Um dos meus filmes favoritos se chama Apolo 13
– acho que todo mundo viu, contando a história da missão espacial que era pra
ser rotineira e acabou virando mundialmente acompanhada pois vários problemas
acabaram colocando a vida dos astronautas em risco. Bom, parece um drama, mas a minha seqüência favorita
do filme, na qual eu sempre penso, é aquela em que os níveis de CO2 da nave
ficam críticos, pois os filtros de ar não haviam sido programados para os 3
astronautas ficarem respirando ali dentro o tempo inteiro – já que eles não iam
afinal conseguir pousar na lua, e iam demorar mais pra voltar. Enfim. O comando
terrestre decide que alguém tem de propor uma solução de modo que os
astronautas consigam construir um filtro novo dentro da nave, no espaço. Para
isso, reúnem os engenheiros na base e dão pra eles os materiais que existem na
nave e dizem: façam um filtro com isso. E tem que funcionar, senão eles
morrem. Os engenheiros resolvem os
problemas, usando fita isolante para que tubos redondos encaixem em filtros quadrados, etc. E depois de testar, eles descrevem, passo a passo, para os
astronautas, pelo rádio, como eles tem de fazer o filtro.
Isso aconteceu de verdade, o filtro funcionou,
e pra mim é uma das histórias mais bonitas pra se usar como metáfora de como
tem de ser a ciência que a gente produz. Quando estudamos um problema, e
propomos uma solução, seja ela envolvendo ou não engenharia, não importa – ela
tem de ser reproduzível em qualquer laboratório do mundo – até numa nave
espacial orbitando a terra.
Nesta semana saiu na Nature um comentário de um
menino chamado Jonathan Russel aqui que não conheço, mas assino embaixo do que ele falou. Ele propõe que para todos os grandes grants que sejam
aprovados no NIH, seja aprovada uma verba em separado, para pagar um teste
independente de reproducibilidade. Independente de publicação – a verba gasta
pelo NIH deveria ter garantia de ser reproduzível. O contribuinte não deveria
pagar por ciência que só um laboratório consegue fazer, e ninguém mais.
Ele prossegue listando todas os prováveis
argumentos que as pessoas levantariam para dizer que isso não funcionaria.
Seria caro. Não seria prático. Quem faria os testes? E pro fim: a ciência se
auto corrige. Sim, se auto corrige, mas isso leva anos, as vezes décadas. O
atraso que algo de impacto, mas que não será reproduzível, causa, é enorme, e
muito, muito danoso.
Essa é uma discussão fundamental. Seja aqui,
nos EUA, no Japão, ou na Nigéria – se funciona, funciona. Se não funciona,
mesmo se saiu na Science, it is bad science. Nós temos de falar sobre
isso, ensinar nossos alunos sobre
isso, e pensar que as perguntas que fazemos e respondemos agora vão ajudar a
responder as perguntas do futuro –
talvez numa missão espacial em Júpiter, talvez numa epidemia na Nova Zelândia. Mas
apenas se o que você demonstrou puder ser reproduzido.
Belo post.... E uma grande verdade!
ResponderExcluirLegal que vc gostou, Bernardo. Tambem achei o cara muito gutsy de propor isso! bjo
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