Sabe-se
que a progressão do HIV para a AIDS está associada com ativação crônica do
sistema imune, entretanto esse processo não era completamente compreendido. A
partir de 2006, Brenchley e
colaboradores verificaram que os
pacientes que progrediram para a AIDS apresentavam elevadas concentrações de
LPS no plasma. A presença do LPS estava associada com a ativação crônica do
sistema imune, detectada pelos altos níveis de IFN-α, células TCD8+
(CD38+HLA-DR+) e CD14 solúvel no sangue, indicando que a
progressão do HIV para a AIDS está associada com a translocação de produtos
microbianos.
As principais
causas da translocação são a destruição da barreira epitelial do intestino e a
perda de células Th17 da mucosa, produtoras de IL-17 e IL-22, essenciais para a
manutenção da homeostasia e da integridade do epitélio, respectivamente. A
perda das células Th17 e o aumento das células T reguladoras estão associados
ao aumento da expressão da enzima IDO (Indoleamine 2,3-Dioxygenase) e dos
catabólitos da via do triptofano, como a kinurenina, gerando a quebra da
homeostasia e consequente destruição da barreira epitelial do intestino.
Recentemente,
Favre e
colaboradores provaram que o “vilão” responsável pela progressão da AIDS
não é apenas o HIV. O grupo observou que existe diferença na composição da
microbiota intestinal dos indivíduos HIV+ quando comparada aos dos indivíduos
soronegativos. Utilizando Phylochip Microrray para fazer um screening das bactérias da microbiota
total dos indivíduos, foi demonstrado que existem grupos taxonômicos altamente
abundantes associados com a microbiota dos indivíduos HIV+,
denominados “disease-associated microbial community- DMC”. Esse conjunto de
bactérias está intimamente relacionado com a diminuição da secreção de IL-17 e
IL-22 no intestino, ativação de células T no sangue periférico e no GALT, marcadores
de inflamação sistêmica (IL-6 e IP-10) e aumento da quinurenina no plasma.
Esses fatores em conjunto estão associados com a quebra da homeostasia imunológica
da mucosa e a perda da integridade da barreira epitelial do intestino, que
culminam na progressão do HIV para a AIDS.
Além
disso, foi demonstrado que bactérias que compõem a DMC possuem enzimas
homólogas as enzimas da via do catabolismo do triptofano. Portanto, as
bactérias da DMC são responsáveis pelo catabolismo desse aminoácido e
consequente aumento das quinureninas, favorecendo a translocação de produtos
microbianos e ativação crônica do sistema imune. Sendo assim, o grupo concluiu
que a disbiose da microbiota intestinal em indivíduos infectados com HIV
promove a progressão para a AIDS.
Post de Aline Sardinha e
Laís Sacramento (doutorandas - FMRP-USP/ IBA)
Parabéns pelo post. Não só as bactérias fazem parte desse enigma. Em 2012, Handley SA, publicou um artigo na Cell (Cell. 2012 Oct 12;151(2):253-66. doi: 10.1016/j.cell.2012.09.024) mostrando que macacos infectados com SIV tiveram expansão de vírus encontrados normalmente na microbiota. Não só isso, permitiu também a descoberta de vírus nunca antes descritos. Abraço
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