sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Wii-munologia


Wii-munologia

 

Pedi para uma aluna minha escrever um texto para o blog da SBI. Parece que ela resolveu dar sequência à minha série de postagens "menos científicas"...

Por Sylvia Stella Amaral
ICB/UFMG


Sempre associei os neutrófilos ao jogo de video-games Pacman. Essas células possuem a capacidade de fagocitar patógenos, expondo-os a espécies reativas e oxigênio e produtos antimicrobianos, ajudando na eliminação desses organismos. Seu papel primordial no sistema imune inato é há muito estabelecido e ensinado nas escolas. Ainda no ensino médio, é ensinado que são células capazes de realizar a diapedese, transmigrando para sítios de infecção, processo esse mediado por integrinas e selectinas.


Fagocitose?

Na graduação, a idéia de Pacman permaneceu, mas com um cenário um pouco mais complexo. Conforme é ensinado, os neutrófilos são células de vida curta, circulando por pouco tempo antes de migrarem para os tecidos alvos, sendo esse processo dividido nas etapas de rolamento, adesão, crawling e transmigração, com os neutrófilos passando por entre as células endoteliais (via paracelular).

Outra idéia interessante, relacionando neutrófilos a jogos de video-games, é sua associação ao personagem Bomberman, uma vez que com a explosão respiratória durante um processo infecioso, essas células são capazes de eliminar patógenos.




Explosão respiratória?

Tal visão começou a ser modificada com a vivência de laboratório, estando defasada a mais de 50 anos, devido a estudos de Marchesi e colaboradores (~1960) que apontavam para uma nova via de migração, a transcelular. Através dela, os neutrófilos, não encontrando espaço entre duas células endoteliais durante o crawling, passam através das mesmas. Uma nova imagem me veio em mente, a da personagem Fanático, dos Xmen, invulnerável e de incrível força, capaz de atravessar paredes de concreto.



Transcelular?

Entretanto, essa visão começou a ser alterada novamente, com a publicação de estudos mais recentes de Brinkmann e colaboradores  (Science; 2004), que demonstraram que os neutrófilos têm capacidade antimicrobiana dissociada de sua habilidade como fagócito profissional. Essas células têm a habilidade de, mediante estímulos, liberar uma estrutura semelhante a uma teia formada por DNA e proteínas, como histonas (NETs – neutrophil extracellular traps), prendendo e matando patógenos extracelularmente.


Nets?


Outos detalhes foram adicionados, como os achados de Paul Kubes e colaboradores (Nature Immunology, 2008), que dotaram o "Homem-Aranha" de um sistema de GPS. Através da distribuição dinâmica da fosfatase da proteína PI3-K (PTEN – phosphatase and tensin homolog), os neutrófilos não se perdem com outras distrações durante o processo de transmigração, seguindo um gradiente quimiotático preferencial. Além disso, Mc Donald e colaboradores (Science, 2010) mostraram que tal direcionamento prioritário ocorre também durante lesões estéreis, com o direcionamento para os focos de injúria mediado por um gradiente necrotáxico. Por fim, uma nova habilidade foi descrita: a de manter o processo de rolamento e adesão mesmo em meio a um rápido fluxo sanguíneo graças aos “slings”. Em artigo publicado na Nature 2012 (comentado aqui no Blog também), Snudd e colaboradores demostraram que os neutrófilos conseguem rolar de forma resistente ao fluxo graças à utilização de projeções membranosas, lançadas à frente da célula, fornecendo um substrato adesivo. Ao assistir os vídeos do paper, a comparação imediata foi com o eterno Indiana Jones




Slings?

Fico curiosa para saber que rumos minha visão sobre essas incríveis células tomará com os avanços dos estudos sobre sistema imune inato...


4 comentários:

  1. Sylvia, excelente post. Adorei as suas comparações, neutrófilos tão com tudo.

    ResponderExcluir
  2. O mundo é dos NETS!! Legal de mais Sylvia, post didático, gostei muito.

    ResponderExcluir
  3. Ótimo.parabéns sylvia.


    ResponderExcluir
  4. Parabéns... Gostei muito do post!!!!

    ResponderExcluir