Post de Marcela Davoli
Ferreira (IBA-FMRP)
Como nós bem sabemos, a
maioria das vacinas utilizadas até hoje ainda são baseadas na indução de
anticorpos neutralizantes e, apesar dos diversos estudos que vêm sendo feitos com
o objetivo de se desenvolver vacinas que induzam células T de memória, poucos
resultados efetivos têm sido obtidos.
Isso porque uma resposta
sistêmica robusta dessas células não necessariamente se correlaciona com proteção
efetiva do hospedeiro, já que algumas partes do nosso corpo, como intestino,
trato respiratório, sistema nervoso central, pele e vagina são restritas à
entrada de células T de memória sistêmicas e, apenas diante de uma inflamação
ou infecção, células T ativadas são capazes de entrar nesses órgãos para,
posteriormente, estabelecer um pool de células T de memória residentes,
distinto do pool circulante.
Shin e Iwasaki (http://www.nature.com/nature/journal/v491/n7424/full/nature11522.html) conseguiram driblar este
problema e descreveram pela primeira vez uma estratégia vacinal efetiva contra
herpes simplex vírus 2 (HSV-2), que induz o estabelecimento de um pool de
células T de memória protetoras residentes no tecido periférico em questão sem
induzir inflamação ou infecção local.
A estratégia, denominada
pelos autores como ‘prime and pull’, é fundamentada em dois passos: a
imunização subcutânea convencional com HSV-2 atenuado, que induz uma resposta
sistêmica de células T (prime); seguida da aplicação tópica na mucosa vaginal de
uma ‘pomada’ de CXCL10 e CXCL9, quimiocinas sabidamente importantes para o
recrutamento de células TCD8 ativadas para o trato genital durante a infecção
por esse vírus (pull). Essas células recrutadas então estabelecem um nicho na
mucosa local e passam a mediar uma resposta protetora efetiva.
O trabalho demonstra que a
imunização pela utilização do protocolo de ‘prime and pull’ recruta 23,5% a
mais de células TCD8 específicas para HSV-2 para a vagina do que o protocolo de
imunização subcutânea convencional, enquanto a quantidade dessas células
presentes no baço, linfonodos ilíacos e pulmões permanecem semelhantes. Este
recrutamento mais efetivo de células TCD8 específicas, porém, ocorre apenas
quando o pull é realizado poucos dias após a etapa de prime, uma vez que é
nessa fase que as células TCD8 ativadas estão presentes em grande quantidade na
circulação.
Mas o que deve ser
destacado é que essas células não só migram em maior quantidade, como também
permanecem de maneira estável por longo período no tecido em questão, como
avaliado após 4 e 12 semanas após o protocolo de imunização.
Para fechar com chave-de-ouro,
como em um bom trabalho de alto impacto, a eficiência da estratégia vacinal foi
validada. Para isso, camundongos foram desafiados intravaginalmente com uma
dose letal de HSV-2, 4 ou 12 semanas após imunização e, para a alegria dos
autores, todos os animais imunizados com a técnica de ‘prime and pull’
sobreviveram e não apresentaram desenvolvimento de sintomas clínicos da doença
ou perda de peso em relação aos animais imunizados com protocolo convencional.
Os autores ainda sugerem
que os resultados obtidos com utilizando HSV-2 como modelo de infecção viral
podem ser extrapolados para o desenvolvimento de um possível protocolo de
imunização contra HIV-1. Isso porque, além de ambos os vírus possuírem a mesma
rota de entrada, a técnica elaborada é capaz de aumentar a quantidade de
células TCD8 específicas sem alterar o número de células TCD4 ativadas, que no
caso do HIV-1 são células alvo para a replicação viral.
Para aqueles que estiverem
com saudades de ler uns paperzinhos nas férias, vale a leitura do trabalho!
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