O tratamento da sepse continua sendo um dos grandes desafios da medicina atual. Apesar do avanço nos recursos tecnológicos de suporte intensivo e do desenvolvimento de agentes antimicrobianos mais potentes, as taxas de mortalidade na sepse grave tem persistido sem grandes mudanças nos últimos 30 anos. No final do ano passado, a indústria farmacêutica Eli Lilly anunciou a retirada voluntária do medicamento Xigris® (drotrecogina alfa ativada) do mercado mundial. A drotrecogina alfa era a única droga disponível no mercado destinada especificamente para o tratamento da sepse. Desta forma, a retirada da drotrecogina alfa marca o fim de outro capítulo na ingloriosa história da busca por um tratamento específico e eficaz para a sepse.
A drotrecogina alfa, uma forma recombinante da proteína C ativada humana com atividade anticoagulante e antiinflamatória, foi autorizada sob condições excepcionais na União Européia em 2002. O medicamento foi somente destinado para o tratamento da sepse grave, em pacientes adultos com disfunção múltipla de órgãos. Após reavaliação em 2007, o Comitê de Medicamentos de Uso Humano concluiu que os resultados iniciais de eficácia do ensaio clínico PROWESS não foram reproduzidos em estudos posteriores. Desta forma, foi solicitado a realização de um novo estudo clínico controlado para confirmar a relação risco-benefício do medicamento nos pacientes. A Eli Lilly aceitou elaborar o ensaio clínico, ao qual foi dado o nome PROWESS-SHOCK. A decisão de retirada da drotrecogina alfa do mercado deve-se aos resultados obtidos com o PROWESS-SHOCK, o qual não confirmou o benefício do medicamento em melhorar a sobrevida dos pacientes com sepse grave.
A única droga previamente aprovada para o tratamento da sepse antes da drotrecogina alfa tinha sido a HA-1A (centoxina), um anticorpo monoclonal humano contra LPS, em 1992. No entanto, a centoxina teve uma vida bem mais curta que a drotrecogina alfa, pois foi retirada do mercado, também por falta de confirmação do seu benefício, no ano seguinte a sua aprovação. No final, “the magic bullet” para o tratamento da sepse nos parece cada vez mais distante. Isto deve-se principalmente à falta de uma profunda compreensão da fisiopatologia desta síndrome. Atualmente, vários estudos clínicos com drogas para o tratamento da sepse estão em andamento. Destaco o estudo OASIS com a lactoferrina alfa, uma proteína com atividade imunomoduladora, e o estudo AZD9773 com um anticorpo anti-TNF. Vamos aguardar pelos resultados!
Referências:
1. Bernard GR et al. Efficacy and safety of recombinant human activated protein C for severe sepsis. N Engl J Med. 2001;344(10):699.
2. Mitka M. Drug for severe sepsis is withdrawn from market, fails to reduce mortality. JAMA. 2011; 306(22):2439-40.
3. Mullard A. Drug withdrawal sends critical care specialists back to basics. Lancet. 2011; 378(9805):1769.
Interessantes dados, Zeca. Qual sua opinião do possível papel das estatinas na sepse? Parece que tem muita discusão ao respeito... Esse aqui é um dos muitos estudos clinicos em andamento
ResponderExcluirhttp://www.anzctr.org.au/trial_view.aspx?ID=81692