As várias complicações resultantes de uma alimentação rica em açucar já são
conhecidas há muito tempo: diabetes, problemas cardiovasculares, obesidade,
etc, etc. Fato esse nada agradável para os amantes do chocolate e doces em
geral. No entanto, eles não precisam mais sentirem-se injustiçados pois, para o
outro lado da força, composta pelos amantes daquela comidinha bem temperada com
sal, a situação também parece ter ficado negra!
Em dois recentes trabalhos publicados na Nature (Kleinewietfeld, Manzel et al. 2013, Wu, Yosef et al.
2013) os
autores encontraram uma inédita e surpreendente associação entre o sal (sal de
cozinha, NaCl) e o desenvolvimento de células Th17, grandes vilãs em diversas
doenças autoimunes.
Embora não existam dados epidemiológicos que corroborem
com a relação entre hábitos alimentares ricos em sal e o desenvolvimento de
doenças autoimunes, os autores partiram da hipótese de que a atual alimentação,
frequentemente baseada nos chamados (e salgados) fast foods, poderia interferir diretamente no aumento da incidência
observado para essas doenças.
O primeiro trabalho traz experimentos basicamente
simples: indução de células Th17 in vitro
na presença de uma concentração de NaCl que mimetiza a encontrada no
interstício após dieta rica em sal.
Logo de cara, após estímulo com sal, eles já observaram
um aumento significativo de células produtoras de IL-17, da expressão de IL17A e concentração de IL-17 no meio.
Esse efeito foi específico do cátion sódio e não devido a mudanças na
osmolaridade.
Para avaliar os mecanismos envolvidos, eles realizaram
um microarray durante a diferenciação
Th17. Vários genes relacionados com o fenótipo dessas células encontraram-se
up-regulados na presença de sal (Rorc,
IL17F, CCR6, CCL20, IL23R, etc). No entanto, o que mais
chamou atenção foi a indução de dois genes que codificam moléculas relacionadas
com stress osmótico e resposta inflamatória: p38/MAPK, induzido em meio
hipertônico, e seu translocador osmosensitivo, NFAT5.
Mais interessante, o principal alvo de NFAT5, uma
quinase modulada pela tonicidade celular, também foi induzido pelo sal. Denominado
SGK1 (serum glucocorticoid kinase 1), essa
molécula é altamente expressa em células T CD4+ e regulada por TGF-β.
Pronto! Alguns membros desse quebra-cabeça já haviam
sido relevados, só bastava aos autores comprovar a relação entre eles. Através
do bloqueio dessas moléculas-alvo e avaliação da diferenciação Th17, eles
demontraram que o NaCl promove a diferenciação dessas células através da
fosforilação de p38/MAPK que induz NFAT5 e a ativação de SGK1.
Faltava saber a relevância in vivo desses achados. No modelo protótipo da resposta Th17, a encefalomielite
autoimune experimental (EAE), eles validaram os resultados observados in vitro. Animais submetidos a uma dieta
rica em sal desenvolveram a doença de forma mais acelerada e exacerbada, com
maiores números de células infiltrantes no sistema nervoso central. Células T
CD4+ infiltrantes e produtoras de IL-17 quase dobraram após essa alimentação.
Para quem, assim como eu, tenha se interessado pelo
assunto, vale a pena dar uma olhada no segundo trabalho que disseca ainda mais esse
mecanismo. O NaCl promove a ativação de SGK1 que induz esse fenótipo nas
células Th17 através do aumento de IL-23R.
Esses trabalhos revelaram informações valiosas a
respeito de como os fatores ambientais podem interagir com os genéticos no
desenvolvimento de doenças autoimunes mediadas pelas células Th17. Assunto
bastante investigado na atualidade. A análise cuidadosa desses dados e a
correlação com o que é observado na clínica poderão nos fornecer melhor compreensão
da patogênese, além de novas intervenções terapêuticas para o tratamento de
tais doenças.
Aproveitem a leitura!
Kalil Alves Lima
Doutorando do Laboratório de Inflamação e Dor-
FMRP/USP
Referências
muuuuito interessante. vou ler com certeza. estamos aqui preocupados com a diminuicao da glicose na differenciacao das celulas T CD4+... Brunno, leia!
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