Toda
vez que pensamos em alergias mediadas por células Th2, logo inferimos aquela
clássica sequência de eventos: ativação de células dendríticas, polarização de
resposta Th2, produção de IgE, sensibilização de mastócitos, ativação de
eosinófilos e liberação de mediadores, como histamina. Mas nem sempre um
processo alérgico mediado por resposta Th2 conta com esta mesma sequência de
eventos. Um trabalho do grupo liderado pelo Dr David Artis publicado na Nature Medicine demonstrou que os
mecanismos imunológicos envolvidos com a patogênese e a progressão da esofagite
eosinofílica (EoE) não são comuns a todas as alergias conhecidas. A EoE é uma
doença alérgica, de origem alimentar que atinge principalmente crianças
(4/100.000) e é caracterizada pelo intenso infiltrado eosinofílico no esôfago. Além
disso, pacientes com EoE apresentam aumento da expressão gênica para citocina
TSLP (Thymic stromal lymphopoietin)
no esôfago e parte deles possuem polimorfismo de ganho de função no gene desta
citocina. A TSLP já foi discutida neste blog e você pode acessar o link: http://blogdasbi.blogspot.com.br/2011/10/journal-club-iba-tslp-regulando.html .
Nesse
estudo foi observado que animais sensibilizados com alérgeno pela via cutânea
apresentavam intensa liberação local de TSLP, e este evento foi associado ao
desenvolvimento da EoE, visto que animais TSLPR-/- não desenvolveram
a doença. Sabendo-se que a TSLP é importante para diferenciação e proliferação
de basófilos, foi demonstrado que estas células participam da patogênese da
EoE, onde animais depletados de basófilos não desenvolveram a doença. Também foi
avaliado a participação da IgE no desenvolvimento da EoE. De maneira
supreendente, animais deficientes para a cadeia pesada de IgE continuaram
apresentando a inflamação alérgica, demonstrando que a patogênese da EoE
independe de IgE.
Interessante
que pacientes com EoE ativa (> 15 eosinófilos/campo histológico), apresentam
um intenso infiltrado basofílico no esôfago, reforçando a importância desta
célula para patogênese da doença. Ainda, pacientes que possuiam pelo menos 1
alelo polimórfico de ganho de função no gene de TSLP apresentavam aumento de
basófilos sistemicamente. Desta forma, o eixo TSLP-basofilo também participa da
patogênese de EoE em humanos.
Seria
então o eixo TSLP-basófilo um potencial alvo terapêutico para o tratamento da
EoE? Para responder tal questão, animais já com a doença estabelecida foram
tratados com anti-TSLP ou com anti-CD200R3 (anticorpo que depleta basófilos). Ambos
os tratamentos reverteram os parâmetros imunolopatológicos e clínicos
encontrados na EoE, representando uma nova estratégia para o tratamento da
doença.
Em indivíduos que carregam o polimorfismo para o TSLPrisk, a exposição a antígenos nas barreiras epiteliais leva a um aumento na expressão de TSLP (5) associado com basofilia periférica induzida pelo TSLP (6), que em conjunto aumentam a probabilidade de, mas não são necessários para , o desenvolvimento da EoE (7). Ainda não se sabe se na EoE este polimorfismo e a basofilia periférica promovem o acúmulo de eosinófilos e basófilos no esôfago.
Referências
Spergel JM. Eosinophilic esophagitis in adults and
children: evidence for a food allergy component in many patients. Curr Opin
Allergy Clin Immunol. 2007 Jun;7(3):274-8.
Noti M, Wojno ED, Kim BS, et al. Thymic stromal lymphopoietin-elicited
basophil responses promote eosinophilic esophagitis. Nat Med. 2013
Aug;19(8):1005-13
Siracusa MC, Wojno ED, Artis D. Functional
heterogeneity in the basophil cell lineage. Adv Immunol. 2012;115:141-59.
Liu YJ. Thymic stromal lymphopoietin: master switch
for allergic inflammation. J Exp Med. 2006 Feb 20;203(2):269-73.
Post de Juliana Kawahisa e
Paulo Henrique Melo
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