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domingo, 30 de dezembro de 2012

‘Prime and Pull’ - Uma nova estratégia vacinal


Post de Marcela Davoli Ferreira (IBA-FMRP)



Como nós bem sabemos, a maioria das vacinas utilizadas até hoje ainda são baseadas na indução de anticorpos neutralizantes e, apesar dos diversos estudos que vêm sendo feitos com o objetivo de se desenvolver vacinas que induzam células T de memória, poucos resultados efetivos têm sido obtidos.
Isso porque uma resposta sistêmica robusta dessas células não necessariamente se correlaciona com proteção efetiva do hospedeiro, já que algumas partes do nosso corpo, como intestino, trato respiratório, sistema nervoso central, pele e vagina são restritas à entrada de células T de memória sistêmicas e, apenas diante de uma inflamação ou infecção, células T ativadas são capazes de entrar nesses órgãos para, posteriormente, estabelecer um pool de células T de memória residentes, distinto do pool circulante.
Shin e Iwasaki (http://www.nature.com/nature/journal/v491/n7424/full/nature11522.html) conseguiram driblar este problema e descreveram pela primeira vez uma estratégia vacinal efetiva contra herpes simplex vírus 2 (HSV-2), que induz o estabelecimento de um pool de células T de memória protetoras residentes no tecido periférico em questão sem induzir inflamação ou infecção local.
A estratégia, denominada pelos autores como ‘prime and pull’, é fundamentada em dois passos: a imunização subcutânea convencional com HSV-2 atenuado, que induz uma resposta sistêmica de células T (prime); seguida da aplicação tópica na mucosa vaginal de uma ‘pomada’ de CXCL10 e CXCL9, quimiocinas sabidamente importantes para o recrutamento de células TCD8 ativadas para o trato genital durante a infecção por esse vírus (pull). Essas células recrutadas então estabelecem um nicho na mucosa local e passam a mediar uma resposta protetora efetiva.
O trabalho demonstra que a imunização pela utilização do protocolo de ‘prime and pull’ recruta 23,5% a mais de células TCD8 específicas para HSV-2 para a vagina do que o protocolo de imunização subcutânea convencional, enquanto a quantidade dessas células presentes no baço, linfonodos ilíacos e pulmões permanecem semelhantes. Este recrutamento mais efetivo de células TCD8 específicas, porém, ocorre apenas quando o pull é realizado poucos dias após a etapa de prime, uma vez que é nessa fase que as células TCD8 ativadas estão presentes em grande quantidade na circulação.
Mas o que deve ser destacado é que essas células não só migram em maior quantidade, como também permanecem de maneira estável por longo período no tecido em questão, como avaliado após 4 e 12 semanas após o protocolo de imunização.
Para fechar com chave-de-ouro, como em um bom trabalho de alto impacto, a eficiência da estratégia vacinal foi validada. Para isso, camundongos foram desafiados intravaginalmente com uma dose letal de HSV-2, 4 ou 12 semanas após imunização e, para a alegria dos autores, todos os animais imunizados com a técnica de ‘prime and pull’ sobreviveram e não apresentaram desenvolvimento de sintomas clínicos da doença ou perda de peso em relação aos animais imunizados com protocolo convencional.
Os autores ainda sugerem que os resultados obtidos com utilizando HSV-2 como modelo de infecção viral podem ser extrapolados para o desenvolvimento de um possível protocolo de imunização contra HIV-1. Isso porque, além de ambos os vírus possuírem a mesma rota de entrada, a técnica elaborada é capaz de aumentar a quantidade de células TCD8 específicas sem alterar o número de células TCD4 ativadas, que no caso do HIV-1 são células alvo para a replicação viral.
Para aqueles que estiverem com saudades de ler uns paperzinhos nas férias, vale a leitura do trabalho!




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