Post de Fabrine Sales Massafera Tristão, FMRP-USP
"Como as gestantes conseguem nutrir dentro de si mesmas, por muitas semanas ou meses, um feto que é um órgão antigenicamente estranho?".
Somente após quase 6 décadas, esta questão levantada por Peter Medawar em 1953, foi respondida... Um artigo publicado em março de 2004 na Nature Immunology (Aluvihare; Kallikourdis e Betz, 2004) demonstrou que um pool de células maternas CD25+ se expandem de modo independente de aloantígenos durante a gravidez de camundongas. Dentro deste pool celular, estão as células com atividade reguladora, as quais são responsáveis pela supressão da resposta alogênica contra o feto. De fato, na ausência de células Treg, a gestação foi interrompida por rejeição imunológica do feto.
E mais recentemente, a Science trouxe um artigo (Mold et al., dezembro de 2010) que também busca elucidar os mecanismos envolvidos na tolerância imunológica. Os autores mostram que as células T de adultos ou indivíduos em estágio fetal, incluindo as Treg, são populações distintas que se originam de diferentes progenitores hematopoiéticos (HSPCs, hematopoietic stem-progenitor cells) presentes nos diferentes estágios de desenvolvimento. Além disso, os autores demonstraram que as HSPCs fetais são mais propensas a se tornarem células T reguladoras do que os progenitores de adultos (Figura 1). Desta forma, o sistema imune fetal é direcionado para um estado de tolerância.
Este estudo não só tem implicações importantes para a compreensão de como o feto evita a resposta imune mãe-contra-feto (tolerância materno-fetal), mas também levanta questões sobre como o sistema imunitário humano é criado durante o desenvolvimento fetal e na fase adulta. Ou, como é colocado pelos próprios autores: “These observations offer a mechanistic explanation for the tolerogenic properties of the developing fetus and for variable degrees of immune responsiveness at birth."
Figura 1. Layers of immunity. Fetal hematopoietic stem-progenitor cells (HSPCs) generate a higher number of regulatory T cells than adult HSPCs, leading to a bias toward immune tolerance. It is not clear whether the fetal and adult HSPCs are distinct lineages or whether the adult pool arises from the fetal source. It is also not known when the transition in the ratio of T cells occurs, once lymphocyte production migrates from the fetal liver to fetal bone marrow.
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