Algumas vezes eu ouvi que a
relação entre um orientador e seu orientado é semelhante a um casamento, onde
deve haver confiança, cumplicidade, respeito, parceria, persistência, entre
outras coisas para que o trabalho seja bem conduzido. Neste casamento, são
compartilhadas as tristezas dos resultados que não saem e as alegrias dos bons
resultados e das publicações. Porém, antes que esta parceria se estabeleça,
dependemos de um concurso público. Após algumas conversas com colegas e participação
em diferentes processos seletivos, resolvi escrever este post sobre algumas formas de seleção de alunos de Mestrado, refletindo
se haveria uma fórmula para o sucesso.
Uma fase que é comum em vários
processos seletivos é o exame da proficiência na língua inglesa e uma prova
específica para o programa ou áreas do programa. Porém, apenas obter a maior
nota em uma prova escrita geral e saber ler textos em inglês não parece ser
suficiente para selecionar o melhor aluno para desenvolver um projeto
específico.
A análise de currículo é outra
ferramenta utilizada em vários processos seletivos, mas acumular o maior número
de certificados nem sempre caracteriza o melhor aluno. Além disto, o número
publicações científicas (incluindo resumos) é muito heterogêneo, tornado este método
difícil para desclassificar um candidato ao mestrado.
Pensando nos métodos descritos
acima, acredito que a participação do orientador na seleção seria totalmente dispensável
e ficaria fácil obedecer às diretrizes de concursos públicos onde a parte
interessada (não sei bem porque, mas este é o orientador) não deve e não pode participar
da seleção. Entretanto, quando começamos a pensar que um projeto de pesquisa
deve ser executado dentro de um determinado laboratório com todas as suas
particularidades, tenho dúvidas se é possível uma boa seleção sem nenhuma
participação do orientador.
Para tentar selecionar alunos com
mais experiência nos projetos a serem desenvolvido, alguns programas lançam mão
de uma carta de aceite ou similar. Assim, o orientador concorda que irá
orientar um determinado candidato e pode recusar outros. Embora este aceite tenha
diversos fundamentos e justificativas, não é uma atitude considerada muito boa,
já que está sendo feita uma pré-seleção de candidatos pelo orientador,
caracterizando uma interferência direta da parte interessada no processo
seletivo.
Outro método utilizado por alguns
programas é o da avaliação de um projeto de pesquisa. Embora este método pareça
ser válido em uma seleção para doutorado, a avaliação do projeto não é tão
fácil no caso do mestrado. Primeiramente, o projeto é do candidato que irá, a
princípio, concorrer com outros candidatos à mesma vaga. Portanto, o orientador
não deveria participar na elaboração do projeto (que por acaso será executado
dentro do laboratório sob sua responsabilidade). Caso o orientador dê
instruções para algum candidato, todos os outros deverão receber as mesmas
instruções. Esta situação fica ainda pior se pensarmos em estudantes
recém-formados na graduação nas diversas Universidades e Faculdades do país que
pretendem ingressar em um mestrado. Se o projeto de pesquisa for critério para
seleção, alunos que nunca fizeram uma iniciação científica ou “estágio” terão
grande dificuldade nesta concorrência.
Uma tentativa que fizemos foi de,
após a aprovação na prova de inglês e na prova específica, os candidatos deveriam
se submeter a uma prova oral com os prováveis orientadores. Neste caso, os
orientadores iriam escolher, dentre os candidatos aprovados, aqueles que tenham
mais conhecimento e capacidade para desenvolver um projeto dentro dos
respectivos laboratórios. Tivemos algumas críticas neste processo. Primeiramente,
o orientador não deveria participar da seleção em nenhuma etapa, logo, não pode
participar da prova oral. Outra crítica foi que o aluno que possuísse a maior
nota deveria ter preferência na escolha do orientador com quem deve trabalhar e
não o orientador escolher o melhor aluno.
Uma sugestão que recebemos foi a
de fazer a prova oral sem a participação do orientador. Isto torna o trabalho
um pouco mais difícil, pois a banca deve selecionar o melhor aluno, dentre os
aprovados na prova de inglês e prova específica, para trabalhar em um projeto
de outra pessoa. Além disto, embora não seja critério de seleção, a banca
sempre tenta averiguar a disponibilidade de tempo que o aluno tem para execução
do trabalho. Esta disponibilidade de tempo do candidato é outra avaliação
difícil. Em alguns casos, dependendo do projeto e do tipo de atividade, o aluno
pode ter vínculo empregatício e desenvolver suas atividades na pós-graduação
com grande tranquilidade. Porém, alguns projetos necessitam uma dedicação “mais
integral”. Assim, fica muito difícil para o membro de uma banca avaliar se a
disponibilidade de tempo de um determinado candidato é suficiente para que este
possa participar do projeto de um orientador que não pode interferir na seleção.
