstrou que a
eferocitose (fagocitose de células apoptóticas por fagócitos profissionais) de
células infectadas por Mtb representa um importante mecanismo antimicrobiano (Martin et al., 2012).
Vale ressaltar que a eferocitose já havia sido descrita, por pesquisadores brasileiros,
como um processo que resulta em inibição da ativação da resposta imune com papel importante para o decorrer da infecção por patógenos intracelulares (Freire-de-Lima
et al., 2000; Zamboni e Rabinovitch, 2004).
No artigo publicado por Martin et al., foi demonstrado que a infecção de macrófagos peritoneais por Mtb origina uma taxa considerável
de células apoptóticas que, por sua vez, sofrem eferocitose por macrófagos não
infectados. Em um modelo muito interessante criado pelos autores, foi
demonstrado que a eferocitose de células apoptóticas acontece tanto in vitro quanto in vivo. O controle da replicação do bacilo pelos macrófagos foi
mais eficiente quando as células apoptóticas sofreram eferocitose. Em busca do
mecanismo relacionado com a maior eliminação da bactéria, os autores
demonstraram que Mtb perde grande parte da sua capacidade de inibir a
acidificação do fagossoma durante a eferocitose. Em vacúolos eferocíticos
contendo Mtb, foi observada a presença de maior quantidade de LAMP-1, um
marcador de lisosoma maduro, em comparação à vacúolos comuns (não eferocíticos)
contendo a bactéria, sugerindo que vacúolos eferocíticos são mais ácidos e
hostis à bactéria. Os autores especulam que Mtb perde sua capacidade de modular
a acidificação do fagossoma eferocítico em decorrência da presença das diversas
membranas celulares que separam o bacilo do citoplasma da célula hospedeira.
Referências:
Behar SM, Divangahi M, Remold HG. Evasion of innate immunity by Mycobacterium tuberculosis: is death an
exit strategy? Nat Rev Microbiol. 2010; 8(9):668-74.
Freire-de-Lima CG, Nascimento DO,
Soares MB, Bozza PT, Castro-Faria-Neto HC, de Mello FG, DosReis GA, Lopes MF. Uptake of apoptotic
cells drives the growth of a
pathogenic trypanosome in macrophages. Nature. 2000; 403(6766):199-203.
Martin CJ, Booty MG, Rosebrock TR, Nunes-Alves C, Desjardins DM, Keren I, Fortune SM, Remold HG, Behar SM. Efferocytosis
is an innate antibacterial mechanism. Cell Host Microbe. 2012; 12(3):289-300.
Zamboni DS, Rabinovitch M. Phagocytosis of
apoptotic cells increases the susceptibility of macrophages to infection with
Coxiella burnetii phase II through down-modulation of nitric oxide production.
Infect Immun. 2004; 72(4):2075-80.
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