Apesar de
assustar ou fascinar muita gente, a neuroimunologia veioà tona com artigos de
destaque e com euforia por parte dos cientistas. Antigamente (não muito longe, diga-se
de passagem), poucos estudos sobre o assuntoforam publicados. O que era
publicado focava em correlações entre estados emocionais (estresse, depressão) e
respostas imunológicas, ou de um determinado medicamento com suas respostas
ambíguas no psicológico e imunológico do indivíduo.
Os macrófagos
do trato gastrointestinal (TGI) atuam comouma barreira do sistema imune inato
para patógenos intestinais, localizando-se em diferentes porções do intestino.
Um grupo se localiza na mucosa, associando-se com a interface epitélio-luz
intestinal, e outros na parede muscular intestinal, distribuindo-se pelas três
camadas do intestino: camada serosa, plexo mioentérico (de Auerbach) e o plexo
submucoso (de Meissner). Os macrófagos que se localizam entre camadas estão
envolvidos com a síndrome do íleo pós-operatório e distúrbios da motilidade
associados com inflamação, doença e sintomas decorrentes do envelhecimento
(constipação, atrofia de vilos, etc).
Curiosamente,
tanto o plexo submucoso como o mioentérico fazem parte do sistema nervoso
entérico, o qual possui uma cadeia de neurônios interconectados e em rede que
controlam o peristaltismo, fluxo sanguíneo local e secreção de substâncias para
a luz intestinal. Em linhas básicas, esses neurônios servem de feedback para o
trânsito intestinal e absorção de nutrientes.
Um estudo
fascinante sobre o assunto foi publicado na Revista AutonomicNeuroscience por Phillips e
Powley (2012). Os autores procuraram entender mais sobre essa possível
relação macrófago-neurônio em processos associados com o envelhecimento e os
distúrbios autonômicos e imunológicos do TGI. O trabalho mostraque os
macrófagos (MHC II+ CD163+) estão em proximidade de neurônios positivos para a
tirosina hidroxilase e onde háα-sinucleína (proteína inicialmente
associada ao Mal de Parkinson e à formação de compostos que levam à apoptose de
neurônios), o que pode indicar que esses macrófagos são responsáveis, em parte,
pela fagocitose de neurônios em degeneração nesse local.
Interessante,
e de forma majestosa, os autores mostraram também que há uma sinapse entre
macrófago e neurônio (figura), com varicosidades e indentações tipicamente
encontradas em sinapses neuronais.
O estudo apóia
as evidências que mostram que o sistema nervoso autônomo pode influenciaras
respostas imunes periféricas, e que os macrófagos estão em íntima relação com
neurônios colinérgicos, neuritos distróficos e locais de depósito de α-sinucleína,
três possíveis alvos de perda neuronial no intestino e possíveis
imunopatologias. Além disso, os resultados mostram que há uma sinapse real
entre macrófago e neurônio, e que a liberação de um neurotransmissor é
direcionada para a célula do sistema imune, contrariamente ao pensamento corrente
de que há uma liberação de uma quanta de neurotransmissores que trafega pelo
interstício e aleatoriamente alcançam um macrófago infeliz (farmacologicamente
algo que eu duvidava muito que pudesse acontecer em larga escala, pois o
neurotransmissor se degradaria muito rapidamente e os efeitos neuroimunológicos
seriam mais sistêmicos que localizados).
O trabalho em
si é visualmente agradável e de fácil leitura, principalmente pela sua
simplicidade (vale à pena ler o artigo inteiro). Essas descobertas levantam
mais questões sobre o sistema neuroimune no TGI. Uma pergunta que fica é se as
proteínas de ligação entre neurônio pré e pós-sináptico poderiam ser também
utilizadas para o ancoramento do macrófago ao terminal axonal. É bom mantermos
questões sem chegarmos, de imediato, a uma resposta definitiva,
pois aparentemente encontramos mais prazer nas perguntas que nas suas respostas,
sejam visuais ou filosóficas.Agradeço ao Alexandre Kanashiro pela discussão e apresentação do artigo à minha pessoa.
Post de Gabriel Shimizu Bassi
Nenhum comentário:
Postar um comentário