Wii-munologia
Pedi para uma aluna minha escrever um texto para o blog da SBI. Parece que ela resolveu dar sequência à minha série de postagens "menos científicas"...
Por Sylvia Stella Amaral
ICB/UFMG
Sempre
associei os neutrófilos ao jogo de video-games Pacman. Essas células possuem a capacidade de
fagocitar patógenos, expondo-os a espécies reativas e oxigênio e produtos
antimicrobianos, ajudando na eliminação desses organismos. Seu papel primordial
no sistema imune inato é há muito estabelecido e ensinado nas escolas. Ainda
no ensino médio, é ensinado que são células capazes de realizar a diapedese,
transmigrando para sítios de infecção, processo esse mediado por integrinas e
selectinas.
Fagocitose?
Na
graduação, a idéia de Pacman permaneceu, mas com um cenário um pouco mais
complexo. Conforme é ensinado, os neutrófilos são células de vida curta, circulando por pouco
tempo antes de migrarem para os tecidos alvos, sendo esse processo dividido nas
etapas de rolamento, adesão, crawling e transmigração, com os neutrófilos
passando por entre as células endoteliais (via paracelular).
Outra
idéia interessante, relacionando neutrófilos a jogos de video-games, é sua
associação ao personagem Bomberman, uma vez que com a explosão respiratória
durante um processo infecioso, essas células são capazes de eliminar patógenos.
Explosão respiratória?
Tal
visão começou a ser modificada com a vivência de laboratório, estando defasada
a mais de 50 anos, devido a estudos de Marchesi e colaboradores (~1960) que apontavam
para uma nova via de migração, a transcelular. Através dela, os neutrófilos,
não encontrando espaço entre duas células endoteliais durante o crawling,
passam através das mesmas. Uma nova imagem me veio em mente, a da personagem
Fanático, dos Xmen, invulnerável e de incrível força, capaz de atravessar
paredes de concreto.
Transcelular?
Entretanto,
essa visão começou a ser alterada novamente, com a publicação de estudos mais
recentes de Brinkmann e colaboradores
(Science; 2004), que demonstraram que os neutrófilos têm capacidade
antimicrobiana dissociada de sua habilidade como fagócito profissional. Essas
células têm a habilidade de, mediante estímulos, liberar uma estrutura
semelhante a uma teia formada por DNA e proteínas, como histonas (NETs –
neutrophil extracellular traps), prendendo e matando patógenos
extracelularmente.
Nets?
Outos
detalhes foram adicionados, como os achados de Paul Kubes e colaboradores
(Nature Immunology, 2008), que dotaram o "Homem-Aranha" de um sistema de GPS.
Através da distribuição dinâmica da fosfatase da proteína PI3-K (PTEN – phosphatase
and tensin homolog), os neutrófilos não se perdem com outras distrações durante
o processo de transmigração, seguindo um gradiente quimiotático preferencial. Além
disso, Mc Donald e colaboradores (Science, 2010) mostraram que tal
direcionamento prioritário ocorre também durante lesões estéreis, com o
direcionamento para os focos de injúria mediado por um gradiente necrotáxico. Por
fim, uma nova habilidade foi descrita: a de manter o processo de
rolamento e adesão mesmo em meio a um rápido fluxo sanguíneo graças aos
“slings”. Em artigo publicado na Nature 2012 (comentado aqui no Blog também), Snudd e colaboradores
demostraram que os neutrófilos conseguem rolar de forma resistente ao fluxo
graças à utilização de projeções membranosas, lançadas à frente da célula,
fornecendo um substrato adesivo. Ao assistir os vídeos do paper, a comparação imediata foi com o eterno Indiana Jones
Slings?
Fico
curiosa para saber que rumos minha visão sobre essas incríveis células tomará
com os avanços dos estudos sobre sistema imune inato...
Sylvia, excelente post. Adorei as suas comparações, neutrófilos tão com tudo.
ResponderExcluirO mundo é dos NETS!! Legal de mais Sylvia, post didático, gostei muito.
ResponderExcluirÓtimo.parabéns sylvia.
ResponderExcluirParabéns... Gostei muito do post!!!!
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