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domingo, 26 de fevereiro de 2012

Desvendando os agentes secretos da saliva do carrapato

Os carrapatos são ectoparasitas que se alimentam de sangue e são capazes de suprimir a imunidade de seus hospedeiros pela secreção de moléculas imunomoduladoras presentes em sua saliva. Há muito tempo essas moléculas, de origem protéica ou não, vem sendo estudadas e suas funções identificadas, por exemplo as mucinas, cistatinas, defensinas, lectinas, ixostatinas, lipocalinas, prostaglandinas e endocanabinoides.

Algumas já foram melhor caracterizadas como as Sialostatina L e PGE2, as quais inibem a maturação de células dendríticas e impedem a apresentação de antígenos (SÁ-NUNES, et al., 2009 e 2007). DAP-36 e SALP15 inibem a ativação e proliferação de células T CD4 (BERGMAN, et al., 1995), sendo que a SALP 15 é capaz de inibir células T CD4 naives, suprimindo o influxo de cálcio e levando a uma sinalização prejudicada do TCR e inibição da transcrição do gene para IL-2 (ANGUITA, et al., 2002). Algumas moléculas, como ISL929 e ISL1373, reduzem o recrutamento de neutrófilos (GUO, X, et al., 2009) ou inibem a via alternativa do complemento, como a SALP20 (FRAUENSCHUH, et al., 2007). Outras, como adenosina e PGE2, são capazes de modular a resposta imune dos seus hospedeiros, o que possibilita a alimentação e a perpetuação do ciclo de vida desses ectoparasitas (OLIVEIRA, et al., 2011).

No entanto, o sucesso dessa alimentação não depende apenas da secreção de tais moléculas, mas sim de muitos outros fatores, como por exemplo, a utilização das proteínas salivares para formar o cone de cimento, estrutura essa que permite a fixação e manutenção do carrapato em seus hospedeiros. No ano passado foi demonstrado que o cone de cimento é composto por proteínas ricas em glicina (GRPs) e que diferentes espécies de carrapatos necessitam de diferentes tipos e quantidades dessas GRPs para a fixação e alimentação. Alguns carrapatos que possuem peças bucais pequenas, alcançando apenas a epiderme, expressam mais transcritos de GRPs que os que possuem peças bucais longas. Os que se alimentam em apenas um hospedeiro contêm maior variedade dessas proteínas que os que sugam vários hospedeiros (MARUYAMA, et al., 2010). As moléculas presentes na saliva do carrapato, secretadas na pele e a formação do cone de cimento são ilustradas na Figura.

Cabe lembrar que a saliva secretada pelas diferentes espécies de carrapatos ainda pode ser muito prejudicial aos seus hospedeiros, pois é ela que facilita a transmissão de patógenos causadores de muitas doenças em cães, bovinos ou humanos. Esse é um dos motivos que nos leva investigar as moléculas presentes na saliva e glândulas salivares com a finalidade de entender a biologia da relação hospedeiro/parasita, com a possibilidade de desenvolver medicamentos/vacinas que ajudem os hospedeiros a driblar essas ações moduladoras dos ectoparasitas.

Post de Nádia Caroline Sobrinho Gauna

IBA-FMRP-USP

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Um comentário:

  1. Legal, explicar melhor o mecanismo de modulação da saliva do carrapato ajudará principalmente no controle do parasito em bovinos Bos taurus. Parabéns...Abs

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