Um sintoma claro do progresso da
imunologia é que abandonamos (espero de uma vez por todas) o narcisimo celular.
Nos últimos anos estudamos muito as divas imunológicas falando entre si. No centro
do palco estavam as células T, que governavam olimpicamente a imunologia. Hoje
começamos a olhar pro resto do organismo e a entender que
não estamos sós. Começamos a tirar o olho do umbigo, a entender melhor como, e com quem, vivemos.
A cada dia que passa fazemos
avanços consideráveis nesse entendimento. Abra qualquer revista ultimamente que
voce vai encontrar o tal do microbioma. O microbioma é o nosso Bóson de Higgs.
E, sinal claro de que o microbioma está virando moda, já
comecou a aparecer subset. Agora o subset, literalmente, de merda, se chama o
estroboloma.
Sério.
Eu não tinha ouvido falar nisso
até semana passada. Dei uma revisão de Martin Blaser
sobre microbioma e cancer pra Thais Herrero discutir no nosso JC. Fomos ler o
artigo e descobrimos o tal do estroboloma.
A reza é mais ou menos assim. Os
hormonios sexuais que nos dão as características sexuais que nos encantam, e
escravizam, acabam dando um certo preju, uma vez que contribuem descaradamente
pra aumentar o risco de cancer. Isso porque in the long run, eles favorecem a
proliferação celular, e como tal aumentam o risco de malignidade. Como a gente
não esta programado pra viver tanto, bote estrago nisso. Veja a estória: o estrógeno, hormonios
sexual que existe em abundancia nas mulheres é produzido primariamente pelos
ovários. Dá graça e fertilidade as mulheres. Na menopausa, a sua produção cai
muito, o que leva a vários transtornos. Num passado recente, muitos médicos
faziam reposição hormonal pra tratar esses transtornos, mas isso foi
discontinuado quando se descobriu que isso aumentava o risco de cancer de mama.
Tambem se descobriu que muitos tumores eram dependente de estrógeno (daí o uso
de antagonistas de estrógeno, como tamoxifen). Como tudo na vida, o estrógeno
tem seu lado bom e seu lado não tão bom. O que acontece é que a fisiologia esta
aí para manter os níveis de estrógeno in check. E como é que esses níveis ficam
em check? Ora, o hormonio é excretado pela urina e pelas fezes. Pra ser
excretado o estrógeno precisa ser conjugado. Isso acontece primariamente no
fígado, onde ele pode ser metilado, sulfonado, etc. Daí, ou volta pra
circulação e é excretado pela urina, ou é excretado na bile. Isso daria um fim beleza
pro estrógeno, só que existem umas bactérias no intestino que são capazes de
desconjugar o estrógeno. E aí já viu: o troço volta pra circulação. Moral da
estória: esse conjunto de bactérias que tem a propriedade de desconjugar o
estrógeno se chama estroboloma. Quando li, imediatamente gostei. Claro. O nome
em si so já é estrambótico. Blaser não sabe que estroboloma é um troço
engracado em portugues. Não sei porque, mas que é engracado é. Fiquei o dia
todo com a palavra na cabeça.
A atividade dessas bactérias, do
tal estroboloma, poderia em tese, influenciar
os níveis de estrógeno na circulação, e, esticando, esticando, influenciar o
desenvolvimento de cancer… E talvez autoimunidade. Veja, estamos carecas de
saber que certas doenças autoimmunes como tireoidite, lupus, etc são muito mais
frequentes em mulheres que em homens. Será o estroboloma? Digo, seriam essas
doencas influenciadas pelo microbioma? E se tal, seriam essas doenças
influenciadas por bactérias capazes de afetar os níveis de hormonios, em vez de
resultarem de cambios em subsets imunologicos, como o Th17 (até ontem a célula
du jour?). Ou seria tudo junto?
Talvez com esse negócio de
estroboloma Blaser esteja certo. Vamos ter que testar o tal do estroboloma. E
provar que tá errado. Mas que a idéia é provocativa é. E se for certa, e tiver
importancia, volta a provar, estramboticamente, o que Humboldt
dizia: tudo é interconectado…
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