Outra alternativa, presente em
alguns programas, é permitir o ingresso dos alunos aprovados e após algum prazo
definido, esperar um acordo entre estudantes e orientadores. Vejo alguns problemas
neste processo. Primeiramente, o tempo vai passando antes de se definir o
projeto e orientador. Segundo, todos os alunos aprovados deverão ter um
orientador. Isto vale também para o aluno que não se enquadrou em nenhum
laboratório. Porém parece ser uma alternativa a se pensar.
Enfim, deixo a reflexão se deve haver
participação do orientador no processo de seleção para mestrado e até quanto
ele pode interferir...
Excelente reflexão Milton. Eu acho que o orientador não deva participar em nenhuma etapa do processo seletivo. Cada aluno é cada aluno mesmo e somente após alguns anos na lida (mestrado ou doutorado) é que começamos a nos conhecer melhor como futuros pesquisadores (no caso aluno) e os orientadores também a conhecer na prática o desempenho dos seus orientados. O que tentamos fazer em nossa pós para minimizar estes problemas, são cursos de inverno para futuros mestrandos, no qual ele escolhe o laboratório para passar um período de parte prática. Assim, se esse indivíduo vir a se candidatar em seleção para mestrado, o orientador já tem um conhecimento prévio do aluno.
ResponderExcluirOlá Giu,
ExcluirEu acho que os minicursos e cursos de verão são semelhantes aos estágios e a iniciação científica, já que estas atividades visam apresentar aos alunos o que é a pesquisa científica e o que está sendo feito em um determinado programa de pós-graduação. Todas estas atividades aumentam o número de candidatos que se interessam pela atividade de pesquisa e consequentemente, aumenta o número de bons alunos aprovados nos programas que seduzem o maior número cientistas. O ideal é que todos os alunos tivessem a oportunidade de avaliar se eles gostam de trabalhar com pesquisa e se eles se adaptam a um laboratório e ao ritmo do orientador antes de tentar a vaga para mestrado. Porém, esta oportunidade não é para todos. Só temos que lembrar que os minicursos e os cursos de verão não fazem parte do processo seletivo e, portanto, não são utilizados como uma “pré-seleção” para um orientador escolher o seu próximo aluno. Por outro lado, quando um orientador ou um estudante de pós-graduação percebe o potencial de um outro estudante, eles têm a obrigação de sugerir que este estudante tente ingressar em uma pós graduação.
Prezado Milton,
ResponderExcluirO processo de aprovação de um candidato para um curso de pós-graduação é um processo de adivinhação. Infelizmente, nós cientista nunca desenvolvemos um método científico para a entrada na ciência e descoberta de pesquisadores. Pode parecer piada, mas não é. Tanto aqui como numa universidade que trabalhei no exterior, havia muitas reclamações e incertezas. Temos que fazer um teste científico para provar que estes testes de ingresso tem alguma validade. Não acho que a seleção seja muito diferente de um sorteio, por exemplo. Por isto deveria ser feito um teste de desempenho ao longo de 10-15 anos dos candidatos selecionados X candidatos não selecionados (total) de um mesmo programa. Minha hipótese é que comprovaríamos de um vez por todas a hipótese nula: NÃO HÁ DIFERENÇA. Acho que é possível somente excluir alguns candidatos que são muito fracos em termos de conhecimento. Mesmo assim alguns destes podem ao longo do curso recuperar. Tem o exemplo de uma estudante que não sabia nenhuma palavra de inglês quando entrou no Doutorado direto. Seis anos depois, ganhou um prêmio como a melhor apresentação oral feita por um pós-doc numa excelente universidade na américa do norte. Portanto, mais fácil seria aprovar um monte de gente e ir liberando os que não se adaptassem a vida de cientista ao longo do tempo (a cada ano partiria uns 10-20%). No final do doutorado direto por exemplo voce teria ainda no máximo 50%. A avaliação do desempenho do aluno é o verdadeiro processo de seleção. Aí vai minha sugestão.
Abs.
Mauricio
Oi Maurício,
ResponderExcluirAchei interessante a ideia de perguntar primeiro se existe uma forma para seleção antes de perguntar qual seria a melhor. Eu concordo com você que o número de “surpresas” após a seleção é muito grande. Nós tivemos candidatos que “caíram de paraquedas” sem ter participado de nenhuma atividade de pesquisa durante a graduação e que possuíram um desempenho tão bom ou melhor que estudantes com experiência. Temos também aquelas “surpresas” de estudantes que fazem iniciação científica por alguns anos e quando estão no mestrado não mudam o ritmo de leitura e a dedicação. Não sei se é fácil excluir os piores durante o curso, mas gostei da ideia de que para o ingresso não devemos ter tanta preocupação em escolher os melhores. Eliminar os muito fracos já pode caracteriza uma seleção razoável.
Olá a todos, eu penso que o Dr. Mauricio chegou o mais próximo possível de uma conclusão para a reflexão feita pelo Milton, a avaliação do desempenho do estudante é uma boa opção para os programas e orientadores.
ResponderExcluirAbraços
Pinge-Filho