Quase
sempre falamos de Imunidade focando apenas no hospedeiro, porém às vezes,
esquecemos dos mecanismos de virulência de muitos parasitos. Recentemente li na
revista da FAPESP uma vibrante matéria que relatava sobre a “esperteza” do Trypanosoma cruzi. Esse intrigante
parasito é capaz de secretar pequenas vesículas (20 a 80 nm) cheias de
proteínas que facilitam a invasão de células do hospedeiro. Em uma analogia seria
o T. cruzi em um baile de máscaras
soltando confetes e cantando: “Oh abre alas que eu quero passar”.
Estudos
na tentativa de entender a função desses componentes demonstraram que as cepas
mais virulentas secretam números maiores de vesículas, as quais facilitam a invasão
das células cardíacas e antecipam a morte dos animais. Nesse contexto, em uma
cultura celular, com a adição dessas vesículas o parasito invade muito mais
rápido e eficientemente um macrófago ou célula epitelial. O processo de fusão
vesícula-célula do hospedeiro é extremamente rápido, levando cerca de 15
minutos.
Com
os avanços da proteômica foi possível identificar alguns componentes presentes
nessas misteriosas vesículas, dentre eles a transialidase, a qual transfere
resíduos de ácido sialíco da célula do hospedeiro para a superfície do parasito.
Nesse baile de máscaras podemos dizer que a transialidase estaria fantasiado de
Robin Hood (famoso ladrão). Essa enzima vale uma maior atenção, uma vez que tem
sido associada com vários fenômenos incluindo, apoptose de células do sistema imune,
modulação da imunidade inata e depleção de plaquetas.
As
vesículas liberadas pelo o T. cruzi foram
descobertas há 20 anos atrás, porém somente hoje vêm chamando a atenção da
comunidade científica, uma vez que nos últimos 5 anos cerca de 3500 artigos
tentam explicar o fenômeno, dar nomes, decifrar origem e etc. Vale ressaltar
que nesse baile de máscaras não é somente o T.
cruzi o grande convidado, a Leishmania e o Trypanosoma brucei também foram vistos nesse baile liberando suas
misteriosas vesículas. As vesículas liberadas por esses
parasitos patogênicos são importantes fatores de virulência que precisam ser
melhor analisadas para ampliar as perspectivas de prognóstico e tratamentos
dessas doenças.
Referências:
- Torrecilhas
AC, Schumacher RI,
Alves MJ,
Colli W.Vesicles as carriers of virulence factors in
parasitic protozoan diseases. Microbes Infect.2012 Aug 2.- Revista FAPESP 200, Outubro de 2012.
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