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quinta-feira, 7 de março de 2013

Tendências


Uma das poucas coisas bacanas de a gente ficar assim com mais idade é ver a evolução das tendências de pensamento. No caso da memória imune, já vivenciei diversas fases. Primeiro, não se tinha idéia nenhuma de como a memória T era mantida, e a grande discussão era a necessidade da presença do antígeno.  Parecia impossível manter células T especificas vivas sem que o antígeno estivesse presente para uma periódica expansão (e sobrevivência destas) destas.  Nada conclusivo. Depois se via que aparentemente as células T CD8+ eram diferentes das T CD4+, talvez não precisassem de antígeno.  Mais recentemente a proliferação homeostática explicava tudo, então as citocinas como a IL-7 davam um jeito de manter proliferando esse compartimento de memória. As células T de memória pareciam ter características de stem cell, e manter sua própria população. Mas dai foi visto, por exemplo pelo lab do Sprent, na Scripps, em 2011, que as células T CD8+ podiam se expandir por reatividade cruzada.

Nesta ultima Immunity, o grupo do Mark Davis, da Stanford, sugere que a reatividade cruzada é também o mecanismo pelo qual as T CD4+ de memória também se mantém. Sabemos que a medida que os seres humanos envelhecem o compartimento T tem menos células naive e mais células de memória. Sempre vimos isso como um reflexo da involução do timo e da imunosenescencia.  Mas este estudo viu, usando a técnica de enriquecimento de populações de células T especificas por tetrâmeros – tendência  da qual o Marc  Jenkins, que esteve no congresso de Campos,  é o maior advogado – que em humanos que não foram expostos a certos vírus, como o HIV, existem células T especificas para peptídeos de HIV, ou CMV, com fenótipo de memória.  Já em neonatos, as células com as mesmas especificidades, tinham fenótipo naive.  

Mais: em indivíduos vacinados para a gripe sazonal,  eles identificaram células T CD4+ com especificidade para bactérias e parasitas, com reatividade cruzada com o vírus, que se expandiam e contraiam igualzinho as especificas para a gripe, ao longo da resposta a vacina.

Sensacional então. Será que a reatividade cruzada seria o principal mecanismo de expandir e criar memória, mesmo com afinidade não tão grande, para microorganismos aos quais ainda não fomos expostos, já protegendo previamente? E como isso afetaria a autoimunidade? E as alergias?

O Mark Davis também é o maior advogado da tendência de se trabalhar em imunologia de humanos, algo que com certeza vem com toda a forca agora em células T com os tetrâmeros. Sem duvida ele apresenta aqui nesse artigo uma grande evidencia de que promiscuidade das células T pode ser um mecanismo protetor importante do sistema imune. A promiscuidade pode ser uma coisa boa então. Será que essa tendência pega? Perigo!

Su, L.F., Kidd, B.A., Han, A., Kotzin, J.J., andDavis, M.M. (2013). Immunity 38, this issue,373–383.

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2 comentários:

  1. O assunto é bem interessante mesmo. Isso traria implicações importantes para projetar e avaliar vacinas.

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    1. Sem duvida Rodrigo. Provavelmente no futuro avaliaremos eficacia de vacinas usando tetrameros - quando desenvolvermos uma tecnologia mais simples para avaliar varias especificidades ao mesmo tempo!

